O relatório de folha de pagamento (payroll), divulgado nesta sexta-feira (6) pelo departamento de estatísticas dos Estados Unidos, mostra que foram criadas no país 336 mil vagas de trabalho em setembro, praticamente o dobro do que previam analistas. A taxa de desemprego, por sua vez, ficou em 3,8%, quando as previsões apontavam para uma taxa de 3,7%.
O número de vagas criadas é o maior desde janeiro deste ano, o que mostra que a economia estadunidense continua extremamente aquecida, praticamente enterrando a possibilidade de o Fed (Federal Reserve) iniciar um ciclo de redução na taxa de juros.
Conforme os dados divulgados, os setores que mais empregaram no período foram lazer e hospitalidade, saúde e serviços técnicos.
Os salários tiveram alta de 0,2% mensal, para US$ 33,88 a hora. Em 12 meses até setembro, os salários aumentaram 4,2%, após avançarem 4,3% em agosto.
Desde março de 2022, o Fed aumentou a sua taxa de juro de referência em 525 pontos-base, para o atual intervalo de 5,25%-5,50%.
Antes do payroll, na terça-feira passada (3), outro relatório do mercado de trabalho, o Jolts derrubou os mercados pelo mundo ao indicar abertura de vagas muito acima da previsão dos analistas.
A abertura de postos de trabalho nos EUA, segundo o Jolts, cresceu para 9,61 milhões em agosto, bem acima da previsão de analistas consultados pela FactSet, de 8,9 milhões de vagas.
Por outro lado, o ADP, divulgado na sequência, mostrou que foram criadas no setor privado do país 89 mil vagas em setembro, bem abaixo do que o esperado, uma vez que o consenso Refinitiv esperava a criação de 153 mil vagas.
Payroll mostra resiliência da economia americana, o que traz preocupações para o Brasil
Os dados do payroll são um dos elementos usados pela autoridade monetária norte-americana para definir a sua política de juros.
Portanto, um mercado de trabalho aquecido corresponde a uma economia idem, o que traz mais riscos de pressão inflacionária. O remédio usado pelos bancos centrais ao redor do mundo é subir as taxas de juros na tentativa de controlar a inflação.
Tudo o que acontece nos Estados Unidos preocupa o resto do mundo, incluindo o Brasil. Não poderia ser diferente, afinal, estamos falando da maior economia do mundo.
De acordo com informações da coluna de Miriam Leitão, em O Globo, a situação estadunidense e o preço do petróleo preocupam o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Segundo a jornalista, uma terceira preocupação citada somente por Haddad foi a fraqueza da economia da China, o maior parceiro comercial do Brasil.
Em relação aos Estados Unidos, os dois estão preocupados com juros altos de longo prazo. Os treasuries, o título do tesouro americano de dez anos, ultrapassaram a marca de 4,6% na semana passada. Por muito tempo, a economia americana trabalhou com juro zero.
Por essa razão, Campos Neto disse que algumas empresas estão tendo que se financiar com taxa de juros de 7%, o que faz com que o dinheiro do mundo seja drenado para o título do tesouro americano e, também, para as empresas americanas, o que é muito ruim para economias emergentes, como a do Brasil.
O dinheiro sai dos países emergentes e vai para os Estados Unidos. Foi o que aconteceu em setembro, com saída líquida de capital e a alta do dólar.
No caso do petróleo, o preço do petróleo chegou a ultrapassar US$ 95 na semana passada. Campos Neto vê riscos de o preço do barril chegar a US$ 100.
O que ele acha mais preocupante, segundo a jornalista, é que não há clareza sobre a natureza do acordo entre a Arábia Saudita e Rússia, dois grandes fornecedores que reduziram muito a sua oferta de petróleo, provocando a elevação dos preços.
Embora concordem que a economia brasileira está se desempenhando melhor do que o esperado, eles temem que a situação internacional traga reflexos ao Brasil.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, InfoMoney e Bloomberg