Lucro do Bradesco cai 75,9% no 4º trimestre, após banco provisionar dívida de R$ 4,9 bi da Americanas. Eduardo Moreira explica manobra contábil

Ainda assim, banco lucrou R$ 1,6 bi no período. Segundo o economista do ICL Eduardo Moreira, instituições usam essa artimanha para não pagarem imposto sobre o valor
10 de fevereiro de 2023

O Bradesco registrou lucro recorrente de R$ 1,595 bilhão no quarto trimestre de 2022, queda de 75,9% na comparação anual. O lucro do Bradesco foi menor porque a instituição computou como perda a dívida de R$ 4,9 bilhões da rede Americanas. Não fosse isso, teria lucrado bilhões a mais. A propósito, o consenso Refinitiv previa ganho de R$ 4,404 bilhões para o período.

No ano de 2022, o lucro líquido recorrente do Bradesco ficou na casa dos R$ 20,7 bilhões, uma redução de 21,1% em relação a 2021. O lucro líquido contábil foi de R$ 1,437 bilhão no período, uma redução de 54,7% em relação ao mesmo período de 2021.

Na mensagem que acompanhou a divulgação dos resultados, o banco atribuiu os números ao “aumento rápido e relevante da inflação, com aumento das taxas de juros maior que o inicialmente antecipado, impactos no ciclo de crédito e um ambiente global de grande instabilidade política e econômica”.

lucro do bradesco

Reprodução ICL Notícias

No entanto, o economista, ex-banqueiro e fundador do ICL, Eduardo Moreira, disse na edição desta sexta-feira (10) do ICL Notícias, programa diário veiculado no YouTube, que os números divulgados pelo Bradesco escondem uma manobra contábil comumente utilizada. “O Bradesco considerou que perdeu os R$ 4,9 bi da Americanas, isso se chama provisão. Ele tirou [esse valor] do lucro. Mas você nunca perde tudo, você sempre recupera um pedaço, pode até vir a recuperar tudo”, explicou.

Segundo Moreira, o banco usa essa estratégia fundamentalmente para baixar o lucro e não pagar imposto sobre esse valor. “Então, ele já está usando o prejuízo das Americanas que não teve ainda para pagar menos imposto. É a malandragem do que eles chamam de planejamento tributário”, ressaltou.

Banco não cita nominalmente Americanas na divulgação dos resultados. Apesar disso, lucro do Bradesco continua bilionário

O balanço divulgado pelo Bradesco cita que a Provisão de Devedores Duvidosos (PDD) expandida totalizou R$ 14,881 bilhões no quarto trimestre, ante R$ 4,823 bilhões registrada no mesmo trimestre de 2021. Sem mencionar explicitamente o nome da Americanas, o Bradesco citou que fez 100% de provisionamento relacionado a um caso de  “um cliente Large Corporate específico”, ocorrido no início de 2023, no valor R$ 4,9 bilhões.

“A administração reavaliou os riscos inerentes e, de forma prudencial, provisionou 100% da operação, afetando o lucro do 4T22”, diz o comunicado. Sem levar em conta essa provisão, o ROAE (Retorno sobre Patrimônio Médio) do trimestre teria sido de 10,3%.

O Bradesco é um dos credores da dívida bilionária da rede Americanas, que chega à casa dos R$ 50 bilhões. A instituição havia entrado com um pedido na Justiça, o qual foi negado, para ter acesso aos e-mails de diretores e funcionários da varejista, com o intuito de produzir provas a respeito do rombo bilionário que levou a empresa a entrar em recuperação judicial.

O juiz da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Alexandre Mesquita, derrubou no último dia 3 uma decisão da Justiça paulista, que garantia ao Bradesco acessar os e-mails, pelo fato de o foro competente para a decisão não ser São Paulo e, sim, o Rio de Janeiro.

O Bradesco também apontou no quarto trimestre crescimento de 0,4 ponto percentual, para 4,1%, no índice de inadimplência para empréstimos acima de 90 dias em relação ao terceiro trimestre. Na comparação com dezembro de 2021, a inadimplência teve alta de 1,5 ponto percentual. Também houve piora nas dívidas vencidas entre 15 e 90 dias, que passaram de 3,6% no terceiro trimestre para 4,1%.

No final do quarto trimestre de 2022, os ativos do conglomerado somavam R$ 1,830 trilhão, um aumento de 8% em base anual, e contração de 3,2% em termos trimestrais.

O patrimônio líquido do Bradesco era de R$ 154,263 bilhões em dezembro, variação positiva de 4,9% em 12 meses, mas queda de 1,7% em três.

Para este ano, a expectativa do Bradesco é de alta na sua Carteira de Crédito Expandida de 6,5% a 9,5%, uma Margem Financeira Total de 7% a 11%, e avanço nas Receitas de Prestação de Serviços  de 2% a 6%.

As Despesas Operacionais (Despesas de Pessoal + Administrativas + Outras) têm uma expectativa de avanço de 9% a 13%, com o banco reiterando que as Despesas administrativas e de pessoal crescem em linha com a inflação. Já o Resultado das Operações de Seguros, Previdência e Capitalização deve crescer de 6% a 10%.

Por fim, projetam uma PDD Expandida de R$ 36,5 bilhões a R$ 39,5 bilhões.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do Infomoney

 

 

 

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