Durante discurso na ONU, na 77ª Assembleia Geral, nesta terça (20), o presidente Jair Bolsonaro abordou temas como a dívida da Petrobras, corrupção e economia do Brasil, no entanto, usou dados mentirosos. Em sua fala na ONU, Bolsonaro repetiu a postura dos três últimos anos, utilizando um importante espaço da diplomacia global para difundir uma falsa imagem do seu governo ao mundo.
Bolsonaro citou, durante discurso na ONU, os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras, estatal de maior projeção no mercado internacional, e declarou que “o responsável por isso foi condenado em três instâncias”. Porém, omitiu na ONU que as sentenças foram derrubadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Na ONU, O presidente também relacionou o endividamento da Petrobras com problemas de gestão no passado. No entanto, parte dele deve-se à captação de recursos para financiar a exploração das áreas do pré-sal e também a cinco outros fatores, como políticas de represamento do preço de combustíveis, subsídios ao gás de cozinha, aumento dos gastos com importações, queda do preço do petróleo no mercado internacional e efetivamente as perdas com corrupção. Todos forem detalhados em reportagem especial veiculada no UOL.
Em discurso na ONU, Bolsonaro diz que o Brasil chega ao final de 2022 com a economia em plena recuperação
Outra grande mentira de Bolsonaro, durante discurso na ONU, foi dizer que o Brasil chega ao final de 2022 com a economia em plena recuperação, com emprego em alta e a inflação, em baixa.
Apesar da recente tendência de queda dos preços dos combustíveis, os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para uma inflação acumulada de 4,39% de janeiro a agosto de 2022 e de 8,73% nos últimos 12 meses. Portanto, o Brasil segue convivendo com inflação, alta nos preços e redução do poder de compra dos mais pobres, conforme análise divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Segundo o Dieese, a economia do Brasil opera no sentido de “recuperar patamares pré-pandemia”, o que não é bom, porque antes da crise sanitária, o Brasil já crescia pouco, aponta o Dieese. “O crescimento verificado até o 2º trimestre de 2022 é mais efeito estatístico (da retração na pandemia) do que avanço real, sustentável, e não há qualquer indicativo de longevidade desse movimento de alta”, diz documento do IBGE.
De fato, o desemprego vem diminuindo: segundo o IBGE, no trimestre terminado em julho, a taxa de desemprego foi de 9,1%, 1,4 ponto porcentual abaixo da taxa registrada em abril, que tinha sido de 10,5%. No entanto, das 98,7 milhões de pessoas ocupadas no País, 13,1 milhões trabalham no setor privado sem carteira assinada, um recorde com aumento de 4,8% em relação a abril. Os trabalhadores na informalidade respondem por 39,8% da população ocupada.
Reportagem do Estadão mostrou que a economia brasileira cresceu bem abaixo da média global durante os anos de pico da pandemia, entre 2019 e 2021. No período, o PIB do Brasil avançou 0,59% ao ano, em média, enquanto a média do resto do mundo foi de crescimento de 1,54%.
Bolsonaro também exagerou na ONU ao dizer que a projeção de crescimento do PIB do país para 2022 chega a 3%. Na segunda-feira (19), o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, mostrou uma ligeira alta na projeção de crescimento do PIB para este ano. Na semana passada, a projeção era de que ficaria em 2,39% e, agora, subiu para 2,65%, mas sem chegar aos 3% citados pelo presidente. Para 2023, a previsão é de crescimento de 0,5%.
Apesar de o presidente dizer que o Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo, especialistas alertam que a conclusão do estudo se baseia no pressuposto de que todos os grãos exportados pelo Brasil são usados para a alimentação. Na verdade, boa parte tem como destino a ração animal. Pesquisa da Oxfam apontou que 58,7% da população brasileira convive com algum tipo de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave).
Apesar de o governo dizer no palanque da ONU que “extirpou a corrupção sistêmica”, ao longo de 2021 e 2022, vários escândalos de corrupção ocorreram na gestão Bolsonaro, como o esquema do gabinete paralelo do MEC, em que pastores passaram a controlar a agenda do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, para privilegiar municípios na liberação de recursos, foi denunciado em março. Prefeitos disseram que receberam cobrança de propina em ouro e o ex-ministro Milton Ribeiro acabou preso pela Polícia Federal.
Seguidas reportagens divulgaram desvio de recursos no governo Bolsonaro como a licitação milionária para compra de ônibus escolares com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Os valores eram inflados e mostravam que o governo aceitava pagar até R$ 480 mil por ônibus, quando eles deveriam custar no máximo R$ 270,6 mil. Ainda foi divulgado que o Ministério da Educação autorizou a construção de 2 mil escolas, mesmo sem ter recursos para terminar 3,5 mil em construção há anos.
Até a coleta de lixo vem sendo alvo de despesas milionárias crescentes no governo Bolsonaro. A compra e distribuição de caminhões saltou de 85 em 2019 para 488 em 2021. Em Alagoas, por exemplo, uma cidade do interior passou a ter mais caminhões do que lixo a ser recolhido. Reportagem publicada no jornal O Estado de S Paulo identificou pagamentos inflados em R$ 109 milhões.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias