A alimentação em domicílio pode registrar deflação em 2023 pela primeira vez em seis anos. Na avaliação de economistas, isso deve acontecer devido à baixa nos preços de alimentos in natura e carnes, além da supersafra brasileira de soja e relativa normalização do mercado de trigo. A última vez em que a alimentação no domicílio registrou deflação foi em 2017, de 4,9%.
De acordo com analistas consultados pelo jornal Valor Econômico, nem mesmo a guerra da Rússia contra a Ucrânia – que pode impactar a oferta de alimentos, principalmente depois da decisão russa de não renovar o acordo de uso do Mar Negro pela Ucrânia para escoar grãos – e o fenômeno climático El Niño devem afetar esse cenário para este ano.
Esses efeitos externos, segundo eles, devem ocasionar eventuais efeitos inflacionários em 2024, mas, ainda assim, a inflação dos alimentos deve ser historicamente baixa.
No ano passado, como consequência da pandemia de Covid-19 e a guerra na Europa, os preços da alimentação em casa saltaram 13,2%, mais que o dobro do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que subiu 5,8% no ano.
Para este ano, a projeção mediana do Boletim Focus, do Banco Central, que traz perspectivas do mercado financeiro para a economia brasileira, a alimentação em casa foi de alta de 4,3% no início do ano para 0,9% na última coleta.
Consultadas pela reportagem do Valor, a LCA Consultores projeta ligeira queda de 0,1% para a alimentação, enquanto a Ativa Investimentos espera contração de 0,3%, o Santander, de 0,4%, e a Asset 1, de 0,5%.
Carnes, ovos, gorduras e óleos estão entre os produtos de alimentação que devem registrar deflação este ano
Segundo as estimativas da LCA, devem registrar deflação neste ano óleos e gorduras, tubérculos, raízes e legumes, carnes e aves/ovos. Além disso, a consultoria prevê desaceleração expressiva da alta entre 2022 e 2023 em leites e derivados, panificados, farinhas e massas, hortaliças/verduras e frutas.
Contudo, entrevistado pela reportagem do Valor, Fábio Romão, economista sênior da LCA, explicou que os preços ao produtor no campo, mais voláteis, são repassados aos alimentos industrializados no atacado e desembocam no varejo, e o consumidor pode não sentir todo esse alívio porque, mesmo com quedas ou com a desaceleração nos preços, o nível, que estava muito alto, continua elevado. “É como se tivesse subido uma montanha muito rápido e agora está descendo devagar”, comparou.
Em relação aos preços das carnes, o abate de matrizes em 2022 e a redução nos preços das rações contribuíram para a queda dos preços a partir do segundo semestre de 2022, após a pressão sentida pela alta demanda da China pela carne brasileira, que reduziu a oferta interna, gerando um choque altista nos preços domésticos.
A redução nos preços das rações deve beneficiar também os preços das aves e ovos, segundo a LCA.
Já a supersafra de soja, que contribui para o preço mais baixo do grão, tem como consequência a redução nos preços dos óleos e gorduras.
Por fim, farinhas, massas e panificados foram impactados pela relativa normalização do mercado de trigo, um movimento que, segundo a LCA, ainda deve continuar neste semestre.
Por outro lado, os analistas consultados avaliam que o fenômeno climático El Niño – que, tipicamente, provoca chuvas no Sul do Brasil e mais calor e umidade no centro e no Sudeste do país – pode impactar os preços do arroz, feijão e trigo a partir do fim deste ano e com mais força em 2024.
Redação ICL Economia
Com informações do Valor Econômico