Mais um escândalo envolvendo pedras preciosas atinge o casal Jair e Michelle Bolsonaro. Depois de descobrir doações financeiras de R$ 17 milhões via pix na conta do ex-presidente, a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 teve acesso a troca de mensagens de militares vinculados à Presidência, que demonstram que o casal recebeu um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas na cidade de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, em outubro do ano passado.
O caso foi revelado pela deputada federal Jandira Feghali na última terça-feira (1º), durante sessão da CPMI, da qual ela faz parte. Ontem (2), a parlamentar foi entrevistada em primeira mão sobre o assunto pelo ICL Notícias, live diária transmita via redes sociais, antes de a grande mídia embarcar na história.
“É inacreditável como a grande mídia não deu a repercussão devida a esse gravíssimo crime. Nós encontramos esses e-mails em meio a mil e-mails”, disse Jandira. “Na verdade, os ajudantes de ordens do Bolsonaro vão passando o serviço um para o outro quando acaba o turno por e-mail, e eles simplesmente deixaram registrado nesses e-mails, por incrível que pareça, onde era claro, explícito – eu li na sessão de ontem [anteontem] na CPMI, porque não posso repassar cópia -, em que eles dizem que o presidente recebeu um envelope de pedras preciosas e a primera-dama uma caixa de pedras preciosas [com a mensagem] guarde no cofre grande e não cadastrar”, complementou.
Segundo Jandira, a ex-primeira-dama é cúmplice de todo o processo, “tão corrupta quanto e vamos provar isso”.
Na edição desta quinta-feira (3), reportagem do jornal O Estado de S.Paulo diz que os e-mails foram trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk. Os três foram ajudantes de Ordem da Presidência da República durante o governo Bolsonaro.
Crivelatti era braço direito do tenente-coronel Mauro Cid, o “faz-tudo” do ex-presidente que está preso desde maio por inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 dele e de sua família e, também, da família de Bolsonaro no sistema do Ministério da Saúde.
Ainda segundo a reportagem, os dois e-mails são intitulados “Passagem do Serviço Coordenação AJO/PR. Observações eventuais”. As duas mensagens são listas numeradas com detalhes das atividades que os militares deveriam cumprir. A CPMI obteve trocas de e-mails entre 26 de outubro e 11 de novembro do ano passado.
Esse não é o primeiro caso envolvendo pedras preciosas e o casal Bolsonaro. Em março deste ano, veio à tona um escândalo envolvendo joias milionárias dadas de presente aos dois pelo governo da Arábia Saudita, as quais não haviam sido devidamente declaradas à Receita Federal e ao patrimônio público, como manda o protocolo legal.
E-mail revela que a pedido de Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, presente dado não deveria ser cadastrado
Segundo o Estadão, um e-mail de 27 de outubro, às 18h21, assinado pelo então coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência da República, Cleiton Henrique Holzschuk, intitulado “Presente PR”, trata das supostas pedras.
“Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01(um) envelope contendo pedras preciosas para o PR [presidente da República] e 01 9 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD [primeira-dama], recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele. Demais dúvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto”, indica a mensagem.
O e-mail de 31 de outubro, às 18h58, é assinado por Osmar Crivelatti. Nesta mensagem, as “pedras preciosas” são tratadas no item 24 da “passagem de serviço”, o que indica que outros afazeres que constavam da lista já haviam sido finalizados.
Bolsonaro esteve em Teófilo Otoni em 26 de outubro do ano passado, durante o segundo turno da campanha eleitoral contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela data, o então presidente discursou durante um comício, ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Crivelatti é, atualmente, um dos assessores pessoais de Bolsonaro. O militar entregou à Polícia Federal (PF) as armas que o ex-presidente recebeu dos Emirados Árabes Unidos com o advogado Paulo Cunha, que representa Bolsonaro.
As mensagens foram obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro na caixa de e-mails deletados do militar, que não havia apagado os itens do canal.
Na sessão da CPMI em que revelou a história, Jandira disse que “essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum”.
Ela requereu a convocação dos militares que assinam as mensagens à CPMI. A deputada também disse que vai denunciar o caso ao TCU (Tribunal de Contas da União), ao STF (Supremo Tribunal Federal) e à PF (Polícia Federal).
Também foi pedida a quebra de sigilo bancário da Michelle, do Bolsonaro e a movimentação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) dos dois. “Importante saber o volume de recursos que circularam”, disse a parlamentar.
Redação ICL Economia
Com informações do jornal O Estado de S Paulo