Conselho vai rediscutir pagamento de dividendos da Petrobras. Prates fica no cargo e Haddad indicará novo conselheiro

Mudança no conselho da companhia visa a mudar correlação de forças para o time do governo na empresa, permitindo que o CEO da Petrobras tenha voto de desempate em questões polêmicas.
12 de março de 2024

Depois da reunião ocorrida ontem (11) no Palácio do Planalto para tentar debelar o incêndio em torno da Petrobras, ficou decidido que o conselho da companhia vai rediscutir a decisão que barrou o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas da empresa.

No entanto, a empresa só vai voltar atrás a respeito de não pagar dividendos extraordinários – anúncio que tem provocado um barulho desnecessário no mercado desde a última sexta-feira (8) – se ficar comprovado que o pagamento não vai comprometer o plano de investimentos da estatal, como vem defendendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ontem, o presidente Lula se reuniu com o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil), além de outros membros do governo.

Na última quinta-feira (7), quando os conselheiros aprovaram as demonstrações financeiras da companhia houve divisão em relação à distribuição de dividendos extraordinários, dando início à crise atual.

A grande imprensa chegou até a noticiar que Prates poderia deixar o cargo, mas, após o encontro de ontem, ele confirmou sua permanência.

Segundo informações da Folha de S.Paulo, há uma rixa interna entre Prates e Silveira. Fontes ouvidas pelo jornal disseram que Lula teria sido induzido a erro pela pasta de Silveira, ao barrar todo o pagamento de dividendos extras aos acionistas.

Ainda de acordo com a reportagem, o MME e Pietro Mendes, presidente do conselho de administração da Petrobras, fizeram a defesa da retenção integral dos dividendos, sob o argumento de que o pagamento poderia tirar recursos da companhia de tal forma que comprometeria os aportes de longo prazo.

Por sua vez, a diretoria da empresa defende que pagar 50% dos dividendos extraordinários não prejudica os investimentos.

Além disso, membros da Petrobras passaram os últimos dias afirmando ainda que os dividendos extraordinários nem poderiam ser usados para investimentos. Os recursos estariam. agora, em uma reserva para pagamentos futuros da remuneração aos acionistas.

Para debelar o imbróglio, o governo decidiu, então, reavaliar o assunto.

Fazenda vai voltar a ter cadeira no conselho da Petrobras para equilibrar correlação de forças

Na reunião de ontem, ficou decidido que o conselheiro Sergio Rezende vai ser substituído por um integrante da equipe econômica, e o nome mais provável é o do assessor especial para a transição energética Rafael Dubeaux. Outra alternativa, conforme publicado pelo blog da jornalista Malu Gaspar, em O Globo, é João Paulo de Resende, outro assessor do ministro para essa mesma área.

De acordo com a jornalista, a mudança pode inverter a correlação de forças no time de Lula no conselho e dar a Jean Paul Prates um voto valioso no desempate de questões controversas dentro do próprio governo.

A União tem seis dos onze conselheiros da Petrobras, incluindo Prates, mas quatro deles são ligados a seus adversários políticos – Alexandre Silveira e Rui Costa.

Por essa razão, Prates já teria sido voto vencido em questões importantes. Na última, houve seis votos pelo não pagamento dos dividendos, com que Haddad não concorda. Os quatro minoritários votaram pelo pagamento de 100% dos R$ 43,9 bilhões. Prates era contra e queria pagar metade do valor, mas se absteve.

Caso Haddad indique um conselheiro, questões como essa poderiam ter um placar oposto – caso, por exemplo, Prates e o representante da Fazenda votassem junto com os minoritários.

Segundo informações do blog, Haddad já vinha trabalhando internamente para ter um conselheiro na Petrobras desde o ano passado, quando o debate em torno do aumento do preço dos combustíveis esquentou o clima no governo e levou a uma intensa rodada de negociações internas.

Ontem, ao sair da reunião no Planalto, Haddad falou à imprensa. Ele pontuou que o Tesouro Nacional tem 38% das ações da companhia e também seria beneficiado pela distribuição de dividendos, mas que há busca por um equilíbrio entre repassar os dividendos e manter um plano de investimentos que gere desenvolvimento para o país.

Segundo ele, a Fazenda não vai se opor ao pagamento extra — por outro lado, disse que o Orçamento não depende disso.

“A Fazenda não fez um Orçamento contando com distribuição de dividendos extraordinários. Não é prática da Fazenda fazer isso. Se eles vierem a ser distribuídos, melhoram as nossas condições. Mas nós não estamos dependendo disso para performar”, disse.

Em entrevista ao SBT, Lula fala em “choradeira” do mercado

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Reprodução: SBT/YouTube

O presidente Lula (PT) comentou ontem, em entrevista ao SBT, que a Petrobras tem de pensar nos 200 milhões de brasileiros que são donos, sócios dela, não apenas acionistas.

Ele também chamou o mercado financeiro de “dinossauro voraz”, que quer tudo para ele.

“O que eu acho é que a Petrobras, que é empresa em que o governo tem ascendência sobre ela, é importante ter em conta o seguinte: a Petrobras não é apenas uma empresa de pensar nos acionistas que investem nela, porque a Petrobras tem que pensar no investimento e pensar em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou sócios dessa empresa”, disse.

“Se eu for atender apenas a choradeira do mercado, você não faz nada. Porque o mercado, vou contar uma coisa para vocês, mercado é um rinoceronte, dinossauro voraz. Ele quer tudo para ele, nada para o povo. Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome?”, questionou.

Ele ainda comentou as recentes pesquisas que mostram queda em sua popularidade, a despeito de muitos indicadores, incluindo os econômicos, terem melhorado no país.

O petista disse saber que seu governo ainda está “muito aquém” do que prometeu e que não há razão para ter 100% de popularidade.

“Até agora, preparamos a terra, aramos, adubamos e colocamos a semente. Cobrimos a semente. Este é o ano em que vamos começar a colher o que plantamos”, disse Lula na entrevista gravada na manhã de ontem.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo, SBT e O Globo

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