O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta terça-feira (18), de modo bastante enfático, o comportamento do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em entrevista ao Jornal da CBN, da Rádio CBN, Lula disse que o presidente da autoridade monetária tem “lado político” e “trabalha para prejudicar o país”.
“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou o presidente.
A fala de Lula acontece no mesmo dia em que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central começa a sua reunião e, ao que tudo indica, a taxa básica de juros, a Selic, deve ser mantida no atual patamar, de 10,50%.
Nos últimos meses, o presidente do BC tem participado de diversos eventos, dentro e fora do país, jogando um certo terror em potenciais investidores a respeito da situação fiscal do país.
Ao mesmo tempo, tem participado de jantares oferecidos a ele, como o que aconteceu na casa do apresentador Luciano Huck em maio e, mais recentemente, no Palácio dos Bandeirantes, oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas, de quem pode ser eventual ministro da Fazenda, se o bolsonarista sair candidato à Presidência da República nas eleições de 2026.
A propósito da taxa de juros, o presidente reforçou na entrevista o mesmo que vem dizendo desde o início de seu mandato, quando a Selic estava em 13,75%, patamar em que foi mantida por um ano.
“Temos situação que não necessita essa taxa de juros. Taxa proibitiva de investimento no setor produtivo. É preciso baixar a taxa de juros compatível com a inflação. Inflação está controlada. Vamos trabalhar em cima do real”, completou.
“Eu já lidei muito tempo com o Banco Central e o Meirelles [Henrique Meirelles] é o meu primeiro Banco Central, e eu duvido que esse Roberto Campos tenha mais autonomia do que tinha o Meirelles. Duvido! Duvido! O que é importante saber é a quem esse rapaz é submetido. Como é que ele vai numa festa em São Paulo, quase que assumindo a candidatura a um cargo do governo? Cadê a autonomia dele? Então, veja, eu trato com muita seriedade. Muita seriedade”, complementou.
Sobre o encontro de Campos Neto com Tarcísio de Freitas, Lula ironizou: “A festa foi do Tarcísio pra ele [Campos Neto]. Homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque governador de São Paulo acha maravilhoso taxa de juros de 10,50%. Quando ele se ‘autolança’ a um cargo. Vamos repetir o Moro [senador Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato]? Presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Paladino da justiça com rabo preso”, disse.
Lula fala sobre escolha de novo presidente do Banco Central
Como o mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro deste ano, o presidente será o responsável pela indicação do sucessor dele. A respeito disso, Lula disse que indicará para a presidência do Banco Central uma pessoa que tenha “compromisso com o crescimento do país”.
“Vou escolher um presidente do Banco Central que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse país, com o controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que a gente não tem só que pensar no controle da inflação, a gente tem que pensar também numa meta de crescimento. Porque é o crescimento econômico, é o crescimento da massa salarial que vai permitir que a gente possa controlar a inflação com uma certa tranquilidade”, disse.
Veja o que mais o presidente Lula falou na entrevista
Revisão de gastos: o presidente foi questionado a respeito do corte de gastos do governo, tema sobre o qual os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) estão se debruçando. Lula disse que o governo prepara uma proposta de Orçamento para encaminhar ao Congresso, mas não deu detalhes sobre redução de despesas. Disse apenas que, nessa seara, nada “é descartável”, quando questionado sobre gastos com a Previdência, despesas com saúde e educação e aposentadoria de militares. “Nada é descartável. Eu sou um político muito pragmático. A hora que mostrarem provas que coisas estão erradas, a gente vai mudar”, declarou.
“Estamos fazendo um estudo muito sério sobre o orçamento. Não gosto de gastar aquilo que eu não tenho”, afirmou Lula. “A equipe econômica tem que me apresentar as necessidades de corte. Ontem (17), quando eu vi a demonstração [da ministra do Planejamento, Simone Tebet], disse para ela que fiquei perplexo. A gente discutindo corte de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões aqui e, de repente, você descobre que que tem R$ 546 bilhões de benefício fiscal para os ricos nesse país, como é que é possível? Você pega, por exemplo, a Confederação da Agricultura, que tem uma isenção de quase R$ 60 bilhões, pega setor de combustível que tem isenção de quase R$ 32 bilhões, ou seja, você vai tentar jogar isso em cima de quem? Do aposentado? Do pescador? Da dona de casa? Da empregada doméstica? Então quero discutir com seriedade”, frisou o presidente.
Cobranças do mercado financeiro: Lula também abordou a cobrança que seu governo sofre do mercado e da imprensa para reduzir os gastos. Ele afirmou que as pessoas que pedem pelo “equilíbrio fiscal” não querem abrir mão dos próprios benefícios e defendem que os ajustes sejam feitos nas políticas que beneficiam os mais pobres.
“As pessoas que falam que é preciso parar de gastar são as que que tem R$ 546 bi de isenção, de desoneração da folha de pagamentos. São os ricos que se empoderam de uma parte do orçamento do país e eles se queixam do que você está gastando com o povo pobre. Não me venham querer que se faça ajuste em cima do povo pobre deste país”, disse.
Desoneração da folha de pagamentos dos 17 setores da economia: sobre esse tema, Lula afirmou que é preciso haver uma contrapartida dos empresários para garantir a estabilidade e aumento na qualidade de vida dos trabalhadores. “Qual é a contrapartida que esses setores dão para o trabalhador? Qual é a estabilidade no emprego que eles garantem? Qual é o aumento de salário que eles garantem? Nenhuma. Apenas pegam a isenção fiscal, sem nenhum compromisso com o povo trabalhador, para aumentar o lucro”, disse.
Previdência: Lula também afirmou que é preciso fazer ajustes em diferentes áreas para comportar os gastos com a previdência, que vão aumentar nos próximos anos. “Temos quase R$ 1 trilhão com a Previdência Social. É muito. Agora, se tem muita gente em idade de se aposentar, vai sempre aumentar. O que é muito é você ter quase R$ 600 bi de isenção, quase R$ 600 bi de desoneração, É preciso consertar e a gente vai consertar dos dois lados”, enfatizou.
Orçamento de 2025: Lula disse “estar disposto” a discutir o orçamento do ano que vem com a maior “seriedade”. “Estou disposto a discutir o orçamento com a maior seriedade com a Câmara, com o Senado, com a imprensa, com os empresários, com os banqueiros, mas para que a gente faça com que o povo mais humilde e trabalhador não seja prejudicado como em alguns momentos da história foi”, afirmou.
Taxa sobre compras de até US$ 50, conhecida como “taxa das blusinhas“: o presidente disse ser contrário à tributação. Na contramão, afirmou que assumiu um compromisso com a medida provisória (MP) que altera regras do PIS/Cofins. “Por que taxar o pobre e não taxa o cara que vai ao free shop gastar US$ 1 mil? Essa foi minha divergência, por isso vetei, houve acordo e eu assumi compromisso que eu aceitaria PIS e Cofins que dá mais ou menos 20%. Isso tá garantido. Eu pessoalmente, acho equivocado a gente taxar as pessoas humildes.”
Para assistir à entrevista completa, veja o vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações da Rádio CBN