Trump será ausência onipresente na Cúpula de Líderes do G20, que começa nesta 2ª feira no Rio

Ontem (17), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alguns chefes de Estado para reuniões bilaterais.
18 de novembro de 2024

Sob a presidência transitória do Brasil, a Cúpula de Líderes do G20 acontece, entre esta segunda-feira e amanhã (18 e 19), no Rio de Janeiro, com ao menos um grande desafio pela frente: a ameaça ao multilateralismo depois da vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos. Além disso, há divergência entre os países a respeito das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

Ontem (17), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alguns chefes de Estado para reuniões bilaterais. O presidente explicou as prioridades da presidência brasileira no G20 à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Ela lembrou que são 800 mil cidadãos italianos e 30 milhões de descendentes de italianos no Brasil, e, com isso, essa sua primeira viagem à América Latina não esgota a necessidade de uma nova visita ao país.

Meloni disse que as empresas italianas têm planos de investir no Brasil 40 bilhões de euros, e falou sobre a atualização dos acordos de parceria e cooperação econômica entre os dois países. O presidente também teve uma reunião com Ursula von der Leyena, presidenta da Comissão Europeia, sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

Os diplomatas dos países do fórum, que reúne as 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana, passaram o fim de semana debruçados na construção do documento final da cúpula, cujo tema principal é a taxação de super-ricos para combate à fome e à pobreza, além de ações para mitigar as mudanças climáticas. No entanto, a Argentina mostrou-se voz contrária ao documento.

Se aprovado por todos, o documento será assinado pelos chefes de Estado nesta terça-feira. O G20 precisa chegar a um consenso para aprovar um comunicado.

Porém, representantes alinhados às posições de Donald Trump, como o argentino Javier Milei, ameaçam constranger o Brasil e não aceitar uma declaração final conjunta.

Para enfrentar essa divergência, discute-se optar por um comunicado fragmentado, destacando os temas de oposição da Argentina. Isso já foi usado no G20 durante o governo Trump.

A vitória do republicano no início deste mês jogou um balde de água fria entre os defensores de consensos multilaterais criados em fóruns como o G20. O bilionário é adepto do isolacionismo internacional e econômico, com a política externa que batizou de “América Primeiro”, com desprezo aos organismos de governança global.

Trump é abertamente contra as pautas centrais da cúpula no Brasil como mudanças climáticas e a taxação de super-ricos.

Declaração final da Cúpula do G20 não deve citar Israel e Rússia

A tendência é que a declaração final da Cúpula de Líderes G-20 no Rio não cite Israel e Rússia, dois dos países envolvidos em guerras. Aliás, a palavra “guerra” também não é mencionada na mais recente versão do texto, ainda passível de mudanças. O termo usado agora é “conflito”.

Por sua vez, o Itamaraty diz que o recado principal do G20 deve ser a busca da paz. A discussão é um dos temas mais complexos do bloco, pois opõe membros do G7, aliados da Ucrânia, e o Sul Global – este se coloca ora em favor da Rússia, ora como neutro.

O assunto travou os trabalhos nas duas últimas edições do G20, em 2022 (Bali, Indonésia) e 2023 (Nova Délhi, Índia). Entre as cúpulas indonésia e indiana, a declaração do grupo sobre a guerra no Leste Europeu foi abrandada em favor da Rússia.

Enquanto os líderes se reuniam no Rio no domingo, a Rússia promoveu um forte ataque contra a Ucrânia. O governo de Joe Biden (EUA), por sua vez, autorizou que a Ucrânia utilize mísseis americanos de longo alcance contra a Rússia.

Até então, os EUA haviam autorizado apenas o uso de seus lançadores de foguetes HIMARS. O temor é que o uso de armas americanas na Rússia levem o presidente russo, Vladimir Putin, a considerar como um ataque direto da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a retaliar seus membros.

O americano Joe Biden estará presente na cúpula. Já o presidente russo, Vladimir Putin, não veio ao Brasil, devido à ameaça de uma ordem de prisão internacional. Ele será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. O governo Lula rejeitou apelos de Kiev para que convidasse o presidente Volodmir Zelenski ao Rio.

Outro tema espinhoso, a guerra no Oriente Médio, que começou após a edição do G20 de 2023, em Nova Délhi. Ainda ocorrem tentativas nas negociações diplomáticas de inserir palavras mais críticas a Israel, sem mencionar o país, junto à necessidade de garantir assistência humanitária ao território palestino (Faixa de Gaza). A pressão vem da Arábia Saudita, Egito e países árabes, além da África do Sul.

A reunião de líderes no Rio terá ao todo 55 delegações, entre países-membros, convidados e organizações internacionais.

Biden anuncia US$ 50 mi para o Fundo Amazônia

Em sua presidência transitória, o Brasil escolheu três pilares de discussão pelas lideranças internacionais: combate à fome e à pobreza; reforma dos organismos de governança internacional; e transição energética e desenvolvimento sustentável.

O primeiro tópico da agenda tende a ser o único que terá avanço concreto, com o anúncio das adesões à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. A tendência é de resultados tímidos nas duas outras frentes.

A questão climática é outro ponto que provoca divergências no bloco, devido ao fato de que os países ricos jamais cumpriram a promessa de financiar a descarbonização. Isso porque os países ricos exigem que os países em desenvolvimento – como China e Índia, grandes poluidores – também paguem a conta da transição energética e mudança climática, o que é considerado por essas nações e, também, pelo Brasil.

Durante entrevista em Manaus na tarde de ontem, o presidente Joe Biden anunciou o investimento de US$ 50 milhões (R$ 289,5 milhões) para o Fundo da Amazônia. A verba – que precisa do aval do Congresso americano – se soma a outros US$ 50 milhões prometidos em fevereiro de 2023, durante visita aos EUA do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na época, o governo brasileiro considerou o anúncio da Casa Branca decepcionante. Semanas depois, em abril de 2023, Biden afirmou que a intenção do país de contribuir com US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, ao longo de cinco anos.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e site do G20

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