Fernando Haddad diz que déficit de R$ 220 bi no Orçamento de 2023 “não vai acontecer” e promete plano robusto de corte de gastos

Em entrevista concedida ao jornal O Globo, futuro ministro da Fazenda disse que o governo Bolsonaro desorganizou a economia para se reeleger, a um custo de 3% do PIB
29 de dezembro de 2022

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Orçamento de 2023 prevê um déficit de R$ 220 bilhões, mas garantiu que “isso não vai acontecer”. Para isso, ele prometeu que, assim que assumir o comando da pasta em janeiro de 2023,  vai elaborar um plano robusto de corte de gastos já no começo do ano. “O primeiro trimestre é crucial. O governo tem que dizer a que veio, logo”, enfatizou.

As declarações foram dadas por Haddad em longa entrevista concedida à jornalista Míriam Leitão e publicada na edição desta quinta-feira (29) do jornal O Globo. À jornalista, o petista também disse que outro caminho será a revisão da lista de beneficiários Auxílio Brasil, que deve voltar a se chamar Bolsa Família. Segundo ele, o governo atual mandou retirar 2,5 milhões do cadastro do programa de transferência de renda admitindo a concessão indevida de benefícios.

Visto com desconfiança pelo mercado financeiro assim que nomeado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Haddad, que é advogado de formação e tem mestrado em Economia, quer mostrar que fará uma gestão austera e responsável da economia brasileira. Com foco nisso, tem nomeado nomes que estiveram com ele quando foi prefeito de São Paulo, aliás, gestão marcada pela responsabilidade com as contas públicas.

Ao jornal, o futuro ministro da Fazenda disse que esteve com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em “um diálogo maduro”, também elogiou a senadora Simone Tebet, que assumirá a pasta do Desenvolvimento, e defendeu a reindustrialização do país, com tecnologia de ponta e ambientalmente sustentável. Também prometeu diversidade na equipe.

A respeito de sua equipe, ao ser questionado sobre a falta de diversidade (muitos dos nomeados são homens brancos, conforme pontuou Míriam Leitão) e o pensamento econômico homogêneo, ele disse que ontem (28) anunciou duas mulheres: “uma negra e uma branca” para a assessoria direta dele. “Tatiana (Rosito) uma diplomata, morou dez anos na China e uma procuradora que vai acompanhar os atos normativos que eu assino ( Fernanda Santiago). A procuradora acompanhará todos os atos normativos que eu assino. Então, todos os homens brancos que você citou receberam orientação de compor suas equipes com a maior pluralidade possível”, disse Haddad, observando que ainda não terminou de montar a sua equipe.

Sobre o pensamento homogêneo, Haddad respondeu que “nós já temos o Alckmin no Desenvolvimento, que tem um tipo de pensamento. No Planejamento haverá uma visão de economia diferente da que foi defendida durante a eleição, mas foi uma aliança de segundo turno. Mas há diferenças na equipe. Não consigo pensar em duas pessoas que pensam mais diferente do que o Guilherme Melo (Secretaria de Políticas Econômicas) e o Bernard Appy (assessor especial para a reforma tributária), por exemplo. São pessoas muito diferentes. O Rogério Ceron (Tesouro Nacional) e o (Gabriel) Galípolo (secretário-executivo do Ministério da Fazenda).

Fernando Haddad diz ter “simpatia” por Simone Tebet e aponta que economia brasileira se desorganizou por “questões eleitorais”

O futuro ministro disse na entrevista que o presidente eleito fez uma reunião na tarde da última terça-feira (27) com os nomeados para comporem o seu governo. Sobre a futura ministra do Planejamento, Haddad afirmou que “Simone tem minha simpatia pessoal, é uma pessoa transparente, que vai colocar, somar e refletir junto. E ela falou que em mais de 90% da agenda ela e eu chegaríamos à mesma conclusão”.

Segundo Haddad, “naquilo que porventura houver divergências, há uma instância de arbitragem, que é a Presidência da República. Nós vamos estar juntos no Conselho Monetário Nacional, na Camex, em tantas instâncias colegiadas”, afirmou, tentando apaziguar os comentários de que poderia haver atrito entre ambos, que têm pensamentos econômicos distintos.

A respeito da economia brasileira estar em processo de desaceleração, o futuro ministro apontou que a “economia foi desorganizada com fins eleitorais, e , por isso, os agentes do mercado “esperam do próximo governo as sinalizações corretas pra saber em que barco nós estamos. A impressão que eu tenho é que nós temos uma oportunidade. Que está desacelerando, está”, disse.

Para estimular a economia a girar, Haddad disse que os estímulos fiscais, a depender do momento, são importantes, mas que, no momento atual, “o mais importante é harmonizar a política fiscal e a monetária pra ter uma política econômica consistente. A política fiscal expansionista é sempre errada? Não, quando você está numa depressão ela não é. Muita gente critica o presidente Lula pela reação à crise de 2008, e eu aplaudo. Naquelas circunstâncias, eu faria a mesma coisa”, pontuou.

Recentemente, o futuro ministro pediu ao atual mandatário da Economia, Paulo Guedes, que não editasse nenhuma medida para prorrogar a desoneração dos combustíveis. Questionado sobre o assunto, ele disse que a campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição custou para os cofres públicos, “do ponto de vista do atual governo, alguma coisa como R$ 300 bilhões. Custou 1,5% do PIB de aumento do dispêndio e 1,5% em renúncia fiscal”.

“O que o governo Bolsonaro fez no último ano de mandato, de forma desesperada, atabalhoada, custou 3% do PIB. O orçamento enviado era fictício. O que nós temos que fazer agora é corrigir o estrago que foi feito no período eleitoral para garantir uma vitória que não veio. Ele recebeu um cheque em branco para evitar que fosse invocado uma suposta perseguição política. Ele fez o que bem quis com as contas públicas e isso foi tolerado para que não houvesse contestação do resultado”, afirmou.

Redação ICL Economia
Com informações de O Globo

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