Os danos econômicos causados pelas mudanças climáticas são seis vezes piores do que se pensava inicialmente, de acordo com um relatório recente. Diante desse cenário, estima-se que o aquecimento global reduzirá a riqueza a uma taxa equivalente às perdas financeiras de uma guerra permanente.
O estudo foi feito pelo National Bureau of Economic Research (Bureau Nacional de Pesquisa Econômica, na tradução livre para o português), uma organização sem fins lucrativos norte-americana voltada para pesquisa econômica.
A pesquisa estima que cada aumento de 1 grau Celsius na temperatura do planeta leva à queda de 12% do PIB (Produto Interno Bruto) global. Desde o século XIX, o mundo já aqueceu 1,1°C.
Estudos mais antigos concluíram que um aumento de 1°C reduziria o PIB em cerca de 1 a 3% no médio prazo. A diferença de resultados deve-se à discrepância das fontes de variação de temperatura.
Isso porque, enquanto trabalhos anteriores exploram variações de temperatura no país especificamente, o novo estudo busca alterações na temperatura média global.
“Econometricamente, trabalhos anteriores que exploram a temperatura local em um painel eliminam os impactos comuns dos choques térmicos globais via efeitos fixos no tempo. Em vez disso, concentramos nestes impactos comuns”, diz o estudo.
O pior cenário apontado pelo estudo, que precisa ainda ser revisado por pares, causaria “declínios abruptos na produção, no capital e no consumo que excedem os 50% até 2100”. Ou seja, o mundo perderia metade da prosperidade capaz de gerar até o final do século.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Adrien Bilal, economista de Harvard e coautor do estudo, disse que o percentual corresponde a estar “numa recessão duas vezes maior que a Grande Depressão de 1929, para sempre”.
Em relatório do ano passado, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) alertou haver mais de 50% de chance de a temperatura global ultrapassar o limite de 1,5 °C até 2040. Contudo, já há cientistas estendendo essa previsão para 3°C até o final do século.
Impacto das mudanças climáticas no PIB será pior em regiões mais quentes, diz pesquisador
Apesar de ser uma perda significativa para todos os países, o economista relatou que o impacto será maior em regiões quentes. “As áreas mais afetadas serão o sudeste asiático e a África subsaariana. A América Latina seria a representação da média mundial”, disse.
Esse cenário acontecerá ainda que se reduzam as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, segundo o estudo.
Mesmo que os objetivos do Acordo de Paris sejam alcançados, ou seja, a temperatura da Terra restrita a um aumento de 1,5°C que os níveis pré-industriais, o PIB global ainda enfrentará uma queda de cerca de 15%.
O documento também indicou que, para cada 0,5°C de alta nos termômetros ao redor do globo, aumenta a frequência de eventos climáticos extremos, desde secas implacáveis até chuvas torrenciais, como as que assolaram o estado do Rio Grande do Sul.
O lado positivo do estudo, segundo os autores, é que, se o custo social do carbono subir, torna-se mais vantajoso substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia.
Em 2022, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) revisou sua estimativa do custo social do carbono de US$ 51 para US$ 190 (de R$ 267 para R$ 997). Isso significa que para cada tonelada de carbono emitida se paga R$ 997 – o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas em 2022.
Os autores do estudo ainda propõem um valor maior para o custo social do carbono, no valor de US$ 1.056 (cerca de R$ 5.542, 10).
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo