Pesquisa mostra pessimismo dos jovens com mercado de trabalho

Na prática, dados mostram que, em períodos de recessão, os jovens foram os que mais perderam renda e sofreram com o desemprego no mercado de trabalho
19 de outubro de 2022

Mesmo não acreditando no mercado de trabalho e na educação no Brasil, o jovem acha que, pessoalmente, ele estará bem no futuro, uma incoerência dos jovens captada em pesquisa. Jovens (67%), entre 15 e 29 anos, esperam que a situação pessoal deles esteja muito melhor daqui a dez anos. Também 65% acham o mesmo sobre a situação financeira deles. Só 25% acreditam que o Brasil terá desempenho semelhante no período. A Pesquisa Datafolha ouviu mil jovens, entre 15 e 29 anos, em 12 de algumas das maiores capitais do país, tendo a pesquisa margem de erro de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

No Brasil, 35,9% dos jovens estão sem trabalhar e sem estudar. É o segundo país com a maior proporção de jovens nessas condições. Com idade entre 18 e 24 anos, os jovens não conseguem nem emprego nem continuar os estudos. Os dados são do relatório Education at a Glance 2022, da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado no início de outubro. Dentro da faixa etária entre 18 e 24 anos, um em cada quatro jovens está desocupado no país.

Mesmo entre os jovens que ainda estudam ou estudaram, quase a metade (46%) não acredita que a escola os tenha preparado para ser bons profissionais. Grande parte dos que só trabalham (47%) ou trabalham e estudam (32%) o fazem em serviços gerais, que normalmente exigem menos qualificação e pagam salários menores no mercado de trabalho.

Na prática, a realidade da economia e, por consequência, o mercado de trabalho interferem na vida dos jovens. Dados mostram que, a partir da recessão de 2014/2016, os jovens trabalhadores foram os que mais perderam renda (-26,5% entre 2014 e 2019) e sofreram com o desemprego. A taxa de desocupação daqueles entre 18 e 24 anos era de 19,3% ao fim do segundo trimestre, mais que o dobro da média geral (9,3%).

Cada ano adicional de estudo no Brasil representa até 15% a mais na renda futura no mercado de trabalho

Segundo o Banco Mundial, cada ano adicional de estudo no Brasil representa até 15% a mais na renda futura no mercado de trabalho, acima dos 8% na média global. A diferença se dá pelo fato de o Brasil ter menos adultos qualificados; os que são acabam valendo mais.

Entre os jovens brasileiros, apenas 19% acham que estudar é a única forma de obter mais renda no futuro, enquanto 50% dizem que só podem conquistar o que desejam trabalhando. Como atenuante, 67% concordam que estudar é uma das formas de obter mais renda, mas não a única.

Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) mostram que a taxa de abandono escolar mais que dobrou em 2021, de 2,3% (2020) para 5,6%.

Em 69 universidades federais, dados do Inep mostram que o total de estudantes matriculados caiu de 1,3 milhão em 2019 para 1,2 milhão em 2020.

Com a pandemia, o Brasil foi um dos países que por mais tempo manteve as escolas fechadas, o que também refletiu negativamente nos dados do Inep para o desempenho dos alunos nas escolas, tanto públicas quanto privadas, já que o governo não ofereceu nenhum tipo de apoio aos estudantes, em especial aos mais pobres, para que pudessem acompanhar as aulas de casa.

Segundo o Datafolha, mais da metade (51%) dos jovens está fora da escola, embora a taxa seja menor entre os de 15 a 19 anos (21%). Na faixa de 20 a 24 anos, jovens que, em tese, deveriam estar na faculdade, 57% já não estudam mais. No Brasil, o curso superior representa, em termos salariais, uma multiplicação média de três vezes.

Dados da Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), que reúne 253 faculdades, mostram que nos últimos dez anos registram queda de até 40% no total de alunos. A estratégia das universidades tem sido modificar, criar e oferecer mais cursos voltados às demandas do mercado de trabalho.

O diretor da FGV Social, Marcelo Neri, explicou para a reportagem da Folha da S. Paulo que os jovens brasileiros sempre aparecem em pesquisas internacionais como os mais otimistas. Em levantamento Gallup em 117 países em 2020, brasileiros entre 15 e 29 anos deram nota de 8,9 (numa escala de 1 a 10) para suas expectativas cinco anos à frente. A média global era 7,5%. Para Neri, quando se é muito otimista, o risco é não fazer nem uma coisa nem outra. O diretor da FGV Social avisa que existem duas maneiras de subir na vida: estudar para ter um bom emprego e poupar. Por uma questão de falta de mão de obra ou pelo fato de serem bem mais conectados, pode ser que o jovem do futuro acabe valorizado.

Segundo o relatório Education at a Glance, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, só 8% dos jovens brasileiros concluem algum tipo de ensino técnico ou profissionalizante, ante 40% na média de 38 países.

Entre 2011 e 2016, no governo Dilma Rousseff, o Brasil chegou a investir R$ 38,5 bilhões no Pronatec para treinar 9,7 milhões de estudantes do ensino médio da rede pública e beneficiários de programas federais de renda.


Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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