Rede Americanas pede mais prazo à Justiça para esmiuçar lista de credores e passivos. Fundos dos EUA decidem vender ações da empresa

Advogados da varejista pediram mais 48 horas para apresentar à Justiça a lista completa de credores, sob o argumento de que o prazo dado na sexta-feira passada para que a lista se tornasse pública não terminou ontem (segunda), mas vai, na verdade, até amanhã
24 de janeiro de 2023

Depois de a Justiça empresarial do Rio de Janeiro ter aceitado o pedido de recuperação judicial da rede Americanas na quinta-feira passada, agora, a varejista pediu prazo até amanhã (25) para apresentar a lista completa de credores, que passam dos 16,3 mil, e o montante devido a cada um. Em outra frente, a rede varejista enfrenta um revoada de investidores, dentro e fora do país, temerosos de que sua situação seja pior do que reportado até o momento.

No último dia 19, a empresa ingressou com pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, alegando dívidas de R$ 43 bilhões. No mesmo dia, o juiz Paulo Assed Estefan aceitou o pedido de recuperação judicial e deu prazo de 48 horas para que a empresa apresente a lista completa de credores e a discriminação do passivo. Contudo, o magistrado não especificou a partir de quando esse prazo seria contado.

Por essa razão, os advogados da rede varejista pediram mais 48 horas para apresentar à Justiça a lista completa de credores, sob o argumento de que o prazo dado na sexta-feira passada para que a lista se tornasse pública não terminou ontem (segunda), mas vai, na verdade, até amanhã. Porém, o protocolo para esses casos é que uma empresa, ao pedir recuperação judicial, já anexe ao processo a lista completa de credores.

Entretanto, como a Americanas requereu antecipadamente uma tutela cautelar preparatória de recuperação judicial, anexou apenas o que seria a “primeira parte” da lista, sem apontar todos os funcionários e fornecedores que têm dívidas a receber da companhia, nem os valores devidos a cada um.

Silêncio de maiores acionistas da rede Americanas jogou pulga atrás da orelha de investidores

À medida que o tempo passa, mais perguntas surgem a respeito da real situação da rede Americanas. O caso estourou no dia 10 de janeiro, quando foi noticiada a saída do então CEO, Sergio Rial, a pedido dele mesmo. Com apenas 10 dias no cargo, Rial descobriu o que seria “uma inconsistência contábil” de R$ 20 bilhões na empresa. Contudo, com o passar dos dias, descobriu-se que o rombo era maior.

O que fica claro desde então é que a Americanas cometeu o que se chama de pedaladas contábeis para esconder dívidas. O surpreendente disso tudo é que, como, em apenas 10 dias no cargo, Rial descobriu aquilo que ninguém viu até então?

Outro fato surpreendente foi a falta de comunicação da empresa sobre o episódio. Somente dias depois de vir a público o escândalo contábil, os maiores acionistas da varejista, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, da 3G Capital, se manifestaram sobre o caso.

No último domingo, eles divulgaram carta conjunta na qual afirmam que jamais tiveram conhecimento e nunca admitiriam quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Que a atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Que isso foi determinante para a posição que alcançaram em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.

Além disso, também disseram que a Americanas é uma empresa centenária e, nos últimos 20 anos, foi administrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada. Também apontam que os acionistas afirmaram que contavam com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Que ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Que nem essas instituições financeiras, nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.

Temor de que situação seja pior do que o divulgado faz fundos dos EUA venderem ações da companhia

O dano, no entanto, está posto. A quebra de confiança dos detentores de ações da companhia já tem provocado estragos e já há quem avalie que, muito possivelmente, a Americanas vai se recuperar desse tombo, que já tirou bilhões de seu valor de mercado e está fazendo as ações da varejista derreterem na Bolsa brasileira.

No exterior, fundos norte-americanos têm preferido vender ações da companhia e sair no prejuízo a seguir apostando na empresa. De acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, dois dos maiores acionistas minoritários da varejista, a gigante Capital Group, com sede em Los Angeles, e o Teachers Insurance and Annuity Association of America (TIAA), um dos maiores fundos de pensão de professores dos Estados Unidos, puxaram a fila. Outro nome de peso no capital da Lojas Americanas é a BlackRock, maior gestora de recursos do mundo.

Somente em janeiro, os papéis da Lojas Americanas já acumulam perdas de mais de 90%. No exterior, os títulos de dívida (bonds) tiveram queda semelhante e chegaram a ser negociados a apenas US$ 0,10 na tarde da sexta-feira.

Nesta terça-feira (24), a Capital International Investors, que pertence à gigante norte-americana Capital Group, informou que reduziu a sua fatia na Americanas de 5,45% para 4,07%. A operação foi realizada em 20 de janeiro, um dia após a Americanas ter entrado com um pedido de recuperação judicial, conforme comunicado divulgado ao mercado ontem (23). Naquele dia, o papel caiu 29%, e fechou em R$ 0,71. Também no dia 20, a ação deu adeus ao índice Ibovespa.

Uma fonte próxima a um dos fundos disse à reportagem do Estadão que “a briga está exigindo um pouco de estômago. Lendo as petições apresentadas, encarar esse cenário não é para qualquer um. Fora a questão reputacional”.

Em suma, a Americanas, cujas ações já valeram muito na Bolsa, precisará de muito trabalho para recuperar a sua reputação. Se recuperar, é bom frisar.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Estado de S.Paulo

 

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