Projetos eleitoreiros tentam adiar reajuste na conta de luz

De olho na reeleição, governo tem avançado com diferentes ideias para que os reajustes de energia não saiam do papel neste ano
10 de maio de 2022

Um decreto legislativo, que tenta impedir o reajuste na conta de luz do Ceará, pode evoluir para uma negociação maior, que preserve o contrato com a empresa, mas consiga postergar aumentos tarifários mais elevados em todo o país. A perspectiva é traçada por diferentes relatórios de bancos internacionais.

O Projeto de Decreto Legislativo 94/22, do deputado Domingos Neto (PSD-CE), prevê a suspensão do aumento de 24% na energia elétrica dos consumidores atendidos pela Enel Ceará – reajuste na conta de luz já autorizado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O problema é que esse decreto pode evoluir para uma negociação maior, postergando aumentos tarifários mais elevados em todo o país. A proposta foi mal recebida pelo setor privado. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) divulgou nota, nesta segunda-feira (09), qualificando o projeto como “populista e eleitoreiro.


A urgência para a tramitação do projeto foi aprovada na terça-feira (3). Assim, o texto não passa pelas comissões, pode ser colocado em votação a qualquer momento e não precisa nem de sanção presidencial.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), no entanto, afirmou que a discussão deve incluir outros estados com reajustes acima de 15%.

O decreto também foi interpretado como uma ameaça a todo o sistema de tarifas, podendo abrir precedente para quebra de contratos e interferências nos reajustes de outros setores com algum tipo de regulação, como saneamento, telefonia, bancário, aeroportos, portos, ferrovias e pedágios.

Os analistas que acompanham a área não acreditam que os parlamentares vão determinar a quebra dos contratos, mas cogitam que a discussão no Congresso com representantes da agência e do governo possa evoluir para outras alternativas que, ao final, aliviariam o peso dos reajustes neste ano.

Importante ressaltar que as regras de cálculo tarifário são discutidas abertamente com integrantes de setor, incluindo empresas, representantes de clientes e especialistas em energia, e revisadas periodicamente em audiências públicas. Os contratos de concessão, por sua vez, são outorgados pelo Ministério de Minas e Energia. Ou seja, qualquer negociação ainda exigiria a participação do governo federal.

Dessa forma, os contratos não podem ser alterados sem o consentimento de todas as partes, incluindo as empresas, afirma o texto. Dito isto, caso os aumentos tarifários não cumpram as regras incluídas nos contratos (aprovadas pelo regulador), as empresas têm o direito de receber uma compensação (diferença tarifária integral) e os contratos seriam considerados descumpridos.

Em ano eleitoral, governo quer mudar planos da privatização da Eletrobras para limitar reajuste na conta de luz

O governo também cogita mudar os planos do uso dos recursos da privatização da Eletrobras para limitar ao máximo o reajuste na conta de luz antes de os brasileiros irem às urnas. A ideia em discussão inclui mudar a modelagem de venda da estatal que está sob avaliação do TCU (Tribunal de Contas da União).

A versão que será julgada pelos ministros do órgão de controle no próximo dia 18 prevê o pagamento pela Eletrobras de uma outorga de R$ 25 bilhões à vista ao Tesouro Nacional e de R$ 32 bilhões em parcelas anuais ao longo de cinco anos a serem depositados na CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), usada para abater os preços por meio de subsídios do Tesouro Nacional.

O problema, segundo técnicos do TCU, é que o tribunal já tinha discutido a antecipação dos recursos à CDE e travou o valor desse abatimento em R$ 5 bilhões. Proposta diferente teria de ser novamente submetida ao crivo dos ministros, o que pode atrasar ainda mais o processo com um possível pedido de vista.

Membros do Executivo reconhecem que o plano está sendo desenhado para evitar o impacto eleitoral dos reajustes. Eles também reconhecem que o mecanismo deve afetar as contas públicas, mas defendem que é possível ser menos rigoroso com os dados fiscais para evitar os aumentos.

Suspensão de aumentos de tarifa pela Aneel é discutida no Congresso. A classe política tem avançado com diferentes ideias para que os reajustes de energia não saiam do papel neste ano, o que pode causar diferentes efeitos, como um acúmulo de reajustes para o ano que vem ou o uso de recursos públicos para tapar o buraco das empresas.

A Câmara aprovou a urgência de um projeto de decreto legislativo para suspender aumentos em tarifas de energia aprovados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), muitos deles próximos dos 20%.

A ideia é adiar o impacto para 2023, evitando repercussão no bolso dos consumidores em ano eleitoral. A proposta foi apresentada pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE) sob o argumento de evitar que a conta de luz seja “o grande vilão da inflação”.

Redação ICL Economia

Com informações das agências de notícias

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