Para ajudar Bolsonaro a se reeleger, Paulo Guedes mente sobre números do crescimento econômico do Brasil

Economista do ICL Eduardo Moreira desconstrói narrativa de Paulo Guedes de que economia brasileira está melhor que o resto do mundo
13 de outubro de 2022

O ministro da Economia, Paulo Guedes, que vem atuando como um dos principais cabos eleitorais de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, está aderindo a uma das principais artimanhas da campanha do chefe: fake news. Em suas redes sociais, o ministro distorceu dados divulgados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para tentar enganar o eleitor, mentindo descaradamente sobre o crescimento econômico do Brasil neste e no próximo ano. Em um post em sua conta oficial no Instagram, Guedes colocou uma suposta manchete, dizendo que o “Brasil vai crescer mais que a China pela 1ª vez em 42 anos”.

Na edição do ICL Notícias desta quinta-feira (13), o economista Eduardo Moreira  destruiu a mentira de Paulo Guedes com números. “Esse argumento de Bolsonaro e Guedes, de que pela primeira vez em décadas o Brasil vai crescer mais que a China e que o país vive um momento único em sua história, com um crescimento que impressiona o mundo inteiro, graças às políticas implementadas pelo governo Bolsonaro, essa é uma das maiores mentidas que já foram ditas para um país inteiro e sem o menor pudor”, criticou Moreira, que ainda chamou o ministro de “irresponsável”.

crescimento econômico do Brasil

Reprodução Instagram Paulo Guedes

Para este ano, o FMI projeta crescimento de 2,80% no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, enquanto as projeções do mercado financeiro, registradas no último Boletim Focus do Banco Central, prevê alta de 2,70%.

Ainda assim, conforme observou Moreira, o crescimento da economia brasileira ficará atrás de muitos países na região. “O Brasil só está na frente (nas projeções) do Peru, El Salvador, México, Chile e Paraguai”, ressaltou.

Para 2023, o crescimento esperado é de apenas 1,0%, segundo prevê o FMI, enquanto o mercado financeiro brasileiro prevê crescimento de 0,54%.

Mostrando que a comparação com a China é falaciosa, Moreira mostrou que o crescimento esperado para a economia chinesa este ano é de 3,2% e, para o próximo, de 4,4%.

Ainda, em 2021, a China cresceu 8,1%, enquanto o crescimento do Brasil foi de 4,6%. “Ou seja, não estamos falando de uma fonte de dados, temos o FMI e mercado financeiro, o pessoal da Faria Lima, amigos de Guedes. Para o próximo ano, a China vai crescer quase cinco vezes mais que o Brasil, se levarmos em conta os dados do FMI. Se levarmos em conta os do mercado financeiro, será quase dez vezes mais!”, disse.

crescimento econômico do brasil

Reprodução ICL Notícias

Segundo Eduardo Moreira, o crescimento da economia brasileira foi “comprado” pelo governo, uma vez que a expectativa, no ano passado, era de que o país crescesse apenas 1,5%. “Chegou no meio do ano, o Bolsonaro viu que estava destruído nas pesquisas de intenção de votos. Então, o que o Bolsonaro resolveu fazer? Ele comprou o crescimento com o Auxílio Brasil, a bolsa caminhoneiro, taxista. Ele derramou R$ 50 bilhões em programas para comprar o crescimento deste ano, ao mesmo tempo em que destruiu o crescimento do ano que vem”, afirmou.

Além disso, Moreira mostrou que Paulo Guedes mente também quando diz que o Brasil vai crescer mais que todo mundo, pois a previsão do FMI é de que a economia mundial cresça 3,2%, em média, este ano, e que os países emergentes, entre os quais o Brasil se inclui, terá crescimento médio de 3,7%.

Ao mesmo tempo que usa dados do FMI sobre crescimento econômico do Brasil, Guedes critica declaração do fundo

O ministro da Economia criticou ontem (12) o FMI e as políticas fiscal e monetária adotadas pelos EUA e por países europeus em conversa com jornalistas em Washington, nos EUA. Ele esteve na capital americana para reuniões do fundo e do Banco Mundial.

A crítica veio quando Guedes foi questionado sobre o FMI ter dito que o gasto social do Brasil durante a pandemia de Covid-19 poderia ter sido menor. Segundo Guedes, o fundo precisa “falar menos besteira”. “Há seis meses, estava todo mundo dizendo que os brasileiros estão passando fome. Aí o FMI diz que o gasto podia ser menor. Isso que eu falo: o FMI tem que falar menos besteira e trabalhar um pouco mais pra alertar os americanos, os europeus.”

Complementando a fala, Guedes ainda disse que “enquanto eles estão puxando a nossa orelha, o Brasil está crescendo mais, a inflação está mais baixa. Não acredito que o FMI esteja de má vontade com o Brasil, acho que é erro técnico mesmo”, disse o ministro.

O ministro ainda disse ter “muito orgulho” por ter “criado o auxílio emergencial”. “Nós criamos na urgência do combate ao Covid e acabou virando o Auxílio Brasil permanente agora, e o nosso programa social saiu de 0,4% do PIB pra 1,5% do PIB. É três vezes maior, é o maior programa de combate à pobreza e de inclusão social que o país já fez. Se o FMI está achando que a gente gastou muito com programa social, ele não entendeu nada porque nós vamos continuar gastando esse dinheiro com o social”, declarou.

Vale lembrar, no entanto, que o governo queria pagar apenas R$ 200 mensais de auxílio em março de 2020 e esse valor só subiu para R$ 600 por causa do Congresso.

Ademais, para o Orçamento de 2023 o Auxílio Brasil está previsto em R$ 405 e não nos R$ 600 pagos atualmente.

Na conversa com os jornalistas, Guedes continuou a narrativa descolada da realidade, ao dizer que o real se valorizou frente ao dólar este ano e que o desemprego caiu.

De fato, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de desemprego chegou a 8,9% em agosto, mas com recorde de trabalhadores sem carteira assinada.

Levantamento do próprio IBGE mostra ainda que o país ainda não recuperou o patamar de emprego antes da pandemia de Covid-19. No trimestre até agosto de 2019 – portanto, antes da crise sanitária -, a taxa de participação no mercado de trabalho estava em 63,7%, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE. Agora, no mesmo período deste ano, o indicador alcançou 62,7%, ou seja, permanece abaixo do que estava no período pré-pandemia.

Redação ICL Economia
Com informações do portal G1

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