É grande a expectativa para a reunião que começa, nesta terça-feira (1º), do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. Será a primeira reunião do colegiado com as presenças de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária, e Ailton Aquino, de Fiscalização, os primeiros indicados do governo Lula para integrarem a diretoria do BC. Essas presenças devem imprimar uma nota de divergência na decisão sobre os juros que será divulgada amanhã (2).
Atualmente, a taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano e, desde que assumiu o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pressionado a autoridade monetária pela redução dos juros.
No decorrer dos meses, o que antes era visto como uma certa birra pessoal do petista contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto, começou a ganhar outras cores, quando nomes de peso do empresariado, da economia e do mercado financeiro passaram a engrossar o coro de que, sim, há espaço para a redução dos juros no Brasil, cujo patamar elevado tem freado uma retomada econômica mais vigorosa do país.
Para esta primeira reunião de agosto, as presenças de Galípolo e Aquino contrabalanceiam as apostas. Há uma unanimidade de que o início da trajetória de queda da Selic vai começar a partir desse encontro. A dúvida é a dose – se um corte de 0,25 ponto percentual ou de 0,50 p.p.
Galípolo foi o número 2 da Fazenda e braço direito de Fernando Haddad na pasta e o que ele pensa sobre o patamar dos juros já é conhecido do mercado. Aquino é funcionário da carreira do BC e o primeiro negro a ocupar a diretoria da autarquia.
O que o mercado prospecta é que as presenças dos dois deve elevar o grau de divergências no colegiado, já demonstrado na ata da última reunião do Copom.
Enquanto o governo defende uma queda mais acentuada da Selic, Copom mantém o tom da “parcimônia”
Em entrevista concedida ao site Metrópoles na semana passada, o ministro da Fazenda disse que o mercado espera que o Copom defina uma queda de 0,5 ponto percentual nos juros.
“A inflação dos últimos 12 meses está abaixo de 3,2%. Isso, com toda a reoneração de combustíveis”, observou. “As projeções de fim do ano estão todas em menos de 5%; no começo do ano, estavam todas acima de 6%. A inflação projetada para este ano caiu mais de um ponto percentual. Ou seja: você vai manter os juros na casa dos 10% em termos reais?”, ponderou Haddad.
Enquanto a gestão petista pressiona por uma queda mais acentuada dos juros, em meio ao avanço da pauta econômica no Congresso Nacional e à melhora da nota de crédito do Brasil por quatro agências de classificação de riscos, o Copom vinha até então defendendo “parcimônia” e “cautela” na condução da política monetária.
À Folha de S.Paulo, Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina, disse que provavelmente haverá uma “decisão dividida”, mas que o BC tende a começar o ciclo de afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto percentual, levando a Selic a 13,50% ao ano.
Na avaliação dele, se o Copom optar de fato por esse movimento mais suave, deixará aberta a possibilidade de acelerar o ritmo de cortes. No entanto, caso a queda inicial seja de 0,50 ponto percentual, o comitê pode sinalizar a manutenção dessa mesma magnitude no próximo encontro, em setembro.
“O que se quer é não queimar a largada, porque isso pode ter consequências para frente”, disse. “Se o primeiro passo for sólido, ele [BC] pode eventualmente ir mais longe no processo de distensão monetária.”
E, a exemplo do alerta dado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em seu relatório sobre a economia dos países-membros, ele e outros economistas consultados pela Folha também alertaram que, embora a inflação esteja em trajetória de queda, o indicador permanece fora da meta estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
“Pode ter alguma divergência [entre os membros do Copom], mas o ponto principal é olhar o que a conjuntura econômica prescreve em termos de política monetária”, afirmou a economista Julia Gottlieb, do Itaú.
Assim como Ramos, ela lembrou que a dinâmica de núcleos de inflação – que medem o comportamento dos preços desconsiderando ou reduzindo o peso de fatores temporários sobre os índices – e expectativas de inflação ainda estão acima da meta.
Um estudo do banco obtido pela Folha mostra que os ciclos anteriores de cortes da Selic que começaram com cautela foram bem-sucedidos em levar a inflação para perto da meta, possibilitando um equilíbrio final de juros mais baixos por mais tempo.
Redação iCL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo