Lucro da Petrobras é 6 vezes maior em relação a petrolíferas internacionais

Sem uma ação efetiva do governo, seu maior acionista, a Petrobras está deixando de cumprir função social
15 de junho de 2022

Um levantamento mostra que a margem de lucro da Petrobras foi maior em comparação com petrolíferas estrangeiras no primeiro trimestre deste ano, chegando a conseguir um resultado quase seis vezes maior que o da PetroChina. O levantamento foi feito pela empresa de informações financeiras Economatica e divulgado pelo UOL.

A Petrobras lucrou, no primeiro trimestre de 2022, R$ 44,5 bilhões. Uma alta de 3.608% em relação ao mesmo período de 2021. A margem líquida (resultado da divisão do lucro líquido pela receita líquida) da empresa brasileira foi de 31,6%, enquanto as concorrentes tiveram no máximo 11,5%. Em relação à PetroChina, com margem líquida de 5,6%, o resultado da Petrobras é quase seis vezes maior.

Sem uma ação efetiva do governo, seu maior acionista, a Petrobras está deixando de cumprir função social e a constatação é de que, enquanto os brasileiros pagam altos preços pelos combustíveis, a empresa lucra mais e deixa de fazer investimentos para distribuir esse montante aos acionistas. No primeiro trimestre deste ano, a empresa distribuiu US$ 10,2 bilhões, quando a média das petroleiras internacionais foi de US$ 2,5 bilhões.

Entrevistado pelo UOL, o professor de economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Eduardo Costa Pinto, explica que o lucro da Petrobras cresce para além das demais, dado que a receita, oriunda da venda de combustíveis, sobe mais rapidamente que os custos da companhia na extração no pré-sal. “Pela receita, como a Petrobras mantém o PPI (Preço de Paridade Internacional), ela maximiza o lucro porque cobra o preço máximo possível [dos combustíveis]. E como ela faz isso? Acompanhando os níveis internacionais, com frete e imposto, e vendendo pelo preço de monopólio”, disse.

Governo não interfere na política de preços que só faz o lucro da Petrobras crescer

Pela política do Preço de Paridade Internacional (PPI), adotada no governo de Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro, os custos para o consumidor final sobem com a variação do câmbio e da cotação internacional do petróleo e, por consequência, também se elevam os lucros dos acionistas. O consumidor brasileiro já está pagando o preço da gasolina mais alto da história.

Preocupado com sua campanha pela reeleição, o presidente Bolsonaro diz estar incomodado com o lucro da Petrobras e os preços praticados nos combustíveis, mas não toma medidas efetivas. A União é a maior acionária da Petrobras e o governo tem o maior número de membros do Conselho de Administração e Fiscal da empresa, colegiado responsável por todas as definições da companhia. Assim, se quisesse, o governo poderia estabelecer uma nova política de preços.

Analistas econômicos explicam que, neste momento de crise econômica internacional com a alta do preço do barril do petróleo, seria justamente o momento de a estatal servir o país ao invés de distribuir dividendos recordes aos seus acionistas.

O professor Costa Pinto explica que o lucros da Petrobras se maximiza também pela redução dos custos ao longo dos últimos anos, principalmente na extração do petróleo. Hoje o custo está em torno de US$ 30 o barril. “Portanto, com o petróleo em alta [o barril estava cotado em cerca de US$ 123 na terça-feira, 14/6], o lucro sobe”.

Segundo ele, a distribuição tão grande de dividendos faz com que a empresa deixe de pensar em alternativas ao petróleo no longo prazo, para que seja garantida a transição energética. Hoje o pré-sal é uma grande “vaca leiteira” para a empresa e ela esquece que “se eu não invisto agora, não tenho capacidade de transformar oportunidades em vacas leiteiras”.

Em resposta à reportagem do UOL, a Petrobras informou que “assim como as demais empresas de petróleo e gás, apresentou resultados positivos no primeiro trimestre de 2022, refletindo a alta do preço do petróleo no mercado global”.

Redação ICL Economia
Com informações do UOL

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