Pela primeira vez desde 2022, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic. Dentro do esperado, o ajuste para cima foi de 0,25 ponto percentual. Assim, a taxa básica de juros passa de 10,50% para 10,75% ao ano, uma das mais altas do mundo.
Os nove diretores do comitê voltaram pelo aumento dos juros, incluindo o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para substituir Roberto Campos Neto na presidência da autoridade monetária a partir de janeiro de 2025.
Como tem feito nas últimas reuniões, o colegiado abandonou o guidance, mas sugere que novas altas podem vir no futuro, uma vez que destaca que a autoridade monetária continuará perseguindo a meta inflacionária fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3% (centro) neste e no próximo ano, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para cima (4,5%) e para baixo (1,5%).
No comunicado divulgado com a decisão hoje, o Copom avaliou que o atual cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista.
A decisão é ruim para o mercado de crédito, para os investimentos, para a dívida pública e para a economia no geral, após começar a engrenar.
Ainda segundo o comunicado, “o Comitê avalia que há uma assimetria de alta em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”. Entre os riscos, são citadas a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado, uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto inflacionário.
Entre os riscos de baixa, foram ressaltados a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Decisão do Copom vem após “Pibão” no 2º tri, deflação em agosto e na contramão do que estão fazendo os bancos centrais
A decisão do Copom veio depois que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou avanço de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre e deflação no mês de agosto.
Com a decisão, o Copom vai na contramão dos bancos centrais do mundo, que estão reduzindo os juros, como o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que anunciou mais cedo hoje queda de 0,50 ponto percentual nos juros.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”
Leia o comunicado do Copom na íntegra abaixo:
“O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência (Tabela 1).
O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.”
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias