Conforme as apostas de analistas, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve anunciar no início da noite de hoje (21) a manutenção da taxa de juros Selic em 13,75% ao ano, o mesmo patamar em que tem sido mantida desde setembro do ano passado e o mais alto desde 2016. A despeito de toda a pressão que vem sendo feita e dos bons indicadores econômicos recentes da economia brasileira, o colegiado deve manter o pé na ortodoxia.
Contudo, existe a expectativa de que, no comunicado que será divulgado com a decisão, o Copom sinalize o início da trajetória de queda para agosto, com um corte de 0,25 ponto percentual.
A previsão anterior dos analistas era de que o início do processo de redução dos juros, pelo BC, aconteceria somente em meados de setembro. Para o fim de 2023, de acordo com informações do Boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro já projeta um juro básico de 12,25% ao ano.
Na segunda-feira passada (19), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o corte na Selic “já deveria ter sido em março”. Questionado sobre sua expectativa sobre a reunião de hoje, ele comentou: “Vamos ver, vamos aguardar”.
Mas, diante dos índices positivos do cenário econômico, com PIB (Produto Interno Bruto) mais alto que o esperado, inflação em baixa, câmbio e juros futuros também em baixa, o próprio Haddad já ameaça engrossar o coro contra o Banco Central e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, a exemplo do que tem feito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na edição de segunda-feira passada do Conversa com o Presidente, live transmitida via redes sociais do governo e do próprio Lula, o petista voltou a criticar o atual patamar da taxa Selic. “Apenas o juro precisa baixar, porque também não tem explicação. O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque eu já sei o porquê ele não baixa, mas ao povo brasileiro e ao Senado”, disse.
A empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, também foi outra que cobrou de Campos Neto, em evento do setor de varejo realizado em São Paulo na semana passada, quando a taxa de juros vai começar a cair.
Para economista Monica de Bolle, BC está atrasado no processo de redução da taxa de juros
Em entrevista à edição de ontem (20) do podcast O Assunto, a economista Monica de Bolle, que é pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, avaliou que o Banco Central “perdeu o timing” da redução da taxa de juros e, portanto, está atrasado.
“A gente sabe que as famílias brasileiras estão endividadas, que as empresas brasileiras estão endividadas e que essa taxa de juros é danosa para as empresas e famílias”, disse. E complementou: “quanto mais tempo as taxas de juros estiverem altas, menos capacidade de pagamento elas têm”.
Na opinião dela, a postura do BC não é somente técnica, mas também política. “O Banco Central faz parte do governo. Acho que às vezes isso é esquecido no Brasil”, destacou. “Na tentativa de preservar sua independência, o Banco Central só resolveu tomar uma atitude um tanto extrema de fincar o pé nessa Selic de 13,75%, e assegurar que só ia mexer na taxa quando lhe conviesse, para não dar a impressão de que estava fazendo uma redução de juros porque havia pressões vindo de outras partes do governo. No Brasil, isso teve uma importância enorme, o que no final das contas é um grande infortúnio para nós”, frisou.
Ela também acredita que a decisão de baixar os juros não vem na reunião de hoje por dois motivos: a necessidade de comunicação prévia, o que o Copom não fez da última vez, e o cenário turvo que os bancos centrais de todo o mundo enfrentam diante da resistência da inflação nos países desenvolvidos.
A economista ainda explicou que o efeito da redução da Selic só tem efeito na economia pelo menos seis meses depois, e que a relutância do BC em baixar os juros chega a causar “perplexidade”, a despeito do cenário externo e da queda de braços com o Executivo.
Na ata da reunião do Copom realizada em maio, o BC ainda avaliava que a pressão inflacionária ao consumidor continuava “elevada” e que as expectativas de inflação para os próximos anos seguiam “desancoradas” (acima das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional). E dizia que era necessário “serenidade e paciência” na definição do juro para tentar cumprir as metas.
Neste momento, a instituição já está mirando na meta do ano que vem, de 3%, e que será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1