Dentro do rito de seu processo de recuperação judicial, a Americanas entregou à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (25), a lista de credores do rombo bilionário de R$ 41,056 bilhões. Ao todo, são 7.967 nomes, sendo as dívidas maiores contraídas com bancos, sendo os valores mais altos devidos ao Deutsche Bank (US$ 1 bilhão ou cerca de R$ 5,2 bilhões) e ao Bradesco (R$ 4,8 bilhões).
Outros bancos com os quais a rede varejista contraiu dívidas são o Santander Brasil (mais de R$ 3,6 bilhões), BTG Pactual (R$ 3,5 bilhões), BV (R$ 3,3 bilhões), Itaú Unibanco (R$ 2,9 bilhões), Banco do Brasil (R$ 1,3 bilhão), Daycoval (R$ 509 milhões) e Caixa Econômica Federal (R$ 501 milhões).
Ainda na esfera de bancos, a Americanas deve ao Banco ABC Brasil (R$ 415,6 milhões), ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), em um total de R$ 276 milhões, e ao Banco da Amazônia (R$ 103 milhões).
Além de bancos, a Americanas também deve para fornecedores de produtos e serviços, os quais devem ser muito impactados pela crise que se abateu sobre a varejista. Na lista de credores estão empresas de chocolate, como Nestlé e Ferrero Rocher, e da área de tecnologia, como Google, Apple e Facebook.
Porém, essa lista ainda não é a definitiva, uma vez que a empresa não estava preparada para o processo de recuperação judicial. No último dia 19, a empresa ingressou com pedido na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, alegando dívidas de R$ 43 bilhões. No mesmo dia, o juiz Paulo Assed Estefan aceitou o pedido de recuperação judicial e deu prazo de 48 horas para que a empresa apresentasse a lista completa de credores e a discriminação do passivo. Os advogados da empresa pediram extensão do prazo, que acabou hoje.
O escândalo contábil envolvendo a Americanas veio a público em 10 de janeiro, quando foi anunciada a saída do então CEO Sergio Rial, que estava no cargo havia pouco menos de 10 dias no cargo. Na ocasião, foram divulgadas “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões. Mas, com o passar dos dias, descobriu-se que esse valor era maior.
Bancos privados criticam nota explicando o rombo feita pelos bilionários donos da maior fatia da Americanas
No último domingo, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, donos da 3G e detentores da maior fatia da Americanas, vieram pela primeira vez a público, depois que estourou a crise, comentar o assunto. A nota em que se esquivam de qualquer responsabilidade pela ingerência causou indignação nos maiores bancos privados do país, pois os três tentaram jogar na conta dos próprios credores os problemas de caixa da empresa.
O trecho da nota que causou indignação é o seguinte: “Ela (auditoria PwC), por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, afirmou o trio de bilionários.
Um dos que vieram a público manifestar sua indignação foi o Bradesco. “Não compactuamos com alegações que buscam criar narrativas para atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa e, assim, desviar a atenção do problema central, ou seja, a falta de consistência dos números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos seus dirigentes sobre tal fato”, afirmou o banco, em nota divulgada ontem à tarde (24).
O Itaú Unibanco também divulgou nota dizendo que as chamadas cartas de circularização, que são encaminhadas pelos auditores que aprovavam as demonstrações financeiras da companhia, são apenas um instrumento de apoio às auditorias na verificação de informações contábeis. A instituição também chamou de “leviana” a tentativa de atribuir aos bancos responsabilidades sobre práticas irregulares de empresas.
O que se sabe até o momento é que algumas instituições estudam retaliações à Americanas. Ontem mesmo, o Santander pediu à Justiça a suspensão da recuperação judicial obtida semana passada pela varejista, argumentando que “pior já aconteceu”. O banco alega também que a Justiça do Rio não seria o foro apropriado para julgar o caso – que deveria transcorrer em São Paulo, onde a maior parte das decisões da rede é tomada. Também pediu que sejam ouvidos no processo membros do conselho de administração da varejista e dos ex-CEOs Miguel Gutierrez e Sérgio Rial, além de Sicupira e Paulo Alberto Lemann, representante de Lemann no conselho.
O banco Safra também recorreu à Justiça questionando os termos da recuperação, mas seu pedido já foi negado.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias