O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na segunda-feira (13) que não vê risco de uma crise sistêmica na economia global a partir das quebras de dois bancos nos Estados Unidos, anunciada no final de semana. Durante live promovida pelo Valor Econômico em parceria com O Globo, o ministro repetiu que o Brasil tem “gordura” para viabilizar uma queda nos juros básicos da economia. O ministro abordou o tema do fechamento de dois bancos: o Signature Bank, com sede em Nova York; e o Silicon Valley Bank (SVB) que costumava financiar startups.
Fernando Haddad avaliou que as tensões com instituições financeiras não devem conter um eventual processo de corte do juro básico no Brasil. Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano – o maior nível em seis anos. Após o aumento de gastos públicos neste início de ano, para recompor o orçamento federal, e de críticas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central, comandado por Campos Neto (indicado por Jair Bolsonaro), analistas do mercado passaram a estimar que a queda dos juros terá início somente em novembro deste ano.
Porém, recentemente, com a crise da Americanas, o jogo virou. Segundo o economista e comentarista do ICL Notícias André Roncaglia, em artigo publicado ontem (9) na Folha de S. Paulo, no início o mercado entendia que o maior risco à economia brasileira “era exclusivamente fiscal” e “isso permitia entrincheirar a postura de cobrar do governo indicações de responsabilidade fiscal”. No entanto, percebeu-se o risco real: uma crise de crédito no país. Agora, diversos analistas de mercado já projetam uma queda dos juros antecipada diante de efeito Americanas sobre o crédito
Fernando Haddad disse que o sistema bancário é muito robusto no Brasil e cumpre “com folga” acordos internacionais
Questionado se a crise dos bancos pode afetar o Brasil, Fernando Haddad disse que o sistema bancário é muito robusto no Brasil e cumpre “com folga” acordos internacionais (Basileia 1 e 2) – o que garantiria solidez para lidar com as oscilações do mercado. Haddad ainda explicou que o SVB é um banco regional, com carteira “descasada” do restante do sistema financeiro e que não viu ninguém tratar como Lehman Brothers.
Para Fernando Haddad, o Brasil tem espaço, mesmo em turbulência internacional, para harmonizar política fiscal [sobre as contas públicas] e política monetária [definição dos juros para conter a inflação] para ancorar e navegar em mares internacionais revoltos, pois nossa posição permite isso. “Vamos ver o tamanho do estrago fora, mas penso que estamos preparados”, concluiu.
Haddad observou que o Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos, agiu no fim de semana e acrescentou que o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, deve analisar eventuais providências em relação aos possíveis efeitos desses eventos nas economias periféricas.
“Isso não está claro ainda, vamos acompanhar ao longo do dia. Eu e Galípolo [secretário-executivo do Ministério da Fazenda], que também veio do sistema financeiro, estamos em sintonia fina com os bancos brasileiros. Falei com dois banqueiros hoje, e com o BC. Vamos ter mais clareza ao longo do dia”, afirmou Haddad.
No evento, Haddad também afirmou que espera ver a reforma tributária aprovada pelo Congresso até outubro – e descartou a volta de um imposto sobre movimentações financeiras, nos moldes da antiga CPMF.
Redação ICL Economia
Com informações do G1