O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe nesta quarta-feira (3) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em conjunto com outros membros da equipe econômica do governo, para discutir a pauta fiscal. As recentes altas do dólar também devem estar na mesa, conforme disse ontem o próprio presidente Lula em entrevista a uma rádio da Bahia.
“A nossa agenda com o presidente [nesta quarta] é exclusivamente fiscal, para apresentar propostas para cumprimento do arcabouço de 2024, 2025 e 2026”, adiantou Haddad ontem (2) a jornalistas.
Porém, ontem Lula disse na entrevista: “Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação”, disse o presidente. “Tenho conversado com as pessoas o que a gente vai fazer. Eu estou voltando [a Brasília], quarta-feira (3) vou ter uma reunião, porque não é normal o que está acontecendo”, afirmou.
O encontro ocorre em meio a política monetária “terrorista” adotada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O objetivo de Campos Neto, que nunca fez questão de esconder que militou pela reeleição de Jair Bolsonaro, é provocar a desvalorização, estimular a inflação e forçar uma nova alta dos juros, para sabotar o governo de Lula, seu adversário político.
O valor do dólar subiu a R$ 5,66 ontem (2) devido à falta de ação do Banco Central, o que levou a moeda norte-americana às alturas em meio às especulações do mercado financeiro sobre um suposto risco fiscal.
Na noite de segunda-feira (1º), Haddad já havia comentado sobre o fato. Segundo ele, há “muito ruídos” na comunicação do governo e necessidade de se comunicar melhor os resultados econômicos do país.
No Congresso Nacional, o clima também é de preocupação. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) alertou ontem (2) que os parlamentares precisam se articular para denunciar a política monetária adotada pelo presidente do Banco Central.
“Querem desestabilizar o governo. Não vão conseguir. Os números vão se impor. Chamo a atenção deste Parlamento: que haja uma reação. Há uma política de sabotagem. Campos Neto trabalha para o governo dar errado. É uma ação orquestrada estimulada pelo presidente do Banco Central”, afirmou o petista em discurso na Câmara.
“Há claramente uma postura de sabotagem contra o Brasil, um ataque especulativo ao real. Ele tem que intervir no mercado de câmbio. Querem comprar uma crise”.
Valorização de títulos americanos eleva dólar no Brasil, diz professor
O dólar está em alta no mundo todo refletindo os juros nos EUA e tensões eleitorais na maior economia do mundo. Mas o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, disse que a alta da moeda norte-americana por aqui é fruto, sim, de um movimento especulativo.
Na avaliação do professor de finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Renan Pieri, a manutenção dos juros altos e a valorização dos títulos públicos nos Estados Unidos estão entre as principais razões para a alta do dólar no Brasil.
“A alta do dólar tem relação com a valorização dos títulos públicos americanos, muito no cenário de manutenção de juros altos nos Estados Unidos, com a expectativa de um momento mais difícil na eleição [presidencial], também por conta do mercado aquecido lá. Os juros mais altos, essa rentabilidade maior dos títulos americanos, atrai capital para lá e tira dinheiro do Brasil”, disse.
Parte da alta do dólar também se deve a questões internas, como a expectativa do mercado financeiro sobre o anúncio de medidas de corte de gastos para o Orçamento de 2025 e do contingenciamento de verbas públicas para o orçamento deste ano.
“A questão fiscal do Brasil faz com que o mercado comece a acreditar que o governo vai ter muita dificuldade de cumprir o novo arcabouço fiscal, o método de superávit primário e, portanto, passa a cobrar um prêmio maior para manter os investimentos aqui”, ressaltou.
De acordo com ele, se esse “prêmio” não se traduzir em juros mais altos, haverá saída de capital do país. “Saída de capital do país significa que os investidores acreditam menos no futuro do Brasil no longo prazo”.
Mercado quer influenciar escolha de futuro presidente do BC
Mas a professora de economia política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Malta, atribui a elevação do preço do dólar, entre outras coisas, com a queda de braço que os grandes bancos e instituições financeiras estão fazendo para influenciar a decisão sobre o próximo presidente do Banco Central.
“O que está havendo é um jogo político pré-eleitoral em um contexto de avanço da extrema-direita no mundo. Neste jogo, o setor financeiro pretende obter uma parte ainda maior das rendas do país e ampliar seu poder e riqueza”, destacou.
Ela acrescenta que, para a estrutura econômica brasileira, a desvalorização do real melhora a situação do país “em termos de exportações, juros mais baixos diminuem os custos internos da dívida pública e estimulam a tomada do crédito produtivo”.
O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro e um dos cotados a assumir a vaga dele é Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC.
Na mesma linha de raciocínio, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., em uma postagem na rede X (antigo Twitter), afirmou que o presidente Lula não excedeu em suas críticas ao Banco Central, mercado financeiro e Campos Neto, e resiste a pressões indevidas de grupos oligárquicos financeiros.
Segundo ele, esses grupos tentam influenciar a nomeação para a presidência do Banco Central, buscando alguém que seja de seu agrado, como um executivo do setor financeiro. Batista Jr. destacou que a resistência se deve ao fato de que esses grupos desejam governar no lugar do presidente democraticamente eleito.
“Lula não passou do ponto e nem produziu ruídos descabidos. Falou a verdade. Está resistindo a uma turbulência fabricada pela oligarquia financeira com um objetivo principal — pressionar o governo a indicar um nome do agrado dela para a presidência do Banco Central”, disse Paulo Nogueira. “A nociva turma (ou turba) da bufunfa quer governar no lugar do presidente eleito. O nome de agrado dessa turma seria ou um serviçal deles, algum executivo do sistema financeiro, tipo Fraga, Goldfajn ou Campos. Não sendo possível alguém assim, querem um que seja cooptável”, acrescentou.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, Brasil 247 e Agência Brasil