O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje (21) que o ritmo de queda na taxa básica de juros (Selic) de 0,5 ponto porcentual deve ser mantido nas duas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) em 2024. Lembrando que o Copom é composto por ele e mais oito diretores.
A fala de Campos Neto converge com o que prevê a ata da última reunião do colegiado, ocorrida nos últimos dias 12 e 13 de dezembro, em que houve o quarto corte consecutivo de 0,50 p.p. na Selic, para 11,75% ao ano.
A terceira reunião do Copom ocorre em maio, ou seja, não dá para garantir o que vai acontecer com a economia brasileira. Mas, diante da fala de Campos Neto, já dá para prever a Selic em 10,75% em março.
Conforme o último Boletim Focus do BC, o mercado financeiro prevê, para o fechamento de 2024, que o juro básico da economia ficará em em 9,25% ao ano. Isso significa que o mercado prospecta cortes mais constantes na Selic no ano que vem.
O calendário de reuniões do Copom para 2024 está distribuído da seguinte forma: 30 e 31 de janeiro; 19 e 20 de março; 7 e 8 de maio; 18 e 19 de junho; 30 e 31 de julho; 17 e 18 de setembro; 5 e 6 de novembro; e 10 e 11 de dezembro.
A previsão de dois cortes de 0,50 p.p., segundo Campos Neto, se baseia nas variáveis atuais do cenário econômico: queda de preços, diminuição na taxa de juros de longo prazo no exterior, principalmente nos Estados Unidos, e avanço nas medidas de equilíbrio fiscal do governo brasileiro.
“Hoje, com as variáveis que temos, o mais apropriado é o ritmo de corte de 50 pontos [base, ou 0,5 ponto percentual] nas próximas duas reuniões. Em relação ao cenário fiscal, reconhecemos o esforço [do governo] e ele precisa melhorar. Tem um gap entre o que o mercado entende que precisa o governo. Mas não existe uma relação mecânica entre fiscal e a queda de juros”, afirmou Campos Neto.
Campos Neto disse que é importante o governo “perserverar no alcance da meta fiscal”
Mais cedo hoje, o BC divulgou o relatório trimestral de inflação (RTI), destacando os principais motivos que levaram a instituição a prever queda na inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) este ano, para 4,5%. O índice está dentro da meta de inflação estabelecida para o ano, que tem um intervalo 1,75% e 4,75%.
Será a projeção se concretizar, será a primeira vez em dois anos que a inflação ficará dentro da meta e Campos Neto se livrará da constrangedora tarefa de escrever uma carta explicando o porquê de não ter cumprido a meta de inflação, apesar da Selic ainda alta.
Segundo ele, o ritmo de queda inflacionária previsto no RTI se baseia em um cenário externo mais estável, principalmente na economia americana, e um recuo no preço das commodities, destacando a diminuição dos custos com energia.
“É importante o governo perseverar no alcance da meta fiscal. Reconhecemos que tem um grande esforço do Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda]. Sabemos que é difícil a aprovação de projetos no Congresso, mas tivemos uma semana de vitórias. Parabenizei Haddad, tem que se reconhecer o esforço. Avançamos com reformas importantes, como a reforma tributária”, disse o presidente do Banco Central.
Ontem (20), o Senado também aprovou a medida provisória que pode render até R$ 35 bilhões para o governo. A proposta retoma a tributação de impostos federais (IRPJ, CSLL e PIS/Cofins) para empresas que têm benefícios de ICMS para custeio.
Lula convida presidente do BC para churrasco
O presidente do Banco Central confirmou que vai participar do jantar de fim de ano oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Granja do Torto. Ele foi convidado para a confraternização, um churrasco, que deve reunir também ministros do governo. A presença de Campos Neto no evento marca uma inflexão na relação tensa entre ele e Lula.
No início do governo, Lula fez várias críticas pessoais a Campos Neto, devido à sua relutância em baixar a taxa Selic. Somente em agosto o Copom iniciou a trajetória de queda da taxa de juros, que ficou 12 meses no patamar de 13,75% ao ano para deter a inflação pós-pandemia.
Em agosto, Lula chegou a dizer que não sabe a quem Campos Neto “está servindo” e acrescentou que o titular do BC “não entende” de Brasil e nem “de povo”.
A proximidade dos dois ocorreu após mediação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com quem Campos Neto vem construindo uma relação mais próxima e de confiança.
Em setembro, Haddad levou Campos Neto a uma reunião com Lula.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Globo