Coordenador do MST, João Pedro Stédile lista prejuízos do atual modelo de agronegócio brasileiro

Em entrevista ao ICL Notícias, o ativista reforça que modelo do agronegócio prioriza grãos para exportação e conclama as massas a se mobilizarem para forçar mudanças
11 de julho de 2022

Às vésperas da possível votação do famigerado “Pacote do Veneno” no Senado, esta semana, o coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e economista, João Pedro Stédile, participou do ICL Notícias, programa veiculado no YouTube, na última sexta-feira (8). Na ocasião, o ativista abordou temas relacionados ao modelo de agronegócio brasileiro, como a produção agrícola voltada essencialmente à produção de grãos (commodities) para a exportação, e a interferência dessa prática no agravamento da fome no Brasil.

Durante sua participação no programa, ele explicou as causas do aumento exagerado do preço do leite e também falou sobre a importância dos movimentos sociais na produção de alimentos.

Veja os principais tópicos abaixo:

Modelo de agronegócio voltado à produção de grãos bate recorde

IBGE prevê safra recorde, modelo de agronegócio

Safra recorde / Freepik

De acordo com Stédile, a safra que foi colhida em março/abril já está nos navios rumo à China. “Isso ocorre porque o modelo de agronegócio no Brasil é um modelo de produção agrícola controlado por três agentes: proprietários de terra (fazendeiros), empresas que vendem insumos e compram a produção – apenas 55 companhias, sendo três delas nacionais. As 55 empresas ficam com 68% da renda da riqueza agrícola produzida no Brasil”, disse.

O terceiro agente envolvido nessa cadeia, segundo ele, são os bancos, que injetam recursos na produção. “É um modelo de agronegócio que não produz alimentos, mas commodities voltadas à exportação, resultando em muito dinheiro. Também é complicado entender os efeitos de se transformar lavouras em biocombustível. Desde o início, os incentivos e regras que promoviam os biocombustíveis em ambos os lados do Atlântico tinham pouco a ver com salvar o planeta e tudo a ver com oportunismo político”, criticou.

O modelo de agronegócio atual, com lavouras de grãos para exportação e lavouras de biocombustível, segundo Stédile, não resolve os problemas da sociedade brasileira, que tem milhões de pessoas em insegurança alimentar. “(Esse modelo) Não produz alimentos. E ainda substitui a mão de obra por máquinas enormes, além der ser insustentável do ponto de vista ambiental. E, pior, é um modelo que se baseia no uso intensivo do agrotóxico, que é pior do que as queimadas. A agrotóxico mata!”, frisou.

O ativista disse que  são inúmeros os crimes que o agronegócio está cometendo contra a natureza com o uso intensivo de agrotóxicos: envenenamento da terra, dos alimentos, contaminação da água do subsolo e até das nuvens. O agrotóxico, chamado de secante, não é absorvido pela planta nem pelo solo, segundo ele. Além disso, depois de subir às nuvens, desce democraticamente para toda a população.

Produção de leite e derivados não é contemplada pelo modelo de agronegócio

Ainda segundo Stédile, em torno de 70% do povo brasileiro não toma iorgurte e não come queijo. “São 140 milhões de brasileiros que não comem derivados do leite. A produção do leite é transportada por caminhões e esse transporte aumentou muito com a alta do preço do combustível. São apenas cinco empresas que controlam o mercado do leite e, portanto, elas que determinam o preço”, apontou.

Por essa razão, ele conclamou a população a mobilizar-se, pois somente assim haverá mudanças fundamentais. “Elas (as mobilizações) serão a verdadeira força para garantir a implementação de um programa de mudanças. A força principal na sociedade é a capacidade dos movimentos de mobilizarem as massas”, afirmou.

Por outro lado, Stédile assinalou que a crise política e econômica, infelizmente, “também congelou a luta de classes” no país.

Para assistir à entrevista completa, clique aqui.

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias 

 

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