A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, diz que o Brasil tem o dever de investir em energia completamente limpa. O petróleo deve ser um dos principais debates entre os países da Cúpula da Amazônia, nos próximos dias 8 e 9, ao lado da discussão sobre a urgência da preservação da floresta a fim de evitar um ponto de não retorno —desequilíbrio irreversível que pode levar o bioma a um processo de savanização.
No final de maio, a Petrobras divulgou que reapresentou o pedido para explorar a bacia da foz do Amazonas, que havia sido vetado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), e que tem colocado em lados opostos a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
A ministra do Meio Ambiente informou para a reportagem da Folha de S Paulo que a política para a Amazônia tem que ser com evidência, seja pela ciência, seja pela experiência de políticas públicas que funcionam ou a que advém do conhecimento das populações que sabem fazer o manejo dessa região. Ela ainda falou sobre a importância de se criar um painel técnico-científico da Amazônia, como o IPCC [Painel Intergovernamental para a Mudança do Clima], para orientação de políticas, com cada país podendo estabelecer, dentro de suas responsabilidades, qual é a trajetória que vai seguir para não chegar ao ponto de não retorno.
Marina Silva explica que alguns cientistas dizem que o Brasil está entre 19% a 20% da remoção da cobertura vegetal [original] da Amazônia, e que não se pode ultrapassar 25%. “Não temos como afirmar matematicamente que é 25%, mas não vale a pena arriscar além disso, porque, se de fato for, não haverá mais o que fazer. Estamos em uma linha muito comprometedora. Quando somamos fatores antrópicos com naturais, como o El Niño, temos uma química muito complicada para fazer esse enfrentamento das mudanças climáticas. Não basta vontade política, é preciso ter os instrumentos econômicos para incentivar a transição energética”, informou a ministra para a reportagem da Folha de S Paulo.
Na avaliação da ministra, cada país tem uma dinâmica própria. “A Colômbia está falando de parar [a exploração de petróleo], mas não tem falado de desmatamento zero, como o Lula tem. É muito ousado falar de não exploração de petróleo, mas é igualmente ousado falar de desmatamento zero”.
Brasil pode ter uma matriz energética 100% limpa, diz a ministra Marina Silva
Na avaliação da ministra do Meio Ambiente, os países que podem reduzir ao máximo a fonte de geração de energia fóssil, como é o caso do Brasil, que pode ter uma matriz energética 100% limpa, devem fazer os investimentos. “As opiniões divergentes do Congresso ou até mesmo de setores dentro do governo fazem parte da contradição que o mundo vive em relação a essa transição. O mais importante é que o presidente Lula já estabeleceu a transição climática como prioridade”.
Marina Silva explica para a reportagem da Folha de S Paulo que a Petrobras tem que ser uma empresa de geração de energia. “Agora, o que vai definir a estratégia é a discussão do Conselho [Nacional] de Política Energética [presidido pelo ministro de Minas e Energia e que tem participação de outros integrantes da Esplanada]. Transição significa que você ainda está em determinada frequência, mas já está mudando para outra, não é um processo de ruptura abrupta”.
Segunda a ministra informou para a Folha de S Paulo, o Brasil vive a convergência de oportunidades e responsabilidades. Sediar a COP 30 [em 2025], dar desdobramento à Cúpula da Amazônia, assumir a liderança do G20. Haverá três países em desenvolvimento seguidos à frente do G20: Indonésia, Índia e, agora, o Brasil.
“Qual é o legado que deixaremos depois de liderar as 20 maiores economias do mundo, que são responsáveis por mais de 80% das emissões do planeta? todas as maiores economias do mundo estão favoráveis a não ultrapassar 1,5°C na temperatura da Terra, concordam que as desigualdades sociais são inaceitáveis, são favoráveis a fazer uma cooperação que ajude os países em desenvolvimento a não sofrerem as consequências indesejáveis da transição climática. Mas quando a gente soma os resultados desses enunciados, a conta não fecha”, disse Marina Silva para a reportagem da Folha de S Paulo.
Marina Silva explicou para a reportagem que falta compromisso ético para fazer a transição. “Não há como se adaptar se continuarmos em plena atividade com os vetores que causam o aquecimento global. Queremos liderar pelo exemplo, e ao liderar pelo exemplo, podemos constranger eticamente aqueles que podem mais e estão fazendo menos.”
Para ela, há dificuldade do Congresso em criar novas estruturas. Nas coisas que são essenciais para o país, tem sido um manejo difícil, complexo, mas temos conseguido o essencial. Na avaliação dela, há um desejo [de que isso avance], inclusive da parte do Congresso que não tem alinhamento com o governo. Vamos abrir espaços de convergência para que o Brasil não fique trancado pelo lado de fora.
Redação ICL Economia
Com informações do jornal Folha de S Paulo