Na tentativa de se reeleger à Presidência da República, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dá sinais de que já queimou todos os cartuchos que tinha para fazer a economia crescer. Tanto que o Relatório Focus do Banco Central, divulgado ontem (10), mostra que o mercado financeiro projeta um pibinho em 2023, com crescimento da economia de apenas 0,54%. Para este ano, a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) é de 2,70%.
Quem chamou a atenção para os dados que o governo quer esconder da maioria da população foram os economistas Eduardo Moreira e Deborah Magagna, na edição do ICL Notícias desta terça-feira (11). Em uma leitura mais esmiuçada do relatório do BC, Deborah apontou que, na verdade, todo o pacote eleitoreiro do presidente candidato à reeleição reverteu a ordem das coisas, fazendo com que houvesse uma espécie de antecipação do crescimento do ano que vem para este ano e as projeções do mercado para 2023 caíssem.
“Quando a gente olha as expectativas do começo do ano para cá, a gente vê que houve uma inversão. Então, o crescimento que era esperado para 2023 passa para 2022. (O mercado) passa a reduzir as expectativas do ano que vem porque não tem margem para continuar, pois todos os incentivos acabam este ano. Então a gente vê essa inversão na curva e ela é bem nítida”, explicou.
Por sua vez, Moreira disse que a projeção de crescimento da economia para este ano ocorreu devido ao pacote eleitoreiro do governo, como a desoneração dos combustíveis para reduzir a inflação. “Ou seja, o governo comprou um crescimento, que é de 2,70%, uma das menores taxas das Américas, abaixo da média da América Latina, abaixo da média do mundo e dos países emergentes. Isso com toda essa farra, este ano, que ele comprou para mostrar que o Brasil está crescendo”, criticou.
Para Moreira, os números da economia mostram que, ao praticamente comprar um crescimento que não existia na realidade, o governo mostra uma coisa: “O (Paulo) Guedes (ministro da Economia) é uma fraude!”, apontou o economista.
Pibinho em 2023 reflete incertezas do mercado financeiro em relação ao futuro do país e da economia
Quem for eleito no segundo turno das eleições no dia 30 de outubro terá que lidar com um cenário econômico conturbado, tanto interna quanto externamente. É esse sentimento que pautou as projeções dos agentes do mercado financeiro ouvidos para o relatório Focus.
“A narrativa continua a mesma, de um crescimento econômico mais robusto em 2022, devido aos incentivos fiscais ocorridos no momento, e uma situação de baixo crescimento para 2023. A inflação teve uma leve redução para este ano, mas com intensidade bem menor do que as observadas nos últimos relatórios, enquanto o crescimento econômico se manteve com a mesma projeção que teve na semana passada. Isso é um sinal de certa apreensão do mercado financeiro, que pode, após definido o pleito eleitoral, voltar a usar a pesquisa como forma de ser ouvido sobre suas opiniões do funcionamento econômico para o próximo governo eleito”, apontaram os economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli, no Economia Para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado.
Em relação à inflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de setembro, divulgado nesta terça-feira (11), ficou de -0,29%, terceiro mês seguido de deflação. Foi a menor variação para um mês de setembro desde o início da série histórica. No ano, o IPCA acumula alta de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%, abaixo dos 8,73% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2021, a variação havia sido de 1,16%.
No boletim Focus, portanto, antes da divulgação do IPCA, o mercado financeiro já havia revisto para baixo a expectativa de inflação para o ano, saindo de 5,74% para agora 5,71%, baixa de 0,3 ponto percentual.
Mas mudanças no cenário internacional fizeram com que a redução acelerada fosse freada no momento, uma vez que possíveis pressões inflacionárias podem surgir nos próximos meses. “Além disso, a incerteza em relação ao cenário eleitoral existente no momento fez com que o mercado fosse mais precavido sobre suas previsões econômicas”, pontuaram os economistas no boletim.
Tanto que a previsão do ano seguinte se manteve em 5%, “um resultado dentro da banda inflacionária”, mas que atingiu o limite superior. Caso a tendência persista nas próximas pesquisas, poucas alterações de projeção do Focus devem ser observadas até novembro.
Em relação à taxa cambial e à Selic, também houve estabilidade do mercado nas previsões de uma semana para outra. Na visão do mercado, a taxa básica de juros deve encerrar o ano em 13,75% e, no próximo, deve ficar em 11,25%. Por sua vez, a taxa de câmbio permanece prevista em R$ 5,20 para os dois anos.
Por outro lado, Magagna e Campedelli ressaltaram que o relatório Focus desta semana mostra o mercado financeiro mais apreensivo pela primeira vez. “As incertezas no cenário mundial passaram também para o mercado interno devido ao segundo turno. Caso a tendência se mantenha, haverá uma grande estabilidade de previsões até, pelo menos, o resultado do processo eleitoral. Mas em algum momento o relatório vai voltar a ser um importante instrumento do mercado para tentar ser ouvido em relação às questões econômicas”, observaram.
Redação ICL Economia
Com informações do Economia Para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado