A inflação da zona do euro subiu 8,9% em julho ante o mesmo período do ano passado, impulsionada principalmente pelos custos altos de energia, metais e alimentos, consequência da guerra da Rússia contra a Ucrânia, que pressiona esses preços. Nos 19 países que compõem o bloco e que utilizam a moeda, os índices inflacionários ao consumidor subiram acima da marca dos 8,6% atingidos em junho. Foi o terceiro mês consecutivo de recorde do indicador. A prévia dos dados foi divulgada nesta sexta-feira (29) pela Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia.
O denominado índice subjacente, que exclui os preços voláteis de alimentos e combustíveis, acelerou de 4,6% para 5,0%, portanto, mais que o dobro da meta de 2% do BCE (Banco Central Europeu). Uma medida ainda mais restrita, que exclui álcool e tabaco, subiu de 3,7% para 4,0%.
Por outro lado, os países do bloco deram sinal de resiliência com a inflação. O PIB (Produto Interno Bruto) das economias, devido à flexibilização das medidas restritivas em decorrência da pandemia de Covid-19, cresceu 0,7% de abril a junho em relação ao trimestre anterior. No entanto, com a Alemanha foi diferente.
A maior economia da Europa estagnou no segundo trimestre, à medida que o comércio desacelerou e o país enfrentou os bloqueios repetidos das entregas de gás natural da Rússia. Quase um terço do gás usado pelos alemães vem da Rússia, que está em guerra contra a Ucrânia desde fevereiro.
A Alemanha também registrou nível de inflação alto, de 8,2% em junho para 8,5% em julho, devido, principalmente, aos preços recordes de energia, que devem subir ainda mais. Além disso, pesaram também nos índices de inflação os problemas envolvendo fornecimento de suprimentos, ocasionados pelos gargalos logísticos decorrentes da pandemia de Covid-19 e da guerra, prejudicando o setor industrial alemão.
Por outro lado, França, Itália e Espanha, nações onde o turismo é bastante vigoroso e que não dependem tanto do gás russo, cresceram acima das expectativas no trimestre. A economia francesa cresceu 0,5% em relação ao primeiro trimestre, enquanto a da Itália avançou 1% e a da Espanha, 1,1%.
Crescimento do PIB da zona do euro deve desacelerar nos próximos meses e há temor de recessão
A expectativa de analistas é de que, nos próximos meses, a economia da zona do euro diminua o passo diante da perspectiva de desaceleração do setor de serviços e turismo, com a diminuição das restrições impostas pela pandemia; e queda na demanda global e redução do poder de compra. Assim, as nações do bloco poderiam entrar em recessão a partir do segundo semestre.
Lembrando que, diante desses prognósticos, o Banco Central Europeu (BCE) elevou suas três taxas de juros em meio ponto percentual, com o intuito de frear a escalada da inflação. Foi o primeiro aumento em mais de 10 anos.
Analistas projetam que, diante dos dados atuais, o BCE possa subir em mais meio ponto percentual as taxas de juros na próxima reunião da instituição, em setembro, em um esforço para controlar a escala dos preços.
Ontem, a divulgação do PIB dos EUA jogou uma sombra nos mercados internacionais, com o temor de que uma das duas maiores economias do mundo (a outro é a China) esteja no que se chama de recessão técnica.
O PIB americano caiu 0,2% no segundo trimestre, que se seguiu a uma queda de 0,4% no primeiro trimestre. Além disso, a inflação segue aquecida naquele país, cuja taxa de juros também foi elevada pelo Fed (Federal Reserve), em 0,75 ponto percentual, em suas duas últimas reuniões.
Lembrando que também nesta semana o FMI (Fundo Monetário Internacional) lançou um prognóstico desanimador para o mundo, em que estima recessão global neste e no próximo ano. Para o Brasil, no entanto, o fundo projeta um cenário um pouco melhor.
Fed deve pisar no freio na alta de juros, o que pode ser bom para o Brasil
Na última quinta-feira (28), o Escritório de Análise Econômica (BEA, na sigla em inglês) do departamento de comércio norte-americano divulgou recuo de 0,9% do PIB dos EUA no segundo trimestre. Exatamente no dia anterior, o Fed havia anunciado aumento de 0,75% na taxa básica de juros.
Na opinião do economista do ICL André Campedelli, o aumento da taxa básica de juros dos EUA pelo Federal Reserve, que vem ocorrendo nos últimos meses, é o principal responsável pela queda do PIB. “Ocorreu uma redução do investimento público, privado e do setor imobiliário, que são resultado direto do aumento da taxa de juros dos Estados Unidos. O próprio Fed é o responsavel pela situação na qual vive o país hoje”, observa.
Com a economia retraída pelo segundo trimestre consecutivo, o banco central americano pode optar por subir menos a sua taxa básica de juros, o que pode amenizar a recessão esperada para conter a alta da inflação. A inflação acumulada anual encerrou junho com alta histórica de 9,1%, o maior patamar em 40 anos.
Se o Fed optar mesmo por esse caminho para conter a inflação, isso pode ser bom para o Brasil, por conter a desvalorização cambial.
Da Redação do ICL
Com agências de notícias