Super-ricos do Brasil pagam metade do imposto de renda da classe média. Fatia que representa 0,01% da população acumula, em média, R$ 151 milhões

No País, quem tem renda média superior a 320 salários mínimo (R$ 422 mil mensais) paga uma alíquota efetiva de 5,43% de Imposto de renda. Já a classe média paga a alíquota de 11,25% de imposto de renda entre os que ganham 15 a 20 salários mínimos
1 de setembro de 2023

A fatia de 0,01% da população mais rica do Brasil, cerca de 20 mil pessoas, acumula em média R$ 151 milhões de estoque de riqueza (total do patrimônio, descontadas as dívidas). Apesar da alta cifra, os super-ricos no país pagam metade do percentual de IRPF (imposto de renda de pessoa física) se comparados a algumas faixas da classe média. O levantamento, publicado na reportagem do site UOL, foi feito pela ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades), que reúne mais de 50 entidades do Brasil, sob coordenação do empresário Oded Grajew.

O principal motivo que faz com que os ricos tenham uma alíquota menor de imposto de renda é que uma parcela relevante de sua renda vem do recebimento de lucros e dividendos das suas empresas, que são isentos de pagamento de imposto desde 1996.

Ao todo, o estudo da ABCD traz uma seleção com 42 indicadores de 12 temas. Os dados foram retirados de fontes de dados públicos e confiáveis. O processo de seleção e cálculo dos indicadores foi coordenado por um grupo de trabalho que compõe o Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, com apoio técnico do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

No Brasil, 7,6 milhões de pessoas estão em situação de extrema pobreza, vivendo em domicílios cuja renda per capita é inferior a R$ 150 por mês. Isso equivale a 2,8% da população, de acordo com os dados de 2022 do IBGE. Os 10% mais ricos ganham 14,4 vezes mais do que os 40% mais pobres, em média. O dado é referente ao rendimento mensal domiciliar per capita.

A desigualdade se mostra também quando se trata de pagamento de impostos. Quem tem renda média superior a 320 salários mínimo (R$ 422 mil mensais) paga uma alíquota efetiva de 5,43% de imposto de renda, segundo dados do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil. A alíquota efetiva é o percentual verdadeiro de imposto que a pessoa paga sobre seus rendimentos.

Enquanto isso, a classe média acaba sendo a maior pagadora de imposto de renda, chegando a 11,25% entre os que ganham 15 a 20 salários mínimos (entre R$ 19,8 mil e R$ 26,4 mil).

Quem ganha menos paga mais imposto em função da tributação indireta, quando um imposto é embutido no valor final de um produto ao consumidor. No Brasil, os 10% mais pobres pagam 26,4% da sua renda em tributos, enquanto os 10% mais ricos apenas 19,2%. Os dados são do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

O economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, explica que essa realidade no Brasil, em que o pobre paga mais imposto em detrimento dos mais ricos, é inconstitucional. “A Constituição obriga quem tem mais capacidade a contribuir mais percentualmente”, afirma.

Mudanças no imposto de renda e taxação de fundos exclusivos devem fazer parte de uma política de justiça social

kit covid, R$ 90 bilhões, incentivos fiscais, Fernando Haddad, 3G Capital, trabalho escravo, Justiça do Trabalho, tribunal de contas, Justiça, Justiça do Trabalho, centrais sindicais, carta em apoio, Elon Musk, acordo de compra, uso de precatórios, empresa 123milha, imposto de renda

Crédito: Envato

Segundo Eduardo Moreira, os super-ricos contam com escritórios de advocacia e departamentos jurídicos para reduzir o imposto de renda devido à Receita Federal.

Por isso, para Moreira, uma política de justiça fiscal não deve se restringir a taxação dos fundos exclusivos, que são de extrema importância, ou à concessão de descontos a fundos offshore que antecipem pagamento de imposto, por exemplo. “Justiça social é mudança no sistema tributário de verdade”, afirma o economista e fundador do ICL.

Também há distorções regionais marcantes na desigualdade. Na nordeste, por exemplo, a renda média da fatia dos 10% mais ricos é 17,2 vezes maior que a dos 40% mais pobres. No norte, é 13,6 vezes a mais; seguido pelo sudeste (13,1 ), centro-oeste (12,2 ) e sul do País (10,10).

As diferenças regionais ficam ainda mais marcantes quando se olha o mapa da extrema pobreza no país: 6,4% das pessoas no Maranhão vivem com até R$ 150 por mês; esse percentual é de 1,3% em Santa Catarina.

Uma fatia de 8,4% das famílias não tem casa própria e estão na lista de déficit habitacional, segundo a Fundação João Pinheiro com dados estimados de 2019.

O estudo também indica que a desigualdade se divide quando estratificada em gênero e raça. Homens brancos têm melhores desempenho em todos os indicadores

Renda média do brasileiro por raça e gênero é de R$ 1.663 por mês para mulher negra, R$ 2.789 para mulher branca, R$ 2.288 para homem negro e R$ 3.929 para homem branco.


Redação ICL Economia
Com informações do site UOL

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.