Em café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a dar uma alfinetada no Banco Central, diante das recentes justificativas da autoridade monetária sobre o porquê não reduz a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75%. Lula disse que se o problema é a meta de inflação, “muda-se a meta”.
Pode-se dizer que a fala de Lula, que tem feito críticas constantes ao atual patamar dos juros no Brasil, assim como empresários, economistas e representantes de trabalhadores, é uma resposta às recentes declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Durante uma coletiva de imprensa para apresentar o Relatório Trimestral de Inflação, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou que “se fosse cumprir a meta de inflação em 2023, teria que ter juro de 26,5%” e alegou que a instituição está buscando “um processo de suavização” no cumprimento da meta.
O próprio relatório do BC, divulgado em 30 de março, prevê estouro da meta pela terceira vez seguida. A inflação prevista para este ano é de 5,8%. Pelo sistema de metas, o alvo fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para 2023 é de 3,25%, com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo. Caso a taxa básica de juros (Selic) seja mantida no patamar atual (13,75%), a estimativa de inflação cai para 5,7%, segundo as projeções.
Como tem alertado alguns economistas e o próprio Lula, a própria declaração de Campos Neto demonstra que a própria autoridade monetária criou uma armadilha ao manter os juros em patamares tão altos. Por isso, o presidente Lula disse hoje que talvez mudar a meta seja o caminho para baixar os juros, uma vez que o presidente do BC disse que, nem mesmo o arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos (regra fiscal que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do período anterior), será suficiente para baixar os juros.
Na conversa com os jornalistas, o petista criticou a hipótese de se elevar ainda mais os juros para cumprir a meta e, também, a política de juros do BC. “Esses dias, eu li uma frase que eu não sei se foi dita pelo presidente do Banco Central que, para atingir a meta de 3%, precisaria de juro de 20% [Campos Neto falou em 26,5%]. Não sei se foi verdade isso, mas no mínimo é uma coisa não razoável. Porque se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta”, disse.
Apesar de indicar a mudança da meta de inflação, Lula diz que não quer discutir o assunto
Embora tenha feito a crítica, Lula sinalizou trégua na queda de braço com o BC e seu presidente. “Eu disse que não ia discutir meta, porque esse é um problema da autonomia do Banco Central e do Senado, que aprovou a autonomia do Banco Central. Ele [Campos Neto] que tenha a sua autonomia, e o povo brasileiro que fique analisando”, disse.
Vale lembrar que, recentemente, pesquisa Datafolha mostrou que 80% da população concorda com pressão de Lula sobre o BC para baixar a taxa de juros. O levantamento também apontou que 71% dizem que juros estão mais altos do que deveria.
A meta de inflação é determinada pelo CMN, que é composto pelo presidente do BC e por dois ministros: Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento). Ou seja, Lula tem maioria para mudar a meta, mas há a questão de querer não interferir na autonomia da autoridade monetária.
Em janeiro, o presidente já havia mencionado a possibilidade de mudar a meta em uma entrevista concedida à GloboNews. Mas na última reunião do CMN, em fevereiro, o conselho manteve a meta como está.
Ainda sobre a meta, Lula disse aos jornalistas nesta manhã que, durante o seu governo, estabeleceu e cumpriu todas as metas. “Eu já fui presidente da República. Já discuti com o Banco Central. Já estabeleci meta neste país. Já cumprimos a meta. Se você estabelecer uma meta para a sua vida e não cumprir, então você está mentindo para si mesmo”, disse.
Sobre o mesmo tópico, Lula disse que seu governo vai “encontrar um jeito [para] que o Banco Central comece a reduzir a taxa de juros. Não é compreensível, porque não temos inflação de demanda”, argumentou contra o qual o presidente do BC discordou em entrevista ontem (5).
Lula diz estar satisfeito com o novo arcabouço fiscal
No café da manhã, o presidente também comentou sobre o arcabouço fiscal, nova regra para equilibrar as contas e os gastos do governo, que deve ser entregue ao Congresso na próxima semana. “Foi uma engenharia muito bem pensada pela equipe do companheiro Fernando Haddad. Estou convencido de que, como foi articulada e conversada por todos setores políticos, nós vamos conseguir aprovar.”
Na próxima semana, ele disse que também pretende discutir a criação de uma nova política de estímulo ao crédito. “Não é possível um país continuar assim. Nós vamos ter que discutir com muita clareza […] a criação de uma política de crédito para o pequeno e médio empreendedor, cooperativas, agronegócio, para os pequenos e médios empresários, para a agricultura familiar.”
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo