A taxa média de juros cobrada no rotativo do cartão de crédito subiu para 430,5% ao ano em março, segundo dados do Banco Central (BC) divulgados nesta manhã de quarta-feira (26). Trata-se do maior patamar em seis anos, o que torna o cartão um dos principais vilões do bolso do brasileiro.
Segundo os dados divulgados pelo BC hoje, o aumento da taxa de juros do rotativo – quando a pessoa não paga todo o valor da fatura do cartão, empurrando a dívida mais para a frente – subiu 13,1 pontos percentuais em março na comparação com fevereiro (417,4%). Em março de 2017, a taxa da modalidade era de 490,3% ao ano.
O aumento é ocasionado, principalmente, devido à alta da taxa básica de juros (Selic), que é usada como referência para todas as demais taxas aplicadas no país. A Selic vem sendo alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por encarecer o crédito e prejudicar a retomada econômica no país. Ontem (25), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, esteve no Senado para explicar o motivo de a taxa básica, atualmente em 13,75% ao ano, estar tão alto, mas, ao fim e ao cabo, explicou muito pouco.
Atualmente, o rotativo é a linha de crédito mais cara do mercado, sendo recomendada por especialistas apenas em casos emergenciais.
O assunto tem sido debatido pela equipe econômica do governo Lula, e foi tema de reunião, em 17 de março, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Ferreira, e o presidente da CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), Rodrigo Maia. Contudo, nenhuma proposta foi apresentada na ocasião, segundo os participantes do encontro.
Ao fim da reunião, Haddad afirmou que foi discutido no encontro o atual modelo de cobrança dos juros para que haja uma compreensão dos problemas que todos enfrentam em relação a isso. “São muitos interlocutores, tem a bandeira, tem a maquininha, tem o banco, tem o lojista, tem muitos atores nesse processo”, disse Haddad na ocasião.
“Pedi celeridade porque é uma preocupação do presidente Lula, e eles pediram para envolver o Banco Central em virtude da regulação do produto”, acrescentou.
Segundo a Serasa Experian, o cartão de crédito segue sendo o principal motor das dívidas entre os inadimplentes. Dados do BC mostram inadimplência acima de 44% no rotativo do cartão de crédito para pessoas físicas no ano passado. É o maior percentual da série histórica, iniciada em março de 2011. A explicação está na alta da inflação e dos juros, que dificultam o pagamento de despesas básicas.
Além do rotativo do cartão, taxa do parcelado subiu para 192% em março
O aumento das taxas de juros estrangula cada vez mais o orçamento do brasileiro, que é obrigado a fazer a escolha menos pior. Desde 2017, os bancos são obrigados a transferir a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, que possui juros mais baixos, mas ainda assim, caros.
Nessa modalidade, o juro subiu para 192% ao ano em março, ante 189,6% ao ano no mês anterior – alta de 2,4 pontos percentuais. O conjunto significa que a taxa de juros total do cartão de crédito subiu 0,1 ponto para 101,7% em março.
Por outro lado, no cheque especial, a taxa de juros cobrada caiu 5,1 pontos em março, para 129,1%.
Com o desemprego e o orçamento apertado, os brasileiros ficam sem muitas opções para recorrer a linhas de crédito mais baratas, como o empréstimo consignado, pois as exigências dos bancos acabam dificultando o acesso. Desse modo, acabam recorrendo ao rotativo e ao cheque especial, por estarem facilmente disponíveis – razão pela qual cobram juros mais altos.
Como já dito, esse tema está no radar do governo, que deve formar um grupo de trabalho com integrantes da indústria do cartão de crédito e BC para aprofundar as causas do spread (diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada do cliente) no rotativo. O que se sabe até agora é que o tabelamento de taxas está fora de discussão para não trazer instabilidade ao mercado.
O hábito de parcelar compras no cartão de crédito também tem sido discutida, pois essa seria uma das razões que também levam aos juros altos na modalidade.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo