A renda do trabalhador brasileiro vem perdendo espaço de participação no PIB (Produto Interno Bruto), enquanto os lucros das empresas têm crescido. Esse movimento vem ocorrendo, principalmente, por mudanças para pior no mercado de trabalho, como a “pejotização”, que faz com que o salário pago a esse trabalhador seja considerado lucro.
Além disso, esse cenário denota a alta da desigualdade no país, retirando, por exemplo, o poder de compra do trabalhador.
De acordo com reportagem do jornal O Globo, em 2016, a renda dos assalariados representava 44,7% do PIB. A partir do ano seguinte, começou a cair e hoje está abaixo de 40%.
Segundo o PIB medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pela ótica da renda (que divide a economia entre capital e trabalho), essa fatia chegou a 39,2% em 2021, último dado disponível, sendo o menor desde 2004. Para especialistas, ainda não houve recuperação.
Para efeito de comparação, dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), coalizão que reúne as economias mais avançadas, mostram que os países mais desenvolvidos têm participação da remuneração dos empregados mais próxima de 50%.
Na zona do euro, por exemplo, essa participação é de 48,2%; nos Estados Unidos chega a 53,8%; e no Reino Unido, a 50,6%. Já nos países em desenvolvimento, como o Brasil, essa parcela cai bastante, abaixo dos 40%. No Chile, o percentual é de 37%; na Colômbia, de 34%; e no México, 26,9%.
Voltando ao caso brasileiro, enquanto a renda dos assalariados perdeu espaço, o lucro das empresas ganhou: passou de 32,1% em 2015 para 37,5% do PIB brasileiro em 2021, maior fatia da série histórica, iniciada em 2000.
Precarização do mercado de trabalho, como a “pejotização”, explica queda da participação dos salários no PIB
Para economistas ouvidos pelo O Globo, são três os fatores que contribuem para essa nova tendência: queda da renda do trabalho; redução de vagas e aumento dos lucros com digitalização e automação; e “pejotização”, quando o empregado é contratado como PJ (pessoa jurídica) em vez de carteira assinada. Isso faz com que o rendimento do trabalho seja considerado lucro de empresa. Vale ressaltar que o início da queda da participação dos salários no PIB, em 2016, é quando acontece o impeachment de Dilma Rousseff e, logo em seguida, a “reforma trabalhista” de Michel Temer, que justamente precarizou as relações de trabalho.
“Há duas maneiras de ver a desigualdade: do ponto de vista da renda pessoal e dessa distribuição funcional da renda, entre capital e trabalho. Nessa medida não conseguimos identificar a desigualdade entre os trabalhadores, mas vemos que há mais renda apropriada pelo capital e menos pelos trabalhadores”, disse Kátia Namir, gerente de Renda e Investimento de Contas Nacionais do IBGE, ao O Globo.
Dados mais recentes da Pnad, também do IBGE, apontam que a massa de rendimentos do trabalho contribuiu com 32% do PIB no fim do ano passado. Houve uma recuperação após a queda forte da pandemia, em 2020, mas ainda não foi suficiente para voltar o patamar pré-pandemia (cerca de 35%). O nível atual é o mesmo de 2014.
Na avaliação de economistas consultados para a reportagem, para inverter essa tendência os salários teriam que subir mais que o PIB e a produtividade da economia.
O governo Lula mudou a política de valorização do salário mínimo, que leva em conta inflação e o crescimento do PIB. Essa política vigorou durante os governos petistas, mas foi abandonada em 2019, retornando somente este ano.
Outro aspecto abordado por Margarida Gutierrez, professora do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foi o forte investimento do setor de serviços, o que mais emprega no país, em informatização, aumentando os lucros.
“Com o avanço da Tecnologia de Informação [TI], as plataformas de comercialização [como lojas on-line], houve um aumento do volume de capital no setor de serviços”, disse.
Segundo especialistas entrevistados pelo jornal, o que acabou favorecendo o consumo nos últimos anos foram os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, aposentadorias e pensões, que não são contabilizadas especificamente nesse tipo de cálculo do PIB.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo