Aumentou a pressão sobre o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que está sob ameaça de deixar o cargo. O imbróglio no comando da estatal teria como pano de fundo uma disputa entre ele e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre projetos e direcionamentos da companhia.
Sob processo de fritura, o CEO da estatal teria pedido uma conversa definitiva com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pois estaria muito incomodado com a sequência de desentendimentos com o ministro Silveira. Prates quer que Lula arbitre o conflito entre ambos. A reunião deve acontecer na próxima segunda-feira (8).
A tensão escalou com a decisão sobre o pagamento de dividendos extraordinários a acionistas. Em março passado, o presidente da petroleira chegou a dizer que a orientação para reter os dividendos extraordinários da companhia tinha partido do governo, maior acionista da empresa pública. Prates defendia distribuir 50% dos recursos extraordinários, mas Silveira e o conselho discordaram diante de discussões sobre o fôlego da estatal para levar investimentos adiante.
O valor, de R$ 43,9 bilhões, refere-se ao quarto trimestre de 2023 e teria sido enviado para um fundo que deve ser usado para remunerar acionistas, mas sem prazo definido de pagamento.
A pá de cal na relação veio com a entrevista concedida por Silveira ao jornal Folha de S.Paulo, na última quarta-feira (3), na qual ele – um ex-delegado de polícia do PSD, que chegou a ser cotado para ser líder do governo Bolsonaro, em 2022, no Senado – admitiu conflito com Prates e afirmou não abrir mão da autoridade.
Segundo informações do colunista Lauro Jardim, em O Globo, Prates também incomodou recentemente integrantes poderosos do governo, incluindo Silveira, que tem apoio de Rui Costa, da Casa Civil, por causa da tramitação do projeto de lei do Combustível do Futuro no Senado. A proposta já foi aprovada na Câmara).
O colunista diz que Prates quer inserir o Diesel R, um produto exclusivo da estatal no projeto, que trata dos percentuais máximos de biodiesel e etanol que podem ser misturados à gasolina e de iniciativas para estimular o uso de combustíveis de baixo carbono no país. Silveira, por sua vez, é contra.
Contudo, Prates teria articulado à revelia do ministro para que a relatoria do projeto fosse entregue ao senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), seu aliado e presidente da Frente Parlamentar de Recursos Naturais e Energia, fundada por Prates.
Cotado para assumir a presidência da Petrobras, Mercadante teria procurado Prates
Ontem, no entanto, ganhou força a notícia de que o governo já estaria cogitando até mesmo um substituto para Prates. O nome cotado é o de Aloizio Mercadante, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O arranjo seria o seguinte: em uma eventual saída de Prates, Mercadante assumiria o comando da Petrobras e, em seu lugar no banco, iria a o ex-ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff e atual diretor de planejamento do BNDES, Nelson Barbosa.
Segundo reportagem de O Globo, Mercadante teria procurado Prates para avisá-lo que não estava por trás de nenhuma operação para tirá-lo do cargo, mas admitiu a sondagem para que ele assuma o comando da empresa.
Além de Mercadante, outros nomes citados para substituir Prates são Clarice Coppetti, diretora de Assuntos Corporativos da estatal, vista como uma solução caseira; Magda Chambriard, ex-diretora da ANP (Agência Nacional de Petróleo); e Bruno Moretti, assessor da Casa Civil.
Outro aspecto seria que o próprio governo tem uma avaliação negativa do estilo de Prates de comandar a estatal. À reportagem de O Globo, aliados dele relataram que o CEO chega para reuniões com posições muito fechadas e costuma dar pouco espaço para mudar suas convicções. Lula costuma opinar sobre as decisões a serem tomadas e gosta quando seus subordinados reavaliam as posições, após discussões internas.
Esse caldeirão borbulhante mexeu ontem com a bolsa brasileira. A Petrobras viveu uma gangorra ao longo do dia, conforme as notícias envolvendo a empresa eram publicadas. No fim do dia, as ações da empresa acabaram em baixa de 1,41%.
O mercado financeiro não teria gostado da possibilidade de Mercadante, considerado da ala mais “radical” do PT, assumir o comando da companhia, que é uma das queridinhas da bolsa.
Por sua vez, Prates tem o apoio da Federação Única dos Petroleiros, entidade sindical com muita influência no governo, e seu nome é mais palatável ao mercado.
Haddad não deve intervir em favor de Prates
Outra notícia que mexeu com a Petrobras ontem é que os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil) acertaram que a estatal pagará os famigerados dividendos extraordinários, que estavam sob análise.
Como o governo é o maior acionista da estatal, seria beneficiado com o pagamento dos dividendos, o que ajudaria na contabilidade de que tanto o ministro da Fazenda precisa para cumprir a meta de zerar o déficit fiscal este ano.
Haddad também não deve arbitrar favoravelmente à permanência de Prates na presidência da Petrobras. Segundo reportagem de O Globo, o ministro da Fazenda já teria indicado a pessoas próximas que não é seu papel se colocar como fiador da permanência dele, que é ex-senador pelo PT, à frente da estatal.
Em reunião na quarta-feira passada no Palácio do Planalto, Rui Costa, Alexandre Silveira e Haddad se alinharam e se mostraram favoráveis à distribuição dos recursos aos acionistas.
A sequência de notícias sobre a estatal levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir processo para investigar “notícias, fatos relevantes e comunicados” relativos à Petrobras. Os autos do processo administrativo estão sob sigilo e não foram divulgadas mais informações. A análise da CVM é um procedimento de praxe.
Em relação aos dividendos extraordinários, o governo ficaria com R$ 12 bilhões dos R$ 43,9 bilhões previstos. Caso a decisão seja de distribuir a metade, o governo ficaria com R$ 6 bilhões. O assunto será levado a Lula.
Prates faz ironia nas redes sobre sua saída
Tentando ignorar seu processo de fritura, Prates postou ontem, em seu perfil no X (ex-Twitter), uma resposta às especulações sobre a sua saída da estatal.
Reproduzindo uma conversa que começa com a pergunta sobre se vai sair da empresa, a resposta foi irônica: “Jean Paul vai sair da Petrobras? Acho que após às 20h02. Vai pra casa jantar…E amanhã às 7h09 ele estará de volta à empresa, pois sempre tem a agenda cheia”, publicou.
No entanto, Prates tem afirmado a interlocutores, nos bastidores, que está cansado dessa disputa e que sua agenda tem sido tomada para responder a Silveira.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo e da CNN