O ministro da Economia, Paulo Guedes, que vem atuando como um dos principais cabos eleitorais de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, está aderindo a uma das principais artimanhas da campanha do chefe: fake news. Em suas redes sociais, o ministro distorceu dados divulgados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para tentar enganar o eleitor, mentindo descaradamente sobre o crescimento econômico do Brasil neste e no próximo ano. Em um post em sua conta oficial no Instagram, Guedes colocou uma suposta manchete, dizendo que o “Brasil vai crescer mais que a China pela 1ª vez em 42 anos”.
Na edição do ICL Notícias desta quinta-feira (13), o economista Eduardo Moreira destruiu a mentira de Paulo Guedes com números. “Esse argumento de Bolsonaro e Guedes, de que pela primeira vez em décadas o Brasil vai crescer mais que a China e que o país vive um momento único em sua história, com um crescimento que impressiona o mundo inteiro, graças às políticas implementadas pelo governo Bolsonaro, essa é uma das maiores mentidas que já foram ditas para um país inteiro e sem o menor pudor”, criticou Moreira, que ainda chamou o ministro de “irresponsável”.
Para este ano, o FMI projeta crescimento de 2,80% no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, enquanto as projeções do mercado financeiro, registradas no último Boletim Focus do Banco Central, prevê alta de 2,70%.
Ainda assim, conforme observou Moreira, o crescimento da economia brasileira ficará atrás de muitos países na região. “O Brasil só está na frente (nas projeções) do Peru, El Salvador, México, Chile e Paraguai”, ressaltou.
Para 2023, o crescimento esperado é de apenas 1,0%, segundo prevê o FMI, enquanto o mercado financeiro brasileiro prevê crescimento de 0,54%.
Mostrando que a comparação com a China é falaciosa, Moreira mostrou que o crescimento esperado para a economia chinesa este ano é de 3,2% e, para o próximo, de 4,4%.
Ainda, em 2021, a China cresceu 8,1%, enquanto o crescimento do Brasil foi de 4,6%. “Ou seja, não estamos falando de uma fonte de dados, temos o FMI e mercado financeiro, o pessoal da Faria Lima, amigos de Guedes. Para o próximo ano, a China vai crescer quase cinco vezes mais que o Brasil, se levarmos em conta os dados do FMI. Se levarmos em conta os do mercado financeiro, será quase dez vezes mais!”, disse.
Segundo Eduardo Moreira, o crescimento da economia brasileira foi “comprado” pelo governo, uma vez que a expectativa, no ano passado, era de que o país crescesse apenas 1,5%. “Chegou no meio do ano, o Bolsonaro viu que estava destruído nas pesquisas de intenção de votos. Então, o que o Bolsonaro resolveu fazer? Ele comprou o crescimento com o Auxílio Brasil, a bolsa caminhoneiro, taxista. Ele derramou R$ 50 bilhões em programas para comprar o crescimento deste ano, ao mesmo tempo em que destruiu o crescimento do ano que vem”, afirmou.
Além disso, Moreira mostrou que Paulo Guedes mente também quando diz que o Brasil vai crescer mais que todo mundo, pois a previsão do FMI é de que a economia mundial cresça 3,2%, em média, este ano, e que os países emergentes, entre os quais o Brasil se inclui, terá crescimento médio de 3,7%.
Ao mesmo tempo que usa dados do FMI sobre crescimento econômico do Brasil, Guedes critica declaração do fundo
O ministro da Economia criticou ontem (12) o FMI e as políticas fiscal e monetária adotadas pelos EUA e por países europeus em conversa com jornalistas em Washington, nos EUA. Ele esteve na capital americana para reuniões do fundo e do Banco Mundial.
A crítica veio quando Guedes foi questionado sobre o FMI ter dito que o gasto social do Brasil durante a pandemia de Covid-19 poderia ter sido menor. Segundo Guedes, o fundo precisa “falar menos besteira”. “Há seis meses, estava todo mundo dizendo que os brasileiros estão passando fome. Aí o FMI diz que o gasto podia ser menor. Isso que eu falo: o FMI tem que falar menos besteira e trabalhar um pouco mais pra alertar os americanos, os europeus.”
Complementando a fala, Guedes ainda disse que “enquanto eles estão puxando a nossa orelha, o Brasil está crescendo mais, a inflação está mais baixa. Não acredito que o FMI esteja de má vontade com o Brasil, acho que é erro técnico mesmo”, disse o ministro.
O ministro ainda disse ter “muito orgulho” por ter “criado o auxílio emergencial”. “Nós criamos na urgência do combate ao Covid e acabou virando o Auxílio Brasil permanente agora, e o nosso programa social saiu de 0,4% do PIB pra 1,5% do PIB. É três vezes maior, é o maior programa de combate à pobreza e de inclusão social que o país já fez. Se o FMI está achando que a gente gastou muito com programa social, ele não entendeu nada porque nós vamos continuar gastando esse dinheiro com o social”, declarou.
Vale lembrar, no entanto, que o governo queria pagar apenas R$ 200 mensais de auxílio em março de 2020 e esse valor só subiu para R$ 600 por causa do Congresso.
Ademais, para o Orçamento de 2023 o Auxílio Brasil está previsto em R$ 405 e não nos R$ 600 pagos atualmente.
Na conversa com os jornalistas, Guedes continuou a narrativa descolada da realidade, ao dizer que o real se valorizou frente ao dólar este ano e que o desemprego caiu.
De fato, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de desemprego chegou a 8,9% em agosto, mas com recorde de trabalhadores sem carteira assinada.
Levantamento do próprio IBGE mostra ainda que o país ainda não recuperou o patamar de emprego antes da pandemia de Covid-19. No trimestre até agosto de 2019 – portanto, antes da crise sanitária -, a taxa de participação no mercado de trabalho estava em 63,7%, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE. Agora, no mesmo período deste ano, o indicador alcançou 62,7%, ou seja, permanece abaixo do que estava no período pré-pandemia.
Redação ICL Economia
Com informações do portal G1