A falência do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank deve acelerar o corte nas taxas de juros, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. No caso do SVB, o juro mais alto foi um dos responsáveis pelo colapso da instituição regional, voltada para startups e financiadores. O episódio azedou o humor dos mercados pelo mundo ontem (13), incluindo a Bolsa brasileira, e as consequências só não foram piores porque as autoridades americanas agiram rapidamente.
Na sexta-feira passada (10), a crise do SVB provocou uma corrida maciça de saques. Para evitar que a crise contaminasse toda a rede financeira, o governo norte-americano e autoridades do sistema financeiro fecharam a instituição, dando a garantia de que os saques poderiam ser retomados ontem. No domingo, o governo também fechou o Signature Bank. As duas instituições foram fechadas após as autoridades americanas constatarem que elas não tinham recursos para garantir os depósitos feitos por seus correntistas. Ou seja, estavam quebradas.
Foi a primeira grande crise no sistema financeiro depois do colapso de 2008, iniciado com a falência do Lehman Brothers, também dos EUA. Nesta manhã de terça-feira, a maioria dos mercados já operava no azul, exceto a Ásia que fechou no negativo. No entanto, analistas acreditam que ainda é difícil mensurar as consequências das quebras, por se tratarem de bancos regionais e, portanto, pequenos.
Por outro lado, já começam as apostas de que o Fed (Federal Reserve) comece, na reunião deste mês (21 e 22 de março), a baixar o sarrafo dos juros, que passaram de 0,25% ao ano em 2020, para 4,75% anuais em fevereiro deste ano.
Mas e as consequências do colapso para o Brasil? Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que não vê risco de uma crise sistêmica na economia global a partir das quebras dos dois bancos. Durante live promovida pelo Valor Econômico em parceria com O Globo, o ministro repetiu que o Brasil tem “gordura” para viabilizar uma queda nos juros básicos da economia.
Economistas ouvidos pelo Brasil de Fato disseram que não há indícios de que algo parecido com o que aconteceu em 2008 possa ocorrer agora, até porque o governo americano agiu rapidamente para conter a crise. Mas é possível que as quebras dos bancos tenham efeitos positivos sobre a economia brasileira, acelerando um ciclo de redução da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Para comentarista do ICL Notícias, falências dos bancos criam espaço para Copom reduzir taxas de juros no Brasil
O economista e comentarista do ICL Notícias André Roncaglia, que também é professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as falências das duas instituições vão forçar o Fed a repensar sua política de juros. Antes da quebra dos bancos, agentes do mercado financeiro previam novas elevações da taxa básica americana.
Na reunião de fevereiro, a autoridade monetária dos EUA havia reduzido o ritmo do aperto, aumentando a taxa em 0,25 ponto percentual. O Fed vem de oito elevações consecutivas nos juros, e a taxa atualmente está no intervalo entre 4,5% e 4,75%, o maior patamar desde 2007.
Desse modo, Roncaglia acredita que diminui a pressão sobre o Brasil, abrindo-se brechas para que a taxa de juros no país não suba ou até mesmo caia. Na semana que vem, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central brasileiro vai se reunir para discutir a Selic. Levando em conta o baixo crescimento no Brasil e novo o cenário nos EUA, cresce a chance de corte.
“Ter um Banco Central americano subindo menos os juros implica para o Brasil um espaço maior para que o Banco Central brasileiro possa iniciar ou acelerar o processo de corte de juros por aqui”, resumiu o comentarista do ICL Notícias.
Roncaglia ainda ressaltou que seu prognóstico sobre a Selic pode mudar se a crise nos EUA tornar-se sistêmica. Disse também que não se pode ver como essencialmente positiva a quebra de um banco importante na maior e mais influente economia do mundo.
Ainda assim, ele afirmou que a queda de juros no Brasil poderia trazer benefícios em série para o país. Com a Selic mais baixa, a economia tende a crescer mais, estimulando investimentos, gerando mais empregos e mais renda.
Para que esse cenário se concretize, no entanto, o economista-chefe da Opportunity, Marcelo Fonseca, disse ao jornal O Globo que o Fed precisa ter confiança nas medidas adotadas até aqui para conter a crise. “Se o Fed tiver uma confiança de que as medidas adotadas conseguiram estabilizar a corrida bancária nas instituições menores e o preço das ações encontrou um nível de suporte, ele tem condições de manter um nível de altas a 0,25 ponto percentual”, disse Fonseca, que não descarta uma pausa se a percepção de risco crescer.
Além do fechamento das instituições nos EUA, o Fed anunciou, no domingo passado (12), um programa de empréstimo de emergência para oferecer recursos aos bancos, de US$ 25 bilhões, com recursos do Tesouro americano. O governo também assegurou que os depósitos dos clientes do SVB e do Signature estão garantidos, mesmo que ultrapassem o limite previsto pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, agência reguladora), de US$ 250 mil. Ainda, o próprio Fed abriu uma investigação interna sobre sua própria supervisão do SVB.
O presidente Joe Biden também buscou tranquilizar a população ontem, antes da abertura dos mercados. “Os americanos podem ter certeza de que o sistema bancário é seguro. Seus depósitos estarão lá quando vocês precisarem deles”, frisou.
Ele também afirmou que os responsáveis pelos colapsos serão punidos para que isso não volte a se repetir. “No meu governo, ninguém está acima da lei”, enfatizou.
Lembrando que na crise de 2008 e de bilhões de dólares em multas aos bancos envolvidos no colapso que afetou o mundo todo, ninguém foi julgado ou preso.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo e Brasil de Fato