Aumento da inflação e da taxa de juros nos diferentes países aponta para uma grave crise econômica. Brasil não está imune

O ritmo de atividade econômica dos países centrais já se encontra abaixo do esperado nas perspectivas de começo de ano devido ao aumento da inflação e da taxa de juros
27 de setembro de 2022

A inflação nos países centrais está em níveis elevados se comparada a seu histórico com aumento das taxas de juros. Ao mesmo tempo, tem ocorrido um movimento inédito em todos os países de elevação da taxa de juros. A mediana das projeções para o índice IPC, nos Estados Unidos, ao final de 2022, passou de 5,2% para 5,4%. Nos países europeus da OCDE, a inflação acumulada em 12 meses atingiu 15,1%, sendo que na zona do euro essa inflação foi de 10,1%, na União Europeia de 9,1%, no Reino Unido de 8,6%, na Espanha de 10,5%, em Portugal de 8,9%, na Itália de 8,4%, na Alemanha de 7,9% e na França de 5,9%. Até o Japão, que historicamente tem uma inflação beirando a zero, atualmente chegou a 3% de inflação anualizada.

O que se vê é que o movimento inflacionário, puxado pela alta de custos, está generalizado entre os países desenvolvidos e a ferramenta para reduzir a inflação tem sido o aumento da taxa de juros. 

No último dia 21 de setembro, o Comitê de Política Monetária dos Estados Unidos (FOMC), anunciou alta de 0,75 ponto percentual na taxa de juros estadunidense, o que a levou a um intervalo entre 3% e 3,25%. Em nota, a entidade apontou que mesmo com um modesto nível de produto, gasto e investimento, a taxa de emprego continuou elevada e a inflação ficou acima do previsto, refletindo desequilíbrios entre oferta e demanda, ainda refletindo os impactos da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia.

O mercado, desde a última mudança da taxa básica de juros, continuou pressionando os juros efetiva para cima, porém, ainda abaixo do estipulado para as taxas mensais. As demais taxas, trimestrais, semestrais e anuais, já se encontram acima da taxa definida pelo FOMC, em 3,4%, 3,9% e 4% respectivamente.

Também no Brasil, no mesmo dia, 21 de setembro, a taxa de juros se manteve inalterada em 13,75% ao ano, ou seja, sem variação desde a última reunião do COPOM. O bom comportamento inflacionário dos últimos dois meses e a melhora do preço internacional das commodities foram apontados pelo grupo como os fatores que auxiliaram na tomada de tal decisão de não aumentar os juros. Porém, foi ressaltado que os possíveis riscos fiscais oriundos do alto gasto social realizado atualmente devem ser observados de perto devido ao seu potencial inflacionário que pode gerar no longo prazo.

Na avaliação dos economistas do ICL Economia, André Campedelli e Deborah Magagna, os efeitos de uma elevação da taxa de juros para controlar a inflação é sempre o mesmo. “Seja qual for a escola econômica a qual você pertença, o aumento acaba gerando uma queda no ritmo da atividade econômica do país”, afirmam os economistas.

Diante do aumento dos preços e alta da taxa de juros, os Estados Unidos há dois trimestres registram queda do PIB, entrando tecnicamente em recessão

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“É um efeito muito perigoso se observarmos como o mundo se encontra atualmente”, explicam Campedelli e Magagna. Os Estados Unidos há dois trimestres registram queda do PIB, entrando tecnicamente em recessão. Além disso, na Europa, os dados divulgados pela Inglaterra também já têm apontado, em seus relatórios mais recentes, para uma possível queda no nível de atividade econômica e a Alemanha apresentou, além da forte inflação, um resultado comercial bastante preocupante, com déficit na balança comercial pela primeira vez em anos.

Segundo os economistas do ICL, tudo isso, se somado às medidas de restrição da atividade econômica buscando controlar a inflação, pode gerar um grande efeito recessivo nas principais economias do mundo.

O ritmo de atividade econômica dos países centrais já se encontra abaixo do esperado nas perspectivas de começo de ano, com situações inclusive de queda na atividade econômica, como nos casos dos Estados Unidos e do Reino Unido, que apresentaram queda de 0,1% do nível de atividade econômica no segundo trimestre. Nos demais, o crescimento foi em grande parte bem moderado. A França cresceu 0,5%, enquanto a Alemanha cresceu 0,1%, Portugal ficou estagnado, a Zona do Euro como um todo cresceu somente 0,7%, a União Europeia 0,8% e os países da OCDE, que fazem parte da Europa, em média cresceram 0,6%. A média total da OCDE atualmente ficou em 0,4%.

“Se pensarmos que um maior aperto monetário deve reduzir ainda mais a atividade econômica nos próximos trimestres, é possível compreender o motivo do aumento das preocupações em relação à atividade econômica mundial no curto prazo”, afirmam André Campedelli e Deborah Magagna.

Na avaliação dos economistas do ICL, é questão de tempo para que essa crise chegue aqui de alguma forma porque uma queda do ritmo de atividade global em países desenvolvidos não acontece de forma isolada e existe uma tendência grande de efeito contágio. “O ano de 2023 pode não ser a maravilha que estamos imaginando, pela situação externa que está apontando para uma grave crise econômica há pelo menos alguns meses. Então, apertem os cintos, pois o mundo agora está entrando em uma área de forte turbulência econômica, e imaginar que vamos passar ilesos por isso é ingenuidade”, dizem.

Campedelli e Magagna ressaltam que a China não foi citada pela dinâmica própria que o país vem conduzindo sua economia, com fortes restrições para tentar controlar os pequenos surtos de COVID ainda existentes no país. Mas com certeza esse é um país que também pode contribuir para um cenário econômico preocupante no futuro.

Os fatores que mais aceleraram a inflação nestes países foram os alimentos, que com a guerra na Ucrânia passaram a ter uma oferta menor nos países europeus e, principalmente, os bens energéticos (combustíveis e energia elétrica). No primeiro caso, entre os europeus membros da OCDE o aumento de preços anualizado chegou a 19,7%, enquanto para todos os membros da OCDE o aumento alcançou 15%. Na zona do Euro a inflação de alimentos atingiu 14%, e na União Europeia foi de 12,4%. Observada individualmente pelos países, a alta dos preços dos alimentos no Reino Unido foi de 13,1%, na Espanha de 13,8%, em Portugal de 17,5%, na Itália de 10,5%, na França de 8,4% e na Alemanha de 15,7%. Nos Estados Unidos, o grupo de bens já tem uma inflação acumulada de 13,5% em 12 meses, e novamente, até o Japão tem sofrido com a situação, com uma inflação de 5%.

No caso dos bens energéticos, entre os países da OCDE, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 30,2%, enquanto somente para os europeus da OCDE, foi de 47,3%. A Alemanha registrou uma inflação acumulada de 36,3%, enquanto em Portugal foi de 34,2%, na Espanha de 37,4%, no Reino Unido de 51,8%, na União Europeia de 37,5%, na Zona do Euro de 37,5% e na França de 23,1%. Este movimento ocorreu devido à alta dependência que esses países possuem do petróleo e gás produzidos na Rússia e, com as sanções, a oferta destas mercadorias se reduziu drasticamente. Para os Estados Unidos, a inflação foi de 23,8% e para o Japão de 16,9%. Com a baixa do preço do petróleo, existe um movimento de queda da inflação, porém, ainda em ritmo bastante lento.

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Crédito: OCDE

 

Redação ICL Economia
Com informações do boletim Economia Para Todos

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