Mudanças climáticas provocam dano econômico seis vezes maior que o previsto, aponta estudo

Pesquisa do National Bureau of Economic Research mostra que cada 1ºC a mais na temperatura do planeta leva à queda de 12% do PIB global.
10 de junho de 2024

Os danos econômicos causados pelas mudanças climáticas são seis vezes piores do que se pensava inicialmente, de acordo com um relatório recente. Diante desse cenário, estima-se que o aquecimento global reduzirá a riqueza a uma taxa equivalente às perdas financeiras de uma guerra permanente.

O estudo foi feito pelo National Bureau of Economic Research (Bureau Nacional de Pesquisa Econômica, na tradução livre para o português), uma organização sem fins lucrativos norte-americana voltada para pesquisa econômica.

A pesquisa estima que cada aumento de 1 grau Celsius na temperatura do planeta leva à queda de 12% do PIB (Produto Interno Bruto) global. Desde o século XIX, o mundo já aqueceu 1,1°C.

Estudos mais antigos concluíram que um aumento de 1°C reduziria o PIB em cerca de 1 a 3% no médio prazo. A diferença de resultados deve-se à discrepância das fontes de variação de temperatura.

Isso porque, enquanto trabalhos anteriores exploram variações de temperatura no país especificamente, o novo estudo busca alterações na temperatura média global.

“Econometricamente, trabalhos anteriores que exploram a temperatura local em um painel eliminam os impactos comuns dos choques térmicos globais via efeitos fixos no tempo. Em vez disso, concentramos nestes impactos comuns”, diz o estudo.

O pior cenário apontado pelo estudo, que precisa ainda ser revisado por pares, causaria “declínios abruptos na produção, no capital e no consumo que excedem os 50% até 2100”. Ou seja, o mundo perderia metade da prosperidade capaz de gerar até o final do século.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Adrien Bilal, economista de Harvard e coautor do estudo, disse que o percentual corresponde a estar “numa recessão duas vezes maior que a Grande Depressão de 1929, para sempre”.

Em relatório do ano passado, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) alertou haver mais de 50% de chance de a temperatura global ultrapassar o limite de 1,5 °C até 2040. Contudo, já há cientistas estendendo essa previsão para 3°C até o final do século.

Impacto das mudanças climáticas no PIB será pior em regiões mais quentes, diz pesquisador

Apesar de ser uma perda significativa para todos os países, o economista relatou que o impacto será maior em regiões quentes. “As áreas mais afetadas serão o sudeste asiático e a África subsaariana. A América Latina seria a representação da média mundial”, disse.

Esse cenário acontecerá ainda que se reduzam as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, segundo o estudo.

Mesmo que os objetivos do Acordo de Paris sejam alcançados, ou seja, a temperatura da Terra restrita a um aumento de 1,5°C que os níveis pré-industriais, o PIB global ainda enfrentará uma queda de cerca de 15%.

O documento também indicou que, para cada 0,5°C de alta nos termômetros ao redor do globo, aumenta a frequência de eventos climáticos extremos, desde secas implacáveis até chuvas torrenciais, como as que assolaram o estado do Rio Grande do Sul.

O lado positivo do estudo, segundo os autores, é que, se o custo social do carbono subir, torna-se mais vantajoso substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia.

Em 2022, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) revisou sua estimativa do custo social do carbono de US$ 51 para US$ 190 (de R$ 267 para R$ 997). Isso significa que para cada tonelada de carbono emitida se paga R$ 997 – o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas em 2022.

Os autores do estudo ainda propõem um valor maior para o custo social do carbono, no valor de US$ 1.056 (cerca de R$ 5.542, 10).

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo 

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