Dentro do que esperava a maioria do mercado financeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central baixou o ritmo de corte da taxa básica de juros, a Selic, para 0,25% em vez dos 0,50 p.p. adotado desde agosto do ano passado. Assim, a taxa saiu de um patamar de 10,75% para 10,50% ao ano.
A decisão, anunciada no início da noite desta quarta-feira (8) após o fechamento da Bolsa, não foi unânime entre os membros do colegiado.
Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Votaram por uma redução de 0,50 p.p. Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.
É o sétimo corte consecutivo de uma série iniciada em agosto de 2023, a partir de 13,75% ao ano.
Na última reunião do colegiado, em março, o comitê havia reduzido a Selic em 0,50 p.p. e indicado no comunicado a possibilidade de uma redução da “mesma magnitude” no encontro deste mês. A ata da reunião divulgada posteriormente confirmava apenas mais um corte de 0,50 p.p. na Selic no encontro encerrado hoje.
Essa previsão sobre a política monetária é chamada pelo mercado financeiro de forward guidance. É uma maneira de dar previsibilidade da condução dos trabalhos e mais conforto aos investidores internos e externos.
No entanto, o descumprimento da projeção já era previsto pelo mercado, que já vinha precificando falas recentes do presidente da autarquia, diante das incertezas do cenário externo e da mudança de rota nas metas fiscais do governo Lula 3.
Na divulgação do Boletim Focus do BC da última segunda-feira (6), ficou claro que os analistas consultados para o relatório também apostavam na redução do ritmo de corte.
Os representantes do mercado consultados para o relatório projetam que a Selic encerrará 2024 em 9,63% ante 9,50% projetados no boletim divulgado na semana passada. Atualmente, a taxa básica de juros está em 10,75%.
O que diz o comunicado do Copom sobre a decisão desta 4ª feira
O comunicado divulgado com a decisão de hoje diz muito do que já foi dito em outras decisões, mas com um diferencial: não traz o chamado forward guidance, ou seja, não dá pistas sobre o que vai acontecer nas próximas reuniões, deixando o futuro em aberto.
Trecho do texto diz que o Comitê ressalta “que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, reforçando ainda, “com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Confira abaixo a íntegra do comunicado abaixo:
O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente referente ao início da flexibilização de política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado maior dinamismo do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,7% e 3,6%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,8% em 2024 e 3,3% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,8% em 2024 e 4,0% em 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.
O Comitê acompanhou com atenção os desenvolvimentos recentes da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,50% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.
Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros: Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.”
Redação ICL Economia
Com informações do Banco Central