Em primeira reunião do Copom com Galípolo e Aquino, dose de corte da taxa Selic deve ser ponto de divergência

Parte do mercado projeta corte de 0,25 ponto percentual na taxa, mas há quem aposte em um corte maior, de 0,50 p.p. Para alguns analistas, no entanto, inflação fora do centro da meta ainda preocupa e, por isso, autoridade monetária não deve "queimar a largada" com redução maior.
1 de agosto de 2023

É grande a expectativa para a reunião que começa, nesta terça-feira (1º), do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. Será a primeira reunião do colegiado com as presenças de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária, e Ailton Aquino, de Fiscalização, os primeiros indicados do governo Lula para integrarem a diretoria do BC. Essas presenças devem imprimar uma nota de divergência na decisão sobre os juros que será divulgada amanhã (2).

Atualmente, a taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano e, desde que assumiu o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pressionado a autoridade monetária pela redução dos juros.

No decorrer dos meses, o que antes era visto como uma certa birra pessoal do petista contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto, começou a ganhar outras cores, quando nomes de peso do empresariado, da economia e do mercado financeiro passaram a engrossar o coro de que, sim, há espaço para a redução dos juros no Brasil, cujo patamar elevado tem freado uma retomada econômica mais vigorosa do país.

Para esta primeira reunião de agosto, as presenças de Galípolo e Aquino contrabalanceiam as apostas. Há uma unanimidade de que o início da trajetória de queda da Selic vai começar a partir desse encontro. A dúvida é a dose – se um corte de 0,25 ponto percentual ou de 0,50 p.p.

Galípolo foi o número 2 da Fazenda e braço direito de Fernando Haddad na pasta e o que ele pensa sobre o patamar dos juros já é conhecido do mercado. Aquino é funcionário da carreira do BC e o primeiro negro a ocupar a diretoria da autarquia.

O que o mercado prospecta é que as presenças dos dois deve elevar o grau de divergências no colegiado, já demonstrado na ata da última reunião do Copom.

Enquanto o governo defende uma queda mais acentuada da Selic, Copom mantém o tom da “parcimônia”

Em entrevista concedida ao site Metrópoles na semana passada, o ministro da Fazenda disse que o mercado espera que o Copom defina uma queda de 0,5 ponto percentual nos juros.

“A inflação dos últimos 12 meses está abaixo de 3,2%. Isso, com toda a reoneração de combustíveis”, observou. “As projeções de fim do ano estão todas em menos de 5%; no começo do ano, estavam todas acima de 6%. A inflação projetada para este ano caiu mais de um ponto percentual. Ou seja: você vai manter os juros na casa dos 10% em termos reais?”, ponderou Haddad.

Enquanto a gestão petista pressiona por uma queda mais acentuada dos juros, em meio ao avanço da pauta econômica no Congresso Nacional e à melhora da nota de crédito do Brasil por quatro agências de classificação de riscos, o Copom vinha até então defendendo “parcimônia” e “cautela” na condução da política monetária.

À Folha de S.Paulo, Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina, disse que provavelmente haverá uma “decisão dividida”, mas que o BC tende a começar o ciclo de afrouxamento monetário com um corte de 0,25 ponto percentual, levando a Selic a 13,50% ao ano.

Na avaliação dele, se o Copom optar de fato por esse movimento mais suave, deixará aberta a possibilidade de acelerar o ritmo de cortes. No entanto, caso a queda inicial seja de 0,50 ponto percentual, o comitê pode sinalizar a manutenção dessa mesma magnitude no próximo encontro, em setembro.

“O que se quer é não queimar a largada, porque isso pode ter consequências para frente”, disse. “Se o primeiro passo for sólido, ele [BC] pode eventualmente ir mais longe no processo de distensão monetária.”

E, a exemplo do alerta dado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em seu relatório sobre a economia dos países-membros, ele e outros economistas consultados pela Folha também alertaram que, embora a inflação esteja em trajetória de queda, o indicador permanece fora da meta estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

“Pode ter alguma divergência [entre os membros do Copom], mas o ponto principal é olhar o que a conjuntura econômica prescreve em termos de política monetária”, afirmou a economista Julia Gottlieb, do Itaú.

Assim como Ramos, ela lembrou que a dinâmica de núcleos de inflação – que medem o comportamento dos preços desconsiderando ou reduzindo o peso de fatores temporários sobre os índices – e expectativas de inflação ainda estão acima da meta.

Um estudo do banco obtido pela Folha mostra que os ciclos anteriores de cortes da Selic que começaram com cautela foram bem-sucedidos em levar a inflação para perto da meta, possibilitando um equilíbrio final de juros mais baixos por mais tempo.

Redação iCL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo

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