Rebatendo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que afirmou que o presidente Lula não tem “base consistente” no Congresso, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que o Executivo conta com ao menos 50 parlamentares em sua base de apoio para aprovar matérias importantes. “Essa é uma opinião dele, eu o respeito como presidente das Casa, mas na hora que a gente for votar uma matéria é que a gente vai conferir. A gente tem aqui no Senado uma coisa consolidada, não vejo problema aqui”, disse Wagner em entrevista ao jornal O Globo.
Desde que foi eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabia que enfrentaria problemas no Congresso eleito, de perfil muito mais conservador que o anterior. No Senado, foram eleitos muitos ex-integrantes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o ex-juiz Sérgio Moro (Justiça), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura).
Antes da posse dos novos parlamentares, Lula conseguiu avançar com a pauta da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que ampliou a margem do teto de gastos (regra fiscal que limita o aumento de gastos do governo à inflação passada), para incluir no Orçamento de 2023 promessas de campanha, como o Bolsa Família de R$ 600.
Agora, com o Congresso renovado e muito mais hostil ao governo petista, o desafio para fazer avançar pautas econômicas importantes, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, será muito maior.
Em evento recente realizado na ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Lira disse que o governo precisará de um tempo para se “estabilizar internamente”. “Porque hoje o governo ainda não tem uma base consistente, nem na Câmara nem no Senado, para enfrentar matérias de maioria simples, quanto mais matérias de quórum constitucional”, disse.
A declaração foi dada horas antes de o presidente Lula ter se reunido para pedir explicações ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), sobre ter usado um jato da Aeronáutica para viajar a São Paulo, onde participou de um leilão de cavalos. Mesmo com três ministérios, o União Brasil ainda não garantiu fidelidade a Lula, que tentou evitar a demissão de Juscelino e, assim, provocar ruptura da sigla com o governo.
Na avaliação de Jacques Wagner, apoio no Senado e na Câmara varia conforme a matéria a ser analisada
Político experiente, Jaques Wagner fez ao O Globo uma leitura de que não há “linearidade” no apoio ao governo e que a adesão oscila de acordo com a proposta analisada. “Na minha conta, são mais de 50 senadores na base. Mas o que estou falando é que tudo depende da matéria. Pode ter até alguém do PT, em determinada matéria, por uma questão de consciência, votar assim ou assado. É difícil. Essa linearidade não existe”, pontou.
Ao todo, o Senado possui 81 senadores. O governo conta com os votos das bancadas do PT, MDB, PSD, PDT, PSB e Rede. Já o União Brasil, partido que normalmente surfa na onda que lhe é favorável, tem adotado postura de independência.
Lembrando que a sigla tem nomes rivais de Lula, como Sergio Moro (PR), que faz oposição declarada ao presidente.
Mas a permanência de Juscelino nas Comunicações deve fazer com que o Planalto cobre mais empenho da bancada para aprovar os projetos de interesse do Executivo.
Na contabilidade de votos de apoio de Wagner, entram parlamentares do Republicanos e do PL, este último partido do ex-presidente Bolsonaro. “Acho que ninguém faz oposição racional. Reforma tributária, você pode ter opinião diferente, mas não é uma questão de dizer ‘sou contra, sou oposição’, eu acho que varia muito isso”, avaliou o líder do governo.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo