A preocupação com impactos mais duradouros da inflação global foi motivo de divergência na decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, conforme ata divulgada nesta terça-feira (27). Na última quarta (21), o Copom decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, interrompendo o ciclo de aperto monetário. A decisão não foi unânime.
A diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Fernanda Guardado, e o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes, votaram por uma alta residual de 0,25 ponto percentual na Selic.
Os diretores argumentaram que, diante da elevação das expectativas de inflação global para 2024, da incerteza do grau de ociosidade da economia e do forte ritmo da atividade econômica, a alta adicional fortaleceria a mensagem de comprometimento do comitê com sua estratégia.
Segundo consta no documento, “Esses membros avaliam que os riscos de alta elencados no balanço de riscos podem ter impactos mais duradouros caso se materializem, e sugerem cautela adicional na avaliação das projeções do cenário de referência para o ano de 2024.”
Entre as condições que puxariam os preços para cima, o Copom destacou a persistência da pressão da inflação global, a incerteza sobre a situação fiscal do país e a pressão vinda do mercado de trabalho.
Dada a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia, o colegiado tomou sua decisão buscando a convergência da inflação “para o redor da meta” no ano que vem e, em menor grau, em 2024.
Atualmente, o colegiado está usando a inflação acumulada em 12 meses até o fim do primeiro trimestre de 2024 como horizonte de política monetária.
Os objetivos perseguidos pelos BC para 2023 e 2024 – fixados pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) – são 3,25% e 3%, respectivamente, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
As estimativas do mercado para a inflação de 2024 começaram a se deteriorar e chegaram a 3,5%, segundo o boletim Focus, divulgado na véspera do encontro do Copom, ante 3,3% na reunião de agosto, se afastando de forma precoce do centro da meta.
A cautela e a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos impactos acumulados a serem observados do “intenso e tempestivo” ciclo de política monetária já empreendido pesaram na decisão da maioria em favor da manutenção da Selic em 13,75%.
Aumento da taxa de juros tem sido resposta para inflação global
Na avaliação dos economistas do ICL Economia, André Campedelli e Deborah Magagna, os efeitos de uma elevação da taxa de juros para controlar a inflação é sempre o mesmo. “Seja qual for a escola econômica a qual você pertença, o aumento acaba gerando uma queda no ritmo da atividade econômica do país”, afirmam os economistas.
Ao todo, foram 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto deste ano, com elevação acumulada de 11,75 pontos percentuais. Esse foi o choque de juros mais longo da série histórica e o mais intenso desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999.
Na ata, o colegiado do BC repetiu que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
O comitê disse ainda que se manterá vigilante e avaliará se a estratégia de manutenção da Selic “por período suficientemente prolongado” será capaz de assegurar a convergência da inflação.
No cenário doméstico, o BC destacou crescimento robusto tanto no consumo quanto no investimento. “O mercado de trabalho seguiu em expansão, ainda que sem reversão completa da queda real dos salários observada nos últimos trimestres”, afirmou.
Segundo o comitê, a análise de alguns indicadores de atividade, especialmente do mercado de trabalho, levou à discussão sobre “o caso de o hiato do produto estar mais estreito do que o utilizado atualmente pelo Copom em seu cenário de referência”.
O hiato do produto mede a diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo, e a situação do mercado de trabalho é um dos termômetros para estimar essa diferença.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação caíram de 6,8% para 5,8% neste ano e se mantiveram em 4,6% para 2023. Para 2024, o colegiado elevou marginalmente a previsão de 2,7% para 2,8%.
Em exercício alternativo realizado pelo colegiado, pressupondo que o hiato do produto estaria no nível zero no terceiro trimestre, as projeções de inflação seriam de 4,9% e 3,0% para 2023 e 2024, respectivamente.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias