Corte do imposto de importação não diminui preços de alimentos para consumidor

Governo deveria atacar as verdadeiras causas da disparada da inflação, como é o caso do preço dolarizado dos combustíveis
30 de maio de 2022

O anúncio do Ministério da Economia de corte do imposto de importação de 10% sobre a taxa cobrada para bens como feijão, carne, massas, biscoito, arroz e materiais de construção não deverá impactar em queda de preços para o consumidor. Trata-se de mais uma tentativa do governo de controlar a inflação persistente em ano eleitoral, em que Jair Bolsonaro busca sua reeleição, com efeito praticamente nulo, segundo analistas.

Em novembro do ano passado, o governo já havia feito um corte do imposto, o que resultou em uma diminuição total de 20% das taxas de importação de mais de seus mil itens até dezembro de 2023.

Em uma conjuntura de dólar valorizado frente ao real, custos elevados do frete, altos preços dos combustíveis e falta de alimentos disponíveis pelo mundo, as importações não tiveram crescimento significativo para baixar os preços domésticos. O governo deveria atacar as verdadeiras causas da disparada da inflação, como é o caso do preço dolarizado dos combustíveis.

Em 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já está em 12,13% e a maior pressão maior vem exatamente de alimentos e combustíveis. A alimentação no domicílio, por exemplo, ficou 16,12% mais cara nos últimos 12 meses e os combustíveis, 33,24%. Só em abril, o óleo de soja subiu 8,24%, o macarrão, 3,47%, o queijo, 2,95%, e o etanol, 8,44%.

Corte do imposto e o cenário para feijão, arroz e carne bovina

Analistas do setor da economia explicam que o Brasil já tem uma produção desses alimentos que tiveram agora as alíquotas reduzidas e que o país é capaz de abastecer a população. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, ouvido pelo O Globo, ressalta que “qualquer redução tarifária tem impacto zero neste momento de preços elevados”.

Para comprovar isso, o G1 traçou um cenário de três alimentos que tiveram reduções – feijão (de 10% para 8%); arroz (de 12% e 10% para 9,6% e 8% – a depender das variedades); e carne bovina (de 12% e 10% para 9,6% e 8% – a depender dos cortes).

No caso do feijão, o Brasil não tem de onde importar o tipo carioca, que é produzido aqui e também o mais consumido. O país também é autossuficiente na produção de arroz; e com relação à carne, somos o grande exportador mundial e conseguimos, ao mesmo tempo, abastecer o mercado interno.

Outros itens que têm maior significância em importações ficaram de fora da medida do governo, como são os casos do produtos têxteis, calçados, brinquedos, lácteos e parte do setor automotivo –veículos com tarifas de até 14% entram; acima, ficam de fora.

Empresários do setor também reclamam que o governo reduziu a tarifa sem uma discussão ampla com o setor. É o caso de Celírio Inácio, dirigente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que considera que a ação do governo foi “desnecessária, indicando, inclusive, falta de conhecimento na dinâmica do preço do café torrado e moído.”

O Ministério da Economia afirmou, em nota, que não “é esperada necessariamente uma queda do preço ao consumidor em relação ao preço anterior à medida”. Ao anunciar os cortes, o secretário executivo da pasta, Marcelo Guaranys, disse que o governo estava “preocupado com o impacto da inflação sobre a população. Isso não resolve a inflação, isso é com política monetária, mas gera um importante incentivo.”

Redação ICL Economia
Com informações do G1 e demais agências

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