Mercosul sela acordo com Cingapura, o 1º desde 2011. Líderes do bloco divulgam comunicado conjunto sobre pacto com a UE

No documento conjunto, os líderes enfatizam que "as negociações prosseguem com a ambição de concluir o processo e alcançar um acordo que seja mutuamente benéfico para ambas as regiões".
8 de dezembro de 2023

O Mercosul firmou acordo de livre comércio com Cingapura, durante a cúpula dos países do bloco que terminou ontem (7), no Rio de Janeiro. É o primeiro tratado do tipo firmado pelo grupo de países da América do Sul desde 2011, quando foi assinado um com a Autoridade Nacional Palestina.

A assinatura do acordo serviu de certo consolo depois da frustração em torno das negociações do acordo comercial com a União Europeia (UE) (saiba mais abaixo).

O acordo com Cingapura foi assinado, em cerimônia na tarde de ontem no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, onde ocorreu a cúpula. O país é o oitavo maior destino das exportações brasileiras, que cresceram muito nos últimos anos.

Em 2018, o país asiático era o 22º maior destino das vendas brasileiras no exterior, com US$ 2,3 bilhões. No ano passado, passou para a sétima posição, com US$ 8,4 bilhões.

Este ano, até novembro, o Brasil já exportou US$ 7,1 bilhões para Cingapura, o que coloca a cidade-estado asiática na oitava posição entre os principais destinos das exportações nacionais (o primeiro lugar é da China, com US$ 95,4 bilhões até novembro). A expectativa é que o Brasil possa ganhar mais espaço com o acordo selado no âmbito do Mercosul.

Na cúpula, terminou a presidência temporária do Brasil no bloco. Na ocasião, também foi assinado o termo de adesão da Bolívia como membro do Mercosul, ao lado de Argentina, Paraguai e Uruguai, além do Brasil.

A Venezuela chegou a fazer do bloco, mas está suspensa desde 2017 por descumprimento de algumas obrigações previstas no acordo.

Embora seja um país pequeno (5,975 milhões – menos do que os 6,21 milhões do Rio de Janeiro), o acordo é visto como positivo. Ao O Globo, Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados e ex-secretário de Comércio Exterior, fez a seguinte análise: “Cingapura é um grande hub logístico. Re-exporta para vários países da Ásia. Eles têm acordos de livre comércio com praticamente todos os países da região”.

O executivo também avalia que o acordo permite que Cingapura faça investimentos no Brasil. Além disso, facilita os trâmites logísticos, segundo Barral. “Sai mais barato, em termos de logística, mandar alguma coisa para Cingapura para levar para a Tailândia e para China do que ir direto do Brasil, por conta da movimentação (de cargas) e porque eles têm um porto muito eficiente”, avaliou.

Mercosul divulga comunicado conjunto sobre acordo com a União Europeia

Durante participação na COP28 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas) em Dubai, nos Emirados Árabes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou o posicionamento do presidente da França, Emmanuel Macron, que fez discurso contrário ao acordo Mercosul-UE durante a conferência, no fim de semana passado.

O mandatário brasileiro queria selar o pacto, que vem sendo discutido há mais de duas décadas, antes da posse do presidente eleito da Argentina, o economista de ultradireita Javier Milei, no próximo domingo (10).

Durante a campanha eleitoral, Milei fez vários discursos contrários à permanência da Argentina no bloco. Mas Lula disse que ainda não desistiu do acordo, e ganhou como aliado o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz.

Ontem à tarde, os mandatários dos países do Mercosul divulgaram um comunicado conjunto sobre o acordo com a União Europeia.

No comunicado, eles reforçaram a expectativa de que os entraves sejam superados em pouco tempo para que o acordo seja sacramentado, mas não apontam um prazo.

Em conversa com jornalistas, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, falou em expectativa de conclusão da negociação com a UE em fevereiro de 2024.

Na cúpula, o presidente Lula lamentou a falta de avanços nas negociações, mas afirmou que ainda não está satisfeito com o formato atual do tratado, classificando o desenho da parceria como “insuficiente”.

“O texto (do acordo com a UE) que temos agora é mais equilibrado do que estava no governo anterior. Mesmo assim, é insuficiente. As resistências da Europa são muito grandes. Falta flexibilidade deles para entender que temos coisa para desenvolver, precisamos nos industrializar”, afirmou Lula.

No comunicado conjunto, os líderes enfatizam que “as negociações prosseguem com a ambição de concluir o processo e alcançar um acordo que seja mutuamente benéfico para ambas as regiões e que atenda às demandas e aspirações das respectivas sociedades”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências e de O Globo

 

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