Lula volta a criticar autonomia do Banco Central em entrevista, mas diz que mudança não está na pauta

À Rede TV!, o presidente questionou: "O povo tá melhorando de vida? Não! Então eu quero saber de que serviu a independência (do BC)".
3 de fevereiro de 2023

Em entrevista a um canal de televisão ontem à noite (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a autonomia do Banco Central, indicando que pode avaliar mudanças no regime após o fim do mandato de Roberto Campos Neto à frente da autoridade monetária, em 2024. Contudo, ele salientou que, hoje, o assunto não está em pauta. “O povo tá melhorando de vida? Não! Então eu quero saber de que serviu a independência (do Banco Central). Eu vou esperar esse cidadão terminar o mandato dele para fazermos uma avaliação. O que significou o banco central independente?”, disse Lula à Rede TV.

Quando questionado se poderia haver mesmo mudanças em relação à autonomia, que existe desde 2021, Lula disse: “Eu acho que pode, mas… quero dizer que isso é irrelevante para mim. Isso é irrelevante, isso não está na minha pauta. O que está na pauta é a questão da taxa de juro”, frisou.

Não foi a primeira vez que o presidente faz críticas nesse sentido. Em entrevista no mês passado ao canal pago Globonews, ele também criticou a autonomia do Banco Central, principalmente devido ao regime de metas de inflação e aos juros altos. Depois dessa entrevista, o ministro de Relações Institucionais do governo, Alexandre Padilha, postou em sua conta oficial no Twitter mensagens dizendo que o presidente não pretende mexer na autonomia do Banco Central. “O governo sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do Banco Central são de extrema importância. E, também por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar sendo a ordem dessa gestão”, escreveu Padilha.

A declaração de Lula ocorre na semana em que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela quarta vez. Embora a decisão fosse esperada pelo mercado, a taxa de juros do Brasil só perde para a da Argentina como a maior do mundo e, nesse aspecto, é preciso descontar todas as idiossincrasias da economia do país vizinho.

Quando se fala em taxa de juros real (descontada a inflação), o Brasil segue na liderança mundial, com 7,38% na base anual. Isso significa encarecimento do crédito e dos investimentos, o que prejudica a geração de emprego e renda e, consequentemente, puxa o freio da economia e complica ainda mais a vida, principalmente de quem é mais pobre.

Do ponto de vista de Lula, começar um governo com juros dessa monta é bastante ruim, especialmente com tanto trabalho a ser feito para consertar a terra arrasada deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mais que a autonomia do Banco Central, presidente quer discutir com empresariado e bancos taxa de juros no Brasil

No comunicado divulgado com a decisão da quarta-feira, o Copom indicou que “seguirá vigilante”, indicando que os juros podem ficar altos por mais tempo que o previsto. Isso porque a autoridade monetária segue pressionada por uma perspectiva de inflação mais elevada este ano.

No último Relatório Focus do Banco Central, as instituições financeiras elevaram para 5,74% a expectativa de inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2023. Portanto, acima do teto da meta para o ano, de 4,75%. Se for confirmada a projeção, será o terceiro estouro consecutivo da meta do BC.

“Eu vou fazer uma reunião com alguns empresários, pretendo fazer uma reunião com alguns bancos, para a gente discutir com muita seriedade a taxa de juros nesse Brasil. Não existe nenhuma razão para a taxa de juros estar em 13,75%, nenhuma razão”, disse Lula na entrevista à Rede TV!.

Ainda sobre a autonomia do Banco Central, ele disse ser uma “bobagem” a discussão sobre “acabar” com a autonomia do Banco Central, e lembrou da sua relação com Henrique Meirelles, que foi presidente da instituição entre janeiro de 2003 a janeiro de 2011, ou seja, ao longo dos dois primeiros mandatos do petista.

“O Meirelles teve toda a autonomia para fazer a política monetária. Acontece que nós conversávamos”, lembrou Lula. “Agora você tem uma meta que é ilusória, você não a cumpre e fica prejudicando o crescimento do país. Isso é normal? Vamos perguntar para o presidente da Câmara (Arthur Lira) e para o presidente do Senado (Rodrigo Pacheco) se eles estão felizes com a atuação do presidente do Banco Central. Porque eu acho que eles imaginavam que fazendo o Banco Central autônomo, a economia iria voltar a crescer”, disse o petista.

A autonomia do BC foi sancionada, em 2021, por Bolsonaro. O presidente e diretores da autoridade monetária, por regra, passaram a ter cargos fixos de quatro anos, não coincidentes com o mandato do presidente da República.

Outro assunto abordado por Lula na entrevista foi o imbróglio envolvendo a rede Americanas. Lula comparou o bilionário Jorge Paulo Lemman, um dos acionistas de referência da rede varejista, ao empresário Eike Batista, do grupo EBX, e classificou a crise da empresa como uma “fraude”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.