Graças ao desempenho do agronegócio nos últimos meses, a balança comercial brasileira deverá registrar um saldo de US$ 90 bilhões até o fim do ano, o maior desde o início da série histórica, em 1989. Soja, milho e celulose estão entre os produtos que mais cresceram na pauta de exportações brasileiras nos útimos anos.
Do início deste ano até o momento, a balança comercial brasileira vem renovando recordes e já acumula superávit de US$ 62,4 bilhões até agosto, salto de 43% ante o ano anterior. Esses dados sedimentam o papel do Brasil como um grande fornecedor internacional de commodities.
Para reforçar ainda mais o setor, em junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou um volume recorde para o Plano Safra 2023/2024, no valor de R$ 364,22 bilhões. O montante será destinado a apoiar a produção agropecuária nacional de médios e grandes produtores rurais até junho de 2024.
O anúncio do plano vem ao lado de um rearranjo nas cadeias produtivas globais, depois da pandemia de Covid-19, da guerra na Ucrânia e da nova “guerra fria” entre Estados Unidos e China. O Brasil tem sabido aproveitar as brechas abertas na geopolítica mundial.
O superávit é explicado por dois fatores principais: aumento do volume exportado, não de uma elevação dos preços, e queda nas importações.
Somente neste ano, as exportações somaram US$ 224,578 bilhões, estáveis em relação a igual período do ano passado. Já as importações recuaram 10,4%, para US$ 162,168 bilhões.
“A alta (das exportações) está mais associada ao volume, resultado de uma safra recorde de soja e milho safrinha, além de um desempenho bom da indústria extrativa, com as exportações de petróleo”, disse a economista do Itaú Unibanco, Julia Gottlieb, ao jornal O Globo.
Diante dos números, o próprio Itaú refez sua projeção para o superávit da balança comercial brasileira em 2023, elevando-a de US$ 70 bilhões para US$ 80 bilhões.
Ainda mais otimista, a consultoria Tendências, também entrevistada pela reportagem, elevou sua projeção para US$ 93,4 bilhões. Para 2024, ambos estimam saldo positivo em US$ 60 bilhões.
Recentemente, o próprio IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) voltou a revisar para cima a projeção para a safra agrícola brasileira.
A produção de cereais, leguminosas e oleaginosas deve registrar novo recorde, totalizando 313,3 milhões de toneladas. O número representa um salto de 19% ante 2022, ou mais 50,1 milhões de toneladas.
Se confirmada a estimativa, será a primeira vez na História que a safra ficará acima de 300 milhões de toneladas.
Agronegócio: entrada de dólares no país ajuda a manter a inflação sob controle. Mas participação da indústria na pauta de exportações vem caindo
Para a economia como um todo, uma das consequências positivas do aumento do volume exportado pelo agronegócio é o real mais valorizado diante do dólar, o que ajuda a manter a inflação do país sob controle.
Segundo a economista do Itaú, o crescimento do superávit associado ao volume e não ao preço das commodities no mercado internacional é um fator positivo, uma vez que deixa o país menos sujeito às oscilações das cotações.
Por outro lado, a reportagem também destaca que a participação da indústria nas exportações vem caindo.
Ao O Globo, o presidente executivo da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, disse que a participação era 50% em 2000 e, atualmente, está em cerca de 29%.
“A cada US$ 1 bilhão que deixamos de exportar perdemos 30 mil empregos e, nesses 23 anos, perdemos 4 milhões de vagas qualificadas. Na balança comercial de manufaturados, o déficit é crescente”, salientou.
Para buscar saídas ao setor industrial, a CNI (Confederação Nacional da Indústria), em parceria com a AEB, formou uma coalizão empresarial para, em conjunto com o governo brasileiro, renovar o parque industrial.
Enquanto isso não acontece, o país continua colecionando vitórias no setor do agronegócio. O Brasil superou os EUA como maior exportador global de milho neste ano e está prestes a desbancar o país do topo das exportações globais de algodão também. Ainda assim, ocupa o 26º lugar no ranking mundial de países exportadores, segundo dados de O Globo.
No campo das commodities, a Petrobras também tem se destacado. A estatal brasileira vendeu 571 mil barris por dia (mpd) de petróleo ao exterior no primeiro semestre deste ano. É um avanço de 6,3% ante os 537 mil barris diários registrados no mesmo período do ano passado. Esse movimento, contudo, não deve continuar nos próximos meses, diante das expectativas de um crescimento internacional menor.
Sobre as críticas de que o Brasil é um país muito dependente do agronegócio, o sócio da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, lembrou que, ao longo das últimas décadas, os investimentos em tecnologia por parte do setor agropecuário aumentaram, elevando a produtividade.
“Pode haver uma crítica por (a pauta de exportação) se basear nesses produtos primários, mas é isso que gera moeda forte para que o Brasil consiga honrar seus compromissos. O país tem uma indústria de transformação forte, mas que tem problemas de competitividade. Se há algum alento para o segmento industrial é que o Brasil tem avançado em algumas reformas que tendem a melhorar a competitividade”, disse.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo