Na primeira coletiva de imprensa como presidente da Petrobras, Magda Chambriard reafirmou algumas de suas ideias, dando sinais muito claros do que se pode esperar de sua gestão à frente da empresa “de economia mista”, como ela enfatizou. Chambriard defendeu, por exemplo, “o esforço exploratório [de petróleo] para garantir a soberania energética do país”.
A executiva tomou posse na última sexta (24), após a demissão de Jean Paul Prates. “Temos que tomar muito cuidado com a reposição das reservas, a menos que a gente queira aceitar o fato de que podemos voltar a ser importadores, o que para mim está fora de cogitação”, afirmou em entrevista coletiva ontem (27), após o fechamento do mercado financeiro. “O esforço exploratório dessa empresa tem que ser mantido, tem que ser acelerado.”
“Temos novas fronteiras importantes a perseguir, dentre elas a questão do Amapá, na bacia Foz do Amazonas, temos a bacia de Pelotas”, acrescentou a presidente da petroleira, sobre tema controverso e que faz tremer ambientalistas.
A defesa dela ocorre devido às projeções de declínio da produção a partir de 2030, o que pode deixar o Brasil mais perto de perder a condição de autossuficiente.
Por isso, ela afirmou que vai buscar esclarecer melhor as autoridades ambientais sobre os planos da Petrobras na região da Foz do Amazonas.
“Precisamos ter autorização para explorar. Vamos ter que conversar com o Ministério do Meio Ambiente e mostrar o que a Petrobras está ofertando em cuidado com o meio ambiente, muito mais do que a lei demanda. O Ministério de Minas e Energia está louco para perfurar”, afirmou Magda.
“O histórico da Petrobras é de respeito à sociedade. O Ministério do Meio Ambiente precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade de a Petrobras e o país explorar petróleo e gás até para liderar a transição energética”, complementou.
Ainda segundo Chambriard, “o foco é zelar para que os ativos de petróleo da Petrobras persistam crescendo”. “A sobrevivência da Petrobras tem um componente que é a produção tempestiva, com zelo, máximo aproveitamento e com reposição de reservas. E isso significa que é essencial continuar explorando petróleo na costa brasileira. A Margem Equatorial e a costa do Amapá estão nesse contexto”, frisou, lembrando que a exploração de petróleo na região tem de ser debatida no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), que envolve vários ministérios, a ANP (Agência Nacional de Petróleo) e a Petrobras.
Sobre a crise climática no Rio Grande do Sul e a produção de combustíveis fósseis no mundo, ela comentou: “Não é o pré-sal que tem culpa disso, o pré-sal traz grandes benefícios para a sociedade, traz receita incalculável para o Brasil. De forma direta ou indireta, está contribuindo para a qualidade de vida no Brasil”.
Segundo ela, a exploração de petróleo no pré-sal representa 26% da balança comercial do Brasil. Contudo, enfatizou que o pico de produção dessas reservas chega por volta de 2030. Por isso, ela defendeu a expansão das atividades de exploração para que a estatal passe a produzir em novas áreas.
Apesar da prioridade na expansão da produção de óleo, ela reafirmou que pretende continuar a investir em fontes alternativas de energia e defendeu que é importante ampliar a produção de petróleo para sustentar esses novos investimentos. “A Petrobras está fazendo essa diversificação. É isso que vai garantir o futuro”, frisou.
Sobre o pagamento de dividendos, nova presidente da Petrobras diz: “Se tem lucro, tem dividendos”
Na avaliação de Chambriard, a Petrobras tem de ser rentável e atender aos interesses dos acionistas, sejam eles privados ou governamentais. Porém, classificou a petroleira como uma empresa de “economia mista”, ou seja, tem capital aberto em Bolsa, acionistas privados, mas é controlada pela União, como as outras estatais.
A distribuição de dividendos da estatal a acionistas foi ponto de tensão entre uma ala do governo e o ex-CEO da estatal. A respeito do tema dividendos, Chambriard foi enfática: “Se tem lucro, tem dividendos”.
“Isso [rentabilidade] se busca com conversa. Gerir essa empresa para dar lucro é muito fácil. E vamos fazer isso. Nosso esforço será pela tempestividade e agilidade. Vamos respeitar a lógica empresarial. Dando lucro, sendo tempestiva e atendendo aos interesses tanto dos acionistas públicos e privados, nós vamos fazer. A palavra-chave é conversa. E colocar a empresa à disposição dos acionistas dentro da lógica empresarial”, disse.
A executiva indicou que pretende trabalhar pela recuperação da credibilidade da empresa com o mercado financeiro, que penalizou as ações da estatal com forte desvalorização após a decisão do presidente Lula de substituir Jean Paul Prates por ela.
“Quando fui indicada, as ações caíram. E pensei: ‘é hora de comprar’. Primeiro porque vocês conhecem minha história e conhecem a história da empresa. Somos top 10 em tudo. Qual dúvida se tem sobre essa empresa, de que vai dar lucro?”, questionou.
A executiva disse que encontrou muitos desafios na estatal e afirmou ter como missão retribuir “com muito zelo” a confiança do governo em sua indicação.
“Quero agradecer a confiança do governo brasileiro e tenho que retribuir com muito zelo. A Petrobras é uma empresa com trajetória de imensos desafios. O pré-sal foi um deles e foi superado. Hoje, temos mais um. E temos a garantia da segurança energética do país em um momento em que também temos que enfrentar a transição energética”, disse.
Em relação à retomada das encomendas de navios e plataformas a estaleiros brasileiros, uma demanda do governo, a executiva lembrou que há muita capacidade de produção desenvolvida no Brasil e indicou que vai perseguir a nacionalização das encomendas da estatal. “Minha obrigação é reforçar essas cadeias nacionais”, disse.
Contudo, lembrou que a empresa tem a obrigação de estabelecer igualdade de condições entre fornecedores nacionais e estrangeiros.
Pedido de Lula
Chambriard afirmou que o pedido que recebeu do presidente Lula foi para ela gerir a “empresa com respeito à sociedade brasileira”. Ela ressaltou por diversas vezes, durante a coletiva, que essa foi a “encomenda” do presidente Lula.
“A demanda que eu tive do presidente Lula foi: ‘eu tenho um carinho pela Petrobras. Esse é o tamanho do desafio que estou te dando. Gostaria que você gerisse essa empresa com respeito à sociedade brasileira'”, contou. “Eu não posso ter mensagem mais clara que essa. A sociedade brasileira tem vários componentes.”
Chambriard foi diretora-geral da ANP entre 2012 e 2016, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Antes de ingressar na ANP, foi funcionária de carreira da Petrobras, onde trabalhou por 22 anos.
Engenheira, participou do grupo de transição na área de energia do governo Lula, no ano passado, antes da posse dele.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias