Em palestra nesta segunda-feira (4), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que as surpresas positivas observadas no crescimento econômico do Brasil no período recente podem ter origem em ganhos de eficiência gerados por reformas estruturais feitas no país nos últimos anos, desconsiderando os esforços do atual governo e do próprio presidente Lula nesta cruzada. O país registrou crescimento de 0,9% no segundo trimestre – três vezes acima do esperado – deste ano e da estimativa de que possa fechar o ano com uma alta de 3%.
Campos Neto, em evento Brazil Payments Forum, promovido pelo Banco J.P. Morgan, em São Paulo, falou que há cerca de oito anos economistas estimavam o crescimento potencial do PIB brasileiro em cerca de 2,8%, citando a necessidade de implementação de reformas previdenciária, trabalhista e tributária, marcos de concessões, facilitação de abertura de empresas e modernização de sistemas de pagamento.
“Não tenho como provar empiricamente, mas pode ser que, em parte, as surpresas de crescimento que a gente está vendo — já tem 15 meses de surpresa de crescimento para cima — sejam por um ganho de eficiência cumulativo de várias coisas que foram feitas no passado”, acrescentou.
Ao mencionar que boa parte dessa lista foi trabalhada pelo país, ao menos com atendimento parcial das demandas, o presidente do BC argumentou que ainda assim os economistas veem um crescimento potencial mais baixo do que antes, em algo próximo a 1,8%.
“Aí você se pergunta, bom, deixa eu ver se entendi. Era 2,8% e precisava fazer dez coisas. O governo trabalhou e fez grande parte das dez coisas, e agora é 1,8%? É muito difícil, esse número é não observável, acho que é muito contaminado pelos crescimentos baixos recentes, pegamos um problema atrás do outro, como pandemia”, disse.
Resposta de Lula a Campos Neto
A resposta de Lula veio hoje (5). Em entrevista ao podcast “Conversa com o Presidente”, conduzido pelo jornalista Marcos Uchôa, da EBC, o presidente do Brasil voltou a criticar Campos Neto pelo pessimismo em torno da economia e pela alta taxa básica de juros (Selic). Segundo Lula, a economia “está se acertando apesar do comportamento do Banco Central”.
“Eu vou levantar esse país, eu tenho certeza. Eu vou levantar não, o povo vai se levantar. Eu vou encontrar com a diretora do FMI agora na Índia, e quando eu me encontrei com ela lá em Hiroshima eu falei ‘olha, eu vou provar para vocês que o cálculo de vocês de crescimento de 1% na economia brasileira está errado. Nós vamos crescer mais do que vocês estão prevendo’. E eu vou chegar agora e dizer ‘está vendo? Nós já crescemos mais do que eu disse para você’. E vai crescer porque o dinheiro está sendo irrigado. Quando você abre um jato para irrigar uma planta, não é ao mesmo tempo que a água chega em todas. Ela vai chegando em um por um. E a economia está se acertando apesar do comportamento do Banco Central”, afirmou o presidente da República.
BC deve atacar contas fantasma para coibir crimes no PIX
Durante sua palestra, Campos Neto também defendeu o Pix de críticas ao dizer que seu sistema evita fraudes por ser rastreável, mas que para isso é preciso limitar o número de contas fantasmas. “Se, em tese, não existisse nenhuma conta de aluguel ou fantasma e alguém fizesse uma fraude, o Pix teria que ser transferido para uma conta identificável ou rastreável”, argumentou.
Ele afirmou que há um esforço para reduzir o número de fraudes envolvendo a ferramenta e que um primeiro passo é mudar a forma como os bancos abrem conta, que classificou como muito fácil.
Dados de dezembro de 2022 do BC mostram que 133 milhões de pessoas e 11,9 milhões de empresas usam o Pix no Brasil. Segundo a instituição, R$ 257 é o valor médio das transações entre pessoas físicas.
Em meio aos comentários sobre os esforços do BC para internacionalizar o Pix, de Campos Neto afirmou que um sistema de pagamentos transfronteiriços melhorará o comércio exterior do Brasil. “Poder ter uma legislação moderna, com câmbio mais moderno, com sistema de pagamento transfronteiriço digital, acho que vai melhorar muito a parte de comércio internacional, ajuda inclusive na abertura comercial”, explicou.
O presidente do BC disse ainda que o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) estuda mecanismos para conectar os sistemas de pagamento no mundo, citando como exemplo o modelo usado por Índia e Cingapura, que poderia ser integrado ao Pix.
Redação ICL Economia
Com informações do Brasil 247 e das agências