O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou, nesta manhã de segunda-feira (21), em Johanesburgo, na África do Sul, para participar da cúpula dos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que vai ocorrer de terça-feira a quinta-feira (22 a 24). Um dos principais temas a ser discutido é a adesão de novos membros ao grupo.
O petista desembarcou nesta manhã ao lado da primeira-dama, Janja Lula da Silva, e da ex-presidenta Dilma Rousseff, que preside o banco dos Brics. Entre os ministros, o mandatário da Fazenda, Fernando Haddad, também vai participar da cúpula.
Além deles, um grupo de 30 industriais brasileiros viajou para a África do Sul para participar de reuniões com empresários de outros países que compõem os países-membros do Brics. Os encontros do Conselho Empresarial dos Brics (Cebrics) estão sendo realizados em Joanesburgo até a próxima quarta-feira.
A China é um dos principais parceiros do Brasil, mas agora, outro foco dos empresários brasileiros é aproveitar oportunidades oferecidas pelos outros três países, principalmente, pela Índia.
“A Índia deverá apresentar um desenvolvimento e crescimento econômico bastante vigoroso nos próximos anos. Seria muito interessante que pudéssemos compartilhar desse crescimento e tivéssemos uma maior amplitude não só comercial como também de investimentos mútuos”, disse o presidente eleito da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, em entrevista à Agência Brasil.
A reunião dos Brics contará com as presenças do presidente Lula, do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, do dirigente chinês, Xi Jinping, e do líder da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Eles vão analisar, entre outros assuntos, a adesão de novos membros e o ritmo de expansão do bloco.
Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, os países candidatos a aderir aos Brics são: Argélia, Argentina, Bangladesh, Barein, Belarus, Bolívia, Cuba, Egito, Etiópia, Honduras, Indonésia, Irã, Cazaquistão, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Arábia Saudita, Senegal, Palestina, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e Vietnã.
Outro aspecto a ser abordado é se o Brics assumirá caráter mais político de contraposição a Estados Unidos e G7. Isso porque entre os mais de 20 candidatos a entrar no clube há países que antagonizam frontalmente com Washington, como Venezuela, Cuba, Irã e a Belarus, forte aliada de Moscou contra a Ucrânia.
Expansão do Brics sempre esteve na agenda do bloco. A própria África do Sul entrou depois
A expansão do bloco sempre esteve na agenda do Brics. Vale lembrar que a própria África do Sul aderiu ao Brics no final de 2010, um ano e meio depois da primeira cúpula do clube, na Rússia. A ampliação é um projeto de longa data impulsionado pela China, mas enfrentava resistência dos demais sócios.
De lá para cá, muita água rolou por debaixo da ponte da geopolítica mundial. A China é hoje a segunda maior economia global e, portanto, seu poder de influência aumentou. Em guerra contra a Ucrânia, a Rússia precisa do apoio chinês e não deve ser obstáculo à expansão do bloco. A África do Sul encara situação semelhante, com seu papel de liderança regional questionado diante de economias mais poderosas no continente africano.
Até então mais resistentes à expansão, Brasil e Índia têm emitido sinais de maior flexibilidade. Conforme publicado pela Folha, recentemente, o chanceler indiano, Subrahmanyam Jaishankar, disse ver com a “mente aberta” a possibilidade de expansão, desde que haja regras para embasar as incorporações. Interlocutores dizem que o país se mostra disposto a aceitar o ingresso de alguns dos candidatos, como os do Golfo.
Lula, por sua vez, deu declarações citando Arábia Saudita, Venezuela e Argentina como possíveis novos membros do Brics, o que colocou em xeque a posição do Itamaraty contra a expansão. Assim, a chancelaria brasileira tem negociado critérios para ao menos arrancar compromissos em troca da ampliação do bloco.
Agora, diplomatas dos países-membros debatem sobre os termos e circunstâncias dessa adesão. O Brasil, por exemplo, quer que os novos sócios declarem apoio à causa da reforma dos atuais mecanismos de governança internacional, entre os quais o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), além da defesa de uma arquitetura que preserve algum tipo de equilíbrio geopolítico.
Assessores de Lula veem o Brics como crucial na estratégia do Brasil de lutar por instituições internacionais que reflitam o atual caráter multipolar do mundo. Os auxiliares do petista dizem que o arranjo atual — seja no Conselho de Segurança ou em fóruns econômicos — não abre espaço para países emergentes e responde prioritariamente aos interesses dos EUA e de seus aliados europeus.
Criação de moeda alternativa ao dólar também está entre os planos do bloco
Entre as propostas defendidas por Lula para fortalecer o bloco está a criação de uma moeda alternativa ao dólar americano no comércio internacional entre os países do Brics.
Em visita à China em abril deste ano, o mandatário brasileiro afirmou ainda que os demais países poderiam usar as próprias moedas nas relações comerciais, sem utilizar o dólar, “e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso”. Lula avalia que a união de países emergentes é capaz de gerar mudanças econômicas e sociais relevantes para o mundo.
Na opinião do governo brasileiro, o Brics alcançou, ao longo da sua trajetória, resultados que vão além da coordenação política e dos comunicados conjuntos. O principal deles é o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), presidido por Dilma, que financia projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países do bloco.
Mesmo com carteira inferior à de outros bancos multilaterais, trata-se de uma instituição integralmente controlada por países emergentes, que sobrevive há quase dez anos e que passa por um processo de expansão próprio.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S Paulo e da Agência Brasil