Relatório do BC projeta estouro da meta de inflação pela 3ª vez este ano, em clara demonstração de que manter Selic nas alturas não está funcionando

No relatório trimestral de inflação, divulgado hoje, BC trouxe também a revisão do crescimento do PIB para cima, de 1% para 1,2%, devido principalmente a surpresas positivas no setor de serviços
30 de março de 2023

O relatório trimestral divulgado pelo Banco Central (BC) nesta manhã de quinta-feira (30), prevê estouro da meta de inflação este ano. Se as projeções do BC se concretizarem, será a terceira vez seguida que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficará acima da meta de inflação. A probabilidade de o indicador ficar acima da meta é de 83%, o que demonstra que manter a política monetária adotada pelo BC não está funcionando da maneira esperada. Na versão anterior, de dezembro de 2022, a projeção indicava 57% de chance de isso acontecer.

A inflação prevista para este ano é de 5,8%. Pelo sistema de metas, o alvo fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para 2023 é de 3,25%, com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo. Caso a taxa básica de juros (Selic) seja mantida no patamar atual (13,75%), a estimativa de inflação cai para 5,7%.

Quando a inflação anual fica fora do intervalo de tolerância, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, precisa escrever uma carta ao ministro da Fazenda explicando as razões para o descumprimento do objetivo.

Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida. A fórmula que vem sendo usada para tentar controlar a inflação tem sido alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), membros de seu governo, empresários, trabalhadores e economistas. Para eles, não faz sentido manter o Brasil com o juro real mais alto do mundo (descontada a inflação), uma vez que a inflação de demanda não está no centro do foco.

Em artigo, os economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli disseram que as incertezas globais e “um cenário interno com falta de crédito, demanda e baixo nível de renda”, exige que se atue “para mudar rapidamente o cenário”. Segundo ele, “parte disso tem a ver com a política monetária adotada. Porém, mesmo com todos os sinais, o BC parece ignorar solenemente a situação e atuar de forma birrenta na condução da definição da taxa de juros no país”.

O resultado dessa postura, que ficou claro na ata da última reunião do Copom, é que, a despeito da bolsa caindo e das incertezas sobre o futuro, o mercado prefere culpar o presidente Lula. “O Copom ignora a realidade, que está mais evidente do que nunca, mas tem suporte nas visões distorcidas dos analistas de mercado da Faria Lima e tem suporte para suas ações. A inflação não tem nada de excesso de demanda, mas suporta sua decisão numa chamada ‘ancoragem de expectativas’, como se o padeiro fosse elevar o preço do seu pão caso a taxa de juros fosse reduzida. Além disso, voltou a se falar que é preciso responsabilidade fiscal para poder ser cogitada a taxa de juros. Ou seja, caso o governo não garanta que nada ou quase nada será feito pelo povo brasileiro, este não vai abaixar a taxa de juros”, criticaram os economistas do ICL.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontaram que o índice oficial de inflação do Brasil acelerou em fevereiro para 0,84%, com a pressão dos reajustes na área de educação. Em 12 meses, o IPCA passou a acumular alta de 5,6%.

Mas, na prévia de março, a inflação desacelerou. A pressão exercida pelo preço dos combustíveis compensou o aumento mais fraco dos preços de alimentos.

Para 2024 e 2025, o BC vê chance de 26% e 17%, respectivamente, para a inflação ficar acima do teto da meta (3%, com variação de 1,5 ponto percentual para mais e para menos).

Apesar do estouro da meta, BC reviu para cima projeção para o crescimento da economia brasileira

O relatório trimestral de inflação do BC trouxe também a revisão do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para cima, de 1% para 1,2%.

As projeções mostram que a revisão moderada do indicador reflete “surpresas positivas em alguns componentes do setor de serviços no quarto trimestre de 2022”, além de melhora nos “prognósticos para a indústria extrativa e os primeiros indicadores do primeiro bimestre de 2023”.

“Apesar da revisão, a projeção continua refletindo cenário prospectivo de desaceleração da atividade econômica em 2023, na comparação com os dois anos anteriores. Espera-se que o crescimento no ano tenha contribuição relevante do setor agropecuário”, diz o documento.

A estimativa do BC para o PIB é menos otimista que a do Ministério da Fazenda, que calcula expansão de 1,61% em 2023. Já o mercado financeiro, de acordo com o último relatório Focus, projeta crescimento de 0,9% para este ano.

O BC também reviu o cenário de crédito, projetando crescimento do saldo para 7,6%, ante 8,3% na estimativa feita em dezembro. No relatório, o BC reconhece que a inadimplência tem apresentado crescimento relevante, principalmente devido ao aumento do uso do cartão de crédito rotativo, cujos custos são altíssimos.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias 

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