Pelos recentes prognósticos econômicos, o Brasil está perto de não estourar a meta de inflação este ano, cujo centro foi fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,25%, com oscilação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Nos últimos dois anos, houve estouro da meta e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, teve de dar explicações.
No início do ano, era dado como certo que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficaria acima da meta em 2023. Essa chance vem sendo reduzida desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro, diante dos indicadores econômicos que têm sido divulgados.
O próprio mercado financeiro tem aliviado em suas projeções. No Boletim Focus do Banco Central, divulgado ontem (14), as opiniões dos mais de cem analistas de instituições financeiras ouvidas para a publicação mantiveram a projeção de inflação medida pelo IPCA em 4,84% este ano, e reduziu a do ano que vem de 3,88% para 3,86%.
Ou seja, a expectativa do mercado vai na direção mais própria do teto do alvo da meta este ano, que é de 4,75%.
Em julho, o IPCA passou a acumular alta de 3,99% em 12 meses, após elevação de 0,12% no mês. Mas a trajetória da inflação ainda passará por altos e baixos até o fim do ano. É preciso avaliar, por exemplo, o impacto do reajuste dos combustíveis pela Petrobras, que passa a valer nesta quarta-feira (16).
Para efeito de comparação, no início de maio, em meio às críticas do governo Lula ao alto patamar de juros e às incertezas relacionadas à meta de inflação e à política fiscal, a mediana das previsões se encontrava acima de 6%.
No relatório trimestral de inflação, divulgado em junho, o BC reduziu a probabilidade de a inflação ficar acima do limite superior em 2023 para 61%, ante 83% no relatório divulgado em março. O cenário considerava que a inflação terminaria o ano em 5%, depois de avançar gradualmente até atingir 5,38% em setembro.
Embora IPCA tenha sido de 0,12% em julho, especialistas consideram que inflação está dentro do “razoável”
O IPCA foi de 0,12% em julho, 0,20 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de junho (-0,08%). No ano, o IPCA acumula alta de 2,99% e, como dito, nos últimos 12 meses o acúmulo é de de 3,99%, acima dos 3,16% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Apesar da alta em relação ao período anterior, contribuiu para o indicador no mês passado a queda no ritmo de alta nos preços dos serviços com características turísticas, como passagens aéreas. Alimentação e energia elétrica ajudaram também a conter uma elevação maior do índice.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o economista Heron do Carmo, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, da Universidade de São Paulo), disse que, embora o número de julho tenha vindo acima das projeções, o resultado “não deixa de ser razoável”.
Segundo ele, o último dado disponível mostra que os preços do setor de serviços – principal ponto de alerta do Banco Central por ter um comportamento mais resiliente – vêm desacelerando com o reequilíbrio entre oferta e demanda após os choques da pandemia de Covid-19.
Ainda segundo o especialista, reduziu a possibilidade de o El Niño, fenômeno climático conhecido por afetar a distribuição de chuvas no território, impactar de modo mais forte a atividade agrícola este ano. Contudo, Carmo vê que os efeitos deverão ser sentidos sobretudo no ano que vem, quando será preciso ficar mais atento.
Como as deflações registradas no segundo semestre do ano passado, puxadas pela redução artificial de tributos sobre combustíveis no período eleitoral, sairão da base de cálculo do IPCA no acumulado até dezembro, o economista projeta que a inflação chegue a um número próximo de 5,3% em setembro para depois recuar até o fim do ano.
“A situação está com possibilidade de controle, se não houver derrapagem na política fiscal ou algum problema internacional que tenha impacto significativo sobre insumos, como combustíveis, é mais provável que a inflação fique dentro do intervalo da meta neste ano”, disse na entrevista para a Folha.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo e das agências de notícias