O pronunciamento de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed – Banco Central dos EUA), em comitê no Senado americano falando sobre recessão, e o pedido do presidente Joe Biden para desonerar os combustíveis, nesta quarta-feira (22), repercutem mundo afora nos mercados financeiros e no meio político.
Os mercados financeiros dos EUA e da Europa já operam hoje (23) em ritmo contido e os líderes mundiais observam atentos os rumos da economia americana, sabendo que uma recessão na maior economia do mundo afetaria todas as demais nações.
Outro pronunciamento de Powell será feito, nesta quinta (23), na Câmara dos Representantes. Historicamente, a fala inicial na Câmara é semelhante à do Senado. As novidades podem vir de suas respostas aos questionamentos dos parlamentares sobre os riscos de recessão.
Em sua fala de ontem (22) ao comitê do Senado, Powell foi bastante firme ao dizer que o Fed está comprometido em reduzir a inflação doméstica e que dispõe de instrumentos e vontade para restaurar a estabilidade dos preços nos EUA, que estão nos maiores patamares em cerca de quatro décadas. Em maio, a inflação ao consumidor americano alcançou 8,6% em base anualizada, aumentando o risco de recessão.
Presidente do Fed fala em subir juros para evitar recessão
Powell classificou que as condições financeiras agora estão “bem mais apertadas”, com as decisões já tomadas pelo Fed de subir os juros e a expectativa do mercado de que o BC seguirá nesse rumo, elevando o risco d recessão. Nos próximos meses, segundo Powell, o Fed estará atento a evidências de que a inflação perde força, consistente com o retorno para a meta de 2% adiante. “O ritmo dessas mudanças para cima nos juros continuará a depender dos dados por vir e da perspectiva em andamento para a economia”, ressaltou.
Segundo Powell, dados referentes a maio sugerem que o núcleo da inflação – que desconsidera preços de energia e alimentos – manteve o mesmo ritmo ou desacelerou um pouco. Por outro lado, ponderou que o salto nos preços das commodities, motivado pela guerra na Ucrânia, é um fator de pressão extra para a inflação, com risco de recessão.
O presidente do Fed afirmou também que o aperto nas condições financeiras em andamento nos Estados Unidos “deve continuar a tirar fôlego do crescimento e a ajudar a equilibrar melhor a demanda e a oferta”.
Porém, Powell não titubeou ao ser questionado por um senador e afirmou que existe a possibilidade de os EUA entrarem em recessão por causa do aperto monetário, “qualificando em outro momento a tarefa atual do BC como “desafiadora”.
Aos senadores, o presidente do Fed afirmou, ainda, que será necessário elevar os juros para além do nível “neutro” para evitar recessão. Segundo ele, no mais longo prazo seria de “cerca de 2,5%”, porque os juros ainda estão “em nível baixo” nos EUA e o Fed pretende caminhar “mais para o neutro” e inclusive deixá-los em quadro “moderadamente restritivo”. Na semana passada, o Fed elevou sua taxa para o intervalo de 1,50% a 1,75%, uma alta de 0,75 ponto percentual, a maior desde 1994, para evitar recessão.
Biden pede a Congresso suspensão de imposto federal sobre gasolina
Também nesta quarta (22), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, solicitou ao Congresso uma suspensão por três meses do imposto federal sobre gasolina e pediu que os Estados adotem isenções similares em seus tributos, a fim de prover “algum alívio direto” aos consumidores e evitar recessão na economia. A informação foi divulgada pelas agências.
A soma das duas medidas, segundo cálculos da Casa Branca, diminuiria em cerca de US$ 1 o preço do galão (corresponde a 3.79 litros) da gasolina. Em Nova York o preço atual do galão está em cerca de US$ 5 e, na Califórnia, US$ 7. Desde o começo do ano o aumento já soma cerca de 40% nos preços da gasolina no país.
Em seu pedido, assim como Bolsonaro faz no Brasil, o presidente americano também jogou parte da responsabilidade aos estados. Segundo Biden, muitos dos estados estão desfrutando de superávits orçamentários graças ao estímulo federal à pandemia, e deveriam suspender seus próprios impostos sobre o combustível para evitar recessão.
Biden admite, no entanto, que somente a retirada temporária do imposto federal sobre gasolina não será suficiente para compensar a alta nos custos dos norte-americanos e evitar a recessão, mas argumenta que o Congresso deve fazer todo o necessário para ajudá-los.
Na avaliação da comentarista do ICL Notícias, Heloísa Villela, este pedido já chega de forma “falida” ao Congresso, porque os parlamentares republicanos não devem aprovar tal medida, já que não têm interesse “em aliviar essa pressão, uma vez que haverá eleições no final do ano para renovar o Congresso”. Por outro lado, “muitos democratas têm dúvida se isso vai ter algum efeito e se o efeito poderia ser até contrário, porque o imposto federal sobre a gasolina é que financia investimentos do governo em toda a infraestrutura viária”. Segundo Viela, os democratas que avaliam que a retirada dos impostos pode subtrair uma coisa importante [investimento em infraestrutura] e não ainda há garantia que as empresas petroleiras, uma vez sem estes impostos, repassem para o consumidor essa redução.
O pedido de Biden ao Congresso e Estados para suspensão de impostos para evitar recessão é visto também como iniciativa para recompor sua popularidade. Em recente, pesquisa ele conta com apenas 39% de aprovação pelos americanos.
Redação ICL
Com informações das agências