Lula diz que Galípolo é ‘altamente preparado’, desconversa sobre sucessão no Banco Central e afirma que não indica presidente do BC para o mercado

Em entrevista ao site de notícias UOL, o presidente também descartou a possibilidade de desvincular o aumento das aposentadorias e de pensões do reajuste do salário mínimo.
26 de junho de 2024

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse hoje (26) que o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, é um nome “altamente preparado”, mas não adiantou se ele está sendo cotado para assumir o lugar de Roberto Campos Neto na presidência da autarquia. “O Galípolo veio aqui para uma reunião em que a gente estava discutindo a meta inflacionária, e a gente manteve a meta que tinha, a novidade foi estabelecer a meta contínua. O Galípolo é um companheiro altamente preparado, conhece muito do sistema financeiro”, disse Lula, em entrevista ao portal UOL nesta manhã.

Lula se referiu à reunião que aconteceu ontem (25), no Palácio do Planalto, em que ele deu aval para mudança no regime de meta de inflação. Atualmente, vigora o sistema de ano-calendário, que será substituído para o de meta contínua. Em vez de Campos Neto, Galípolo representou o BC na reunião.

O presidente afirmou que a escolha do futuro presidente do BC não é uma prioridade no momento. “Eu ainda não estou pensando na questão do Banco Central. Vai chegar um momento em que eu vou pensar e indicar um nome para que seja presidente do Banco Central – e não venham com ‘chorumela’, porque eu fui presidente oito anos, tive presidente do Banco Central e o [Henrique] Meirelles tinha total autonomia, porque eu não preciso de uma lei para dizer que tem autonomia, eu preciso respeitar a função do Banco Central”, afirmou.

“Eu não indico presidente do Banco Central para o mercado. Eu indico presidente do Banco Central para o Brasil. Ele vai ter que tomar conta dos interesses do Brasil. E mercado — seja ele o mercado financeiro e o mercado empresarial, mercado produtivo — tem que se adaptar a isso”, argumentou Lula

O teor da entrevista do presidente ao UOL não foi muito diferente daquela que foi dada à Rádio CBN, em 18 de junho. No entanto, naquela Lula foi mais enfático nas críticas diretas a Campos Neto. O petista disse que o presidente da autoridade monetária tem “lado político” e “trabalha para prejudicar o país”.

“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central, essa é uma coisa desajustada. Um presidente do BC que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou o presidente.

Desta vez, sem mirar a artilharia diretamente a Campos Neto, Lula voltou a criticar a alta taxa de juros determinada pelo BC, que impede um maior crescimento econômico do país. ”A pergunta que eu faço é a seguinte: o Banco Central tem a necessidade de manter a taxa de juros a 10,5% quando a inflação está a 4%? O Banco Central leva em conta que as pessoas estão com dificuldade de fazer financiamento? É o seguinte: não é culpa só do Banco Central, é culpa da estrutura que foi criada. O cara não pode cuidar só da inflação. O Banco Central vai ter um plano de meta de crescimento? Eu quero controlar a inflação, mas eu quero crescer; A gente vai avançar para isso? Então eu estou com muito cuidado. Eu continuo criticando a taxa de juros – até acho que não deveria ser o presidente a criticar. Mas é preciso que os empresários do setor produtivo façam passeata contra a taxa de juros, porque são eles que estão tendo dificuldades, que não conseguem crédito, não é o governo”, defendeu.

Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, do qual Galípolo faz parte, aprovou por unanimidade a interrupção da trajetória de corte da taxa básica de juros.

Ontem, a ata do Copom da reunião que manteve a Selic em 10,50% ao ano apontou que a Selic deve ser mantida no patamar atual ao menos até 2025 devido às pressões inflacionárias.

Veja outros assuntos abordados pelo presidente Lula na entrevista ao UOL

Aposentadorias e pensões: o presidente Lula afirmou que, “enquanto for presidente”, não desvinculará o aumento das aposentadorias e pensões do reajuste do salário mínimo. O petista afirmou que dar aumento real do salário mínimo não é gasto. “Não considero isso um gasto”, disse ele ao ser questionado se pretendia impedir que o reajuste das pensões previdenciárias e do BPC (Benefício de Prestação Continuada), concedido a deficientes e idosos com 65 anos ou mais, respeitasse a correção inflacionária e o aumento do PIB.

Lula ainda brincou dizendo que, se fizer isso, “não vai para o céu”. “A palavra salário mínimo é o mínimo que uma pessoa precisa para sobreviver”, afirmou. “Se eu acho que vou resolver a economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado, eu não vou pro céu, eu ficaria no purgatório.”

Lula defendeu o reajuste das aposentadorias à correção do mínimo pela inflação e aumento do PIB. “Muito dinheiro na mão de poucos significa pobreza, desnutrição, analfabetismo e desemprego. Pouco dinheiro na mão de muitos significa aumento de renda, do consumo, do desenvolvimento, da educação e da saúde”, afirmou.

Crescimento do PIB: Na avaliação do presidente, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) é para ser distribuído entre os 213 milhões de brasileiros. “Não posso penalizar a pessoa que ganha menos”, disse Lula.

Gastos do governo: Sobre o fato de a equipe econômica estar fazendo um escrutínio no Orçamento para cortar gastos, Lula disse que o governo vai analisar os gastos sem levar em conta o nervosismo do mercado para saber “se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação”.

O petista salientou que considera na análise que está sendo feita a necessidade de se manter a política de investimentos e sem levar em conta o nervosismo do mercado.

“Nós queremos fazer política social que permita às pessoas crescer, queremos saber se o gasto está sendo bem feito, e o dinheiro está sendo usado para melhorar o país. Estamos fazendo análise de onde tem gasto exagerado, onde tem gasto que não deveria ter, onde tem gente recebendo que não deveria receber. Sem levar em conta o nervosismo do mercado. Levando a necessidade de manter política de investimento”, disse.

Relação com Milei: questionado sobre as negociações com a Argentina para que bolsonaristas foragidos sejam deportados ao Brasil para responderem pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o presidente Lula falou de sua relação com o mandatário argentino, o ultradireitista Javier Milei, com quem ainda não manteve uma conversa direta.

O mandatário brasileiro entende que Milei deve desculpas a ele e ao Brasil: “Eu não conversei com o presidente da Argentina porque eu acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim. Ele falou muita bobagem. Eu só quero que ele peça desculpas”.

Por outro lado, o presidente esclareceu que não deixará seu desentendimento com Milei atrapalhar as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países. “A Argentina é um país de que eu gosto muito, um país muito importante para o Brasil, o Brasil é muito importante para a Argentina e não é um presidente da República que vai criar uma cizânia entre o Brasil e a Argentina. O povo do Brasil e da Argentina são maiores que os presidentes e eles querem viver bem e em paz. Então se o presidente da República da Argentina governar a Argentina já está de bom tamanho, não tente governar o mundo.”

Mieli já proferiu diversos ataques contra Lula e o Brasil. Em fevereiro, ele retuitou várias mensagens mentirosas, incluindo uma que falava sobre uma suposta “ditadura Lula”. O argentino também já disse que “a esquerda nas suas diferentes versões é o câncer da humanidade”, pouco depois de citar Lula.

Redação ICL Economia
Com informações do UOL

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.